God of War | Uma análise sem spoilers
09/05/2018 0 Por Tony SantosRecapitulando de leve
Sempre gosto de contextualizar o review com o momento em que joguei a série e acredito que God of War é uma oportunidade quase perfeita pra aplicar esse método de construção de texto, pois todos os jogos se passaram em momentos distintos da minha vida, todos eles bem diferentes em cada ano de lançamento dos 8 jogos da série. Só tem um problema: eu simplesmente NÃO JOGUEI os God of War clássicos, pelo menos não na época em que lançaram.
Confesso que na época do lançamento do primeiro jogo (2005), eu nem pensava em games. Estava estudando das 7h às 18h numa escola técnica e mesmo que eu quisesse jogar, era uma época que eu tinha um elo muito grande com jogos japoneses, e ver um jogo edgy fazendo sucesso, principalmente após a época de sucesso dos JRPGs no PS1, me fazia sentir um pouco de raiva inocente de um garoto de 14 anos que não aceitava ver seus personagens de olhos grandes perderem o foco para um careca com raiva que bate em todo mundo da Grécia.
Por alguma desgraça do destino eu ainda consegui zerá-lo e ver o final onde Kratos se senta no trono como deus da guerra e vê até mesmo guerras futurísticas. Uma doce ilusão pra quem achava que veria um final amarradinho para sua tragédia grega (desculpa).
Em 2007, God of War 2 trouxe melhorias gráficas e de jogabilidade, algo já impensável no hardware piorado do PS2 em relação ao Xbox. Aliás, acredito que em termos técnicos, os jogos mais impressionantes do console foram este, Black e Resident Evil 4. Não tem como não se surpreender com o que a Santa Monica Studios fez com a série.
Infelizmente, como a história já estava amarrada no final do primeiro jogo, a última cena foi desconsiderada e a história deixou de ser sobre uma vingança direta sobre a morte da família de Kratos pra se tornar uma montanha-russa com o panteão de deuses gregos como tema. Não que um jogo de ANDAR E BATER precise de muita história, né? Até porque isso fez pouquíssima falta, com GoW2 vendendo 4,24 milhões de cópias, somente na versão de Playstation 2.
Três anos depois tivemos God of War 3, trazendo as pataquadas de Kratos e suas espadinhas de iô-iô para o universo HD.
Esse foi o primeiro jogo que eu joguei de cabo a rabo sem passar o controle, e com certeza foi uma ótima experiência no PS3. Não consigo dar nenhum destaque além dos seus gráficos e jogabilidade, que aprimoraram tudo que já havia sido feito com excelência no console anterior da Sony.
Aliás, sobre os gráficos, é notório como esse jogo com certeza é o mais grandioso da série, com cenas absurdamente expansivas e que usavam a própria estrutura do cenário de forma modular, como no começo onde você escala a própria Gaia. Este também vendeu que nem remédio pra tosse no inverno e deixou a garotada da Sony feliz demais.
Recomeço
Ignorando completamente o Ascension, jogo feito claramente com um último caça-níquel no já finado PS3, o estúdio Santa Monica percebeu que um jogo onde você só anda e mete-lhe a porrada em tudo e todos não estava mais a altura do que eles poderiam fazer, então começou-se um novo projeto a fim de trazer a série para um novo patamar.
Cory Barlog voltou à direção depois de ficar de fora do fracasso que foi Ascension, assim como boa parte do pessoal que trabalhou no primeiro jogo.
Jogo novo com nome antigo
Nesta nova EMPREITADA — que quase se passou no Egito! — Kratos dá um rolé da Grécia até a fodendo Escandinávia, muitos anos antes dos próprios Vikings existirem. Ou seja, a história de Kratos na Grécia antiga ocorre entre 1300 A.C até 900 A.C, enquanto sua passagem pela mitologia nórdica ocorre essencialmente antes de 943 A.C, ano estimado do início da era dos vikings.
Impressionante como conseguiram manter uma coerência temporal num jogo onde até outro dia tinha mini-game de comer mulher.
Atreus, o moleque maravilha
Um ponto que não toquei até agora foi o novo filho do Kratos (sabe, “novo” porque ele mesmo matou a mulher e a filha anteriores), Atreus.
O garoto não tem uma relação muito boa com o pai, já que Kratos passava mais tempo no boteco tomando um rabo de galo caçando, do que dando atenção pro filho, que aliás lembra muito o Isidro de Berserk em aparência (precisava dizer isso).
