Sega Heroes | O Candy Crush do Sonic
20/12/2018
– O mundo dos gachas
Sei que não é todo mundo que é familiarizado com o universo louco dos jogos de celular, principalmente os japoneses. Lá, o gênero mais popular é o dos “gachas“, que têm esse nome por ter uma mecânica de ganhar prêmios aleatórios através do gasto de dinheiro (ou equivalente), similar ao modo como funcionam aquelