Pós-BGS 2015 | A noite em que dormi em uma rodoviária

Pós-BGS 2015 | A noite em que dormi em uma rodoviária

23/11/2015 1 Por Diogo Batista

Depois de um dia cansativo e muito divertido na BGS 2015, chegou a hora de voltar para minha casa e andar de metro pela primeira vez.

Inicialmente parecia apenas uma viagem comum de volta para a casa. Porém o meu nervosismo e receio de errar o caminho eram grandes, mas o Marvox  ensinou alguns macetes para não terminar violado em alguma esquina escura.

Depois de encarar uma fila imensa e surpreendentemente rápida para comprar o bilhete único. É chegada a hora da despedida e repassar o caminho a ser percorrido, para não me perder. Subo as escadas rolantes e chego até a catraca com o bilhete em mãos. Olho para todos que estão passa do pela catraca e todos passando cartões… Fico nervoso, começo a transpirar e penso: Onde enfio esse bilhete!

Tento passar por uma outra catraca e ela não vira, abaixo a cabeça e leio uma palavra na catraca: SAÍDA.

O suor desce em minhas costas como se eu tivesse sido atingido por uma repentina chuva de verão. Dou meia volta e começo a cantarolar como se nem tivesse tentado entrar pela saída.  Olho atentamente para todos os presentes como se fosse Keanu Reeves em Matrix. O tempo para e tudo fica em slow, fixo meu olhar em uma tia com papel na mão e a vejo introduzir na catraca.

É ISSO! Estava o tempo todo ali na minha frente o local de introduzir o bilhete!

Estufo o peito e começo a caminhar como se já fosse morador da capital. Passo pela catraca orgulhoso do feito e levo a mão em direção a base para pegar o bilhete de volta, mas nada do bilhete!

Pergunto a uma garota: Meu bilhete ficou preso, o que devo fazer?

Ela gargalha e diz: Não, moço, o bilhete fica na catraca se for unitário, então agora você pode pegar o metro. Agradeço a informação e caminho até a plataforma de cabeça baixa enquanto uma lágrima desliza por minha bochecha.

Oh! Céus! To passando vergonha demais

Uma voz anuncia que não é aconselhável todos se concentrarem em apenas um ponto da plataforma antes de entrar no vagão, e que para maior comodidade que todos se espalhem. Eu fui empurrado para dentro do vagão como gado dentro de um caminhão enquanto pensava: Essa voz não tem moral algum por aqui. Verifico se minhas coisas estão no lugar e sigo até o próximo ponto.

Na nova plataforma o numero de pessoas é menor, dessa vez consigo entrar no vagão caminhando. Olho para a minha frente e tem um jovem beijando e esfregando-se na porta. Tento ignorar o sujeito e noto que o resto do vagão está com a atenção voltado para o amante de portas. Viro o rosto para a frente e vejo que está olhando diretamente em meus olhos. Me sinto violado e o pensamento que vem a mente é: ESSE CARA QUER MEU CORPO!

Eu me senti lisonjeado (não é sempre que alguém me devora com os olhos), então soltei um obrigado mentalmente e agradeci aos céus por chegar logo em minha parada. Sai caminhando tranquilamente até o guichê de bilhetes, aliviado por finalmente aquela aventura estar chegando ao seu fim, e foi então que me deparo com o guichê com as luzes apagadas e uma placa: Caixa fechado.

Cocei a cabeça, respirei lentamente e soltei um grito mentalmente: EU SOU MUITO BURRO!

Tentei não acreditar que realmente estivesse fechado. Talvez o funcionário tivesse ido até o banheiro. Por que não? Nervoso que estava, parei um senhor que se dirigia a plataforma de ônibus e perguntei se demoraria muito para abrirem o guichê. Ele sorriu e disse: Fio, vai abrir só amanhã.

Agradeci e me dirigi a área de espera. Não sabia o que fazer nesse momento, pois sequer tinha dinheiro para pegar outro ônibus e chegar a Campinas ou Sorocaba, que são bem mais próximo de minha cidade. Liguei para todos que conhecia e os comuniquei-os sobre o ocorrido – E o quanto sou burro por não ter conferido os horários de ônibus no terminal. Bem, não havia o que ser feito eu estava preso ao terminal rodoviário e precisaria passar a noite lá.

E CHEGOU A DURA MADRUGADA

Eu sou um cara do interior, nascido e criado na cidade de Itu. É possível contar nos dedos da mão  as vezes que viajei para outros lugares e que em algum momento eu não tenha passado por um cagaço.

Unindo minha experiência em viagens ao fato de que cresci assistindo noticiários na TV, onde assaltos, latrocínios, estupros parecem ser constantes na cidade grande, então a ideia de ser roubado, espancado ou mesmo violentado era uma imagem que não saia da minha cabeça.

Sem opção alguma, e olha que eu pensei em mendigar pra levantar o dinheiro de um outro ônibus, decidi me sentar no chão próximo a uma tomada, para recarregar o celular – Que segurava fortemente na mão – enquanto me comunicava com parentes.

Horas foram se passando e chegou a madrugada. Não havia o que fazer, além de me sentar na poltrona e aguardar. Enquanto estou lá sentado olhando para um monitor sem áudio, algumas pessoas foram obrigadas a se retirar do local. Descobri que ninguém poderia ficar ali a não ser que fosse viajar na manhã seguinte.

Bateu uma certa segurança, mas depois minutos depois o segurança me avisou que se eu vacilasse, outras pessoas poderiam roubar meus pertences, o cagaço voltou. Tomei a decisão de que não iria dormir em hipótese alguma, mas quando se andou tanto e tá cansado feito um cavalo velho, isso não adianta.

Me senti como um SIM tentando se manter acordado ou em pé mesmo sem energia alguma.

Foi uma madrugada triste, dura, quase chorei, mas finalmente ela terminou e pude pegar o maldito ônibus para a cidade de Itu. Nunca fiquei tão feliz por andar em um ônibus, mesmo com um casal chato reclamando dos filhos que foram presos e um senhorzinho que sentou ao meu lado, e que a cada 20 minutos enfiava a mão no bolso

O cansaço era gigantesco, cheguei na rodoviária de Itu acabado, mas com a sensação de dever cumprido.

Espero não precisar dormir em uma rodoviária novamente, mas na próxima escolherei uma que ao menos tenha fliperamas.