LEIAM – Tudo o que Você Precisa Saber sobre Berserk
Sua função no que tange ao jogo em si é de um personagem de suporte, atordoando inimigos e te curando em situações de perigo. Fora de combate, suas flechas ajudam a abrir passagens secretas e ativar certos switches (não o videogame), além de dar dicas de gameplay nas horas em que você fica perdido no mapa, que se assemelha agora a um metroidvania em 3D.
A História
Serei breve, afinal não quero estragar quem queira ter uma experiência completa: alguns anos após efetivamente acabar com o panteão grego, Kratos deixa a Grécia e vai parar em uma região gélida ao norte do mundo.
Lá, somos expostos ao seu filho e a sua esposa, que infelizmente ESTAVA MORTA. Mas dessa vez, a causa não foi o próprio esposo bêbado puto e cego pela fúria, e sim um troll que atacou sua cabana e a matou.
Kratos então leva o filho pra caçar enquanto sua esposa é cremada, e assim começa sua primeira experiência pelo jogo.
Ao longo da história, você entra em contato com diversas… situações da mitologia nórdica, como por exemplo os nove reinos, que se interpõem e podem ser acessados através de um lago no centro do mundo a ser explorado.
Gameplay
Alguns chatinhos de plantão se perguntaram o motivo dessa iteração não se chamar God of War 4 (ou “IIII”, se fosse feito pela Activision). Bem, primeiro que seria um nome estúpido. Segundo: é um novo começo realmente.
Esqueça tudo sobre fazer combos com quadrado e triângulo, esquivar com o analógico da direita, quick-time events (ok, esse ainda existe de leve).
Agora Kratos está velho e pesado, sendo assim, não existe mais botão de pulo. Toda aquela mecânica de recolher “almas” vermelhas pra comprar habilidades foi pro espaço também. Agora seu personagem ganha EXP e dinheiro, que servem pra comprar as skills e armaduras, respectivamente.
Ah, e a mudança mais notável no combate é que as Blades of Chaos/Athena se foram e Kratos agora usa um machado que vai e vem igual pele de pica, mudando de vez a dinâmica do combate, agora muito mais cadenciado e com algumas inspirações na série Souls, como ataques no R1 e R2 e padrões de ataques mais definidos dos inimigos, porém bem menos cruel para com pessoas menos dotadas de tempo livre.
Existem diversas sidequests que sempre são relevantes para a história, que apesar de não serem muitas (menos de 20), são relevantes e não dão a impressão de ser filler.
É interessante notar que todo o gameplay ocorre sem cortes de cena, com loadings muito bem escondidos. Como já dito em relação ao combate, ele se parece muito mais com uma versão mais acelerada e mais fácil de Bloodborne.
Um ponto verdadeiramente negativo é o sistema de equipamentos e customização, onde complicaram demais algo que deveria ser mais simples. Existem muitos status diferentes que mudam pouco a experiência, além de equipamentos que possuem características, funções e nomes parecidos (encantamentos, acessórios, runas), que poderiam ser simplificados sem que causasse alteração alguma no jogo.
O texto em tela também é muito pequeno, principalmente no bestiário, que é escrito pelo próprio filho do Kratos.
O destaque da tradução em português é a própria dublagem, com ótimas escolhas de vozes, composta somente por dubladores que residem no território brasileiro e que são conhecidos de outros trabalhos em filmes, dando destaque a Ricardo Juarez (Johnny Bravo, narrador em Digimon) como Kratos, repetindo o personagem que havia dublado em Ascension. Lipe Volpato, relativamente novo em dublagem, mas que já tinha feito o Child Emperor em One-Punch Man, faz um Atreus com muita qualidade, sem deixar o personagem irritante
Finalizando
Confesso que de vez em quando (quase sempre?!) a imprensa games dá uma exagerada e inflada na avaliação de certos jogos. A verdade é que esses caras, seja aqui ou na gringa, não passam de jogadores com bons empregos e assim como nós, não conseguem esconder a empolgação quando sai algo de uma franquia ou produtor que eles gostam.
Ouso dizer que “God of War 2018 videogame” (segundo a Wikipedia) realmente faz jus às suas expectativas. Um jogo produzido por tanto tempo não teria como não ter o mínimo de valor, mas acredito que ele supera muito o que qualquer pessoa esperaria de mais um jogo da franquia.
Não importa o que você pense sobre a série, God of War (2018) é um ótimo game por si só, com uma história e jogabilidade competentes, rendendo até sessenta horas pelo menos, contando que você queira completar tudo que ele tem a oferecer.
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Esse review foi feito com uma versão do jogo paga do meu bolso.
Sobre o Autor
Proto-engenheiro eletricista, amante dos bons jogos e crítico incondicional de coisas que eu não gosto.