Assassin’s Creed | Mantendo as tradição das adaptações ruins
18/01/2017Há algum problema em um cara que não é fã dos games assistir ao filme no qual ele se baseia? Não! Pelo menos é a resposta que costumo receber do público dos filmes de Resident Evil.
Preciso dizer que eu esperava me surpreender, pois fui assistir ao filme com uma expectativa baixíssima. Oras, todos nós sabemos os problemas que adaptações de jogos costumam sofrer. Logo esperava que o filme me surpreendesse com um soco e me chamasse de bicha gorda regada a bolacha de maisena. Só para provar que realmente é possível fazer um filme decente baseado em um jogo.
Infelizmente ele não conseguiu essa proeza e ainda quase me fez dormir em determinados momentos. Só não dormi graças a criançada fazendo barulho na fileira atrás da minha.
Malditas crianças desacompanhadas, como eu as odeio. Continuemos.
O protagonista principal é o Michael Fassbender, só que vou chama-lo de Magneto só para encurtar. Quando criança, Magneto, encontrou sua mãe morta na cozinha e seu pai vestido com um capuz e hidden blades. Aparentemente ele a matou, só que o pai apenas pede para ele fugir, então não dá tempo de saber o que realmente rolou nesse primeiro momento.
Anos se passam e nos deparamos com o Magneto adulto preso em uma cela. No momento ele está desenhando, é possível notar diversos desenhos colado na parede da cela, por sinal não tem importância alguma durante todo o filme. Ah, e ele está prestes a ser executado por injeção letal por ter matado um cafetão. Não é explicado as condições que levaram o Magneto a matar o cafetão. Oras, ele é um assassino, deve ser por isso.
Felizmente Magneto não morreu na mesa de execução, mas sim foi dopado e levado para um dos laboratórios das industrias Abstergo. Lá ele tem contato com a doutora Sophia, responsável pelo Animus. Uma tecnologia capaz de fazer com que o usuário reviva lembranças de seus antepassados via memoria genética. Por sinal Magneto é descendente de um assassino chamado Aguilar de Nerha. Um dos últimos da ordem dos assassinos a ter contato com a Maça do Éden. É oferecido uma nova identidade e liberdade a Magneto caso ele resolva cooperar com os interesses da Abstergo. Também preciso dizer que Abstergo representa os interesses da ordem dos templários. Inimigos declarados da ordem dos assassinos.E seus planos consistem em remover o livre arbítrio dos seres humanos com a maça do éden.
Como podem ver a trama não é ruim, possui algumas referencias ao jogo e ainda acrescenta um personagem original, mas é muito mal executado.
As cenas de ação na qual o foco muda para Aguilar, são realmente boas e todas realizadas com efeitos práticos e muito parkour. É um dos momentos mais divertidos do filme, só que ao mesmo tempo eles não conseguem criar uma certa intimidade com o personagem. Você não dá a mínima para Aguilar ou qualquer outro personagem durante todo o filme.
A doutora Sophia é como a Bela do Crepúsculo, uma porta incapaz de gerar algum tipo de expressão. Ela fala o tempo todo de um modo melancólico e isso me causava irritação e tédio. Eu contava os minutos para que Magneto entrasse logo no maldito animus e voltássemos para Aguilar. Que também não tem carisma alguma.
Há outras pessoas em Abstergo, outras pessoas que também foram introduzidas ao animus por terem suas linhagens ligadas a dos assassinos. Por alguma razão, eles agem como se ainda estivessem fizessem parte da irmandade e até reagem agressivamente quando Magneto chega ao local. Eles querem manter o segredo e temem que Magneto leve a Abstergo direto a maçã.
Quanto a isso eu compreendo, pois a medida que se sincronizam com frequência com seu ancestral, você vai adquirindo suas habilidades e memorias de um modo que afeta fisicamente e psicologicamente o usuário. Só que tudo é tão corrido ao ponto de você não se importar com nenhum personagem. E olha que estamos falando de Michael Fassbender, que é um ótimo ator.
Ele tenta levar o filme nas costas, só que seu roteiro não colabora em nenhum momento. Por exemplo: Spoiler abaixo;
Aguilar possui uma companheira também assassina. Durante uma tentativa de recuperar a maça do éden das mãos dos templários, ela acaba sendo morta. E você sequer vai lembrar dela durante o resto do filme.
O vilão é interpretado por Jeremy Irons, um excelente ator que tem tão pouco tempo na tela que compensaria ter colocado um ator qualquer. Ele no caso é pai da doutora Sophia, e possui uma relação bem rasa com a filha.
Oras, eu estou pegando muito leve com esse filme apenas por não conhecer os jogos, pois no geral é um filme bem mediano. Ele é esteticamente bonito e repleto de cenas legais, só que isso não consegue sustentar a trama, que é bem arrastada e tem um desenrolar que me fez sentir vontade de pedir meu dinheiro de volta.
Há umas cenas em que uma águia paira no ar e tudo mais. É linda de se ver, só que é pura encheção de linguiça, visto que não possui proposito algum. E o filme tem tanta cena descartável. Que fosse inserido mais de Aguilar, assim o público se importaria mais com o personagem e sua missão.
Ah, obviamente alguém vai querer me dizer que o símbolo dos assassinos é a cabeça esquelética de uma águia. É, eu sei.
Agora se tem algo que me chamou a atenção foi o animus. Ficou sensacional a maneira como o adaptaram a tela. A ideia de mostrar Aguilar saltando, pulando e escalando enquanto exibi o Magneto fazendo o mesmo no animus foi genial. Gerou os momentos mais legais do filme, principalmente na última cena dentro da maquina.
Posso dizer que não foi um filme que tenha valido a pena conferir durante a estreia, e fico feliz de ter pago apenas meio ingresso.
São duas horas bem arrastadas e que parece não terminar nunca, pelo menos vale pelas cenas de ações que são longas, então recomendo um café bem forte caso realmente queira assistir. Também se prepare para encarar as crianças pé no saco que foram lá achando que encontraria um filme de super herói.
Assassin’s Creeds tem diversos erros, mas talvez seu maior erro seja o de focar nas cenas de ações para agradar os fãs do game e esquecer de trabalhar um pouco mais na construção do personagem principal e o universo que o cerca. Infelizmente esse filme mantém vivo a tradição de que adaptações de jogos nunca são boas.
Vejamos pelo lado bom, ao menos não foi dirigido por Uwe Boll, caso contrário um lixo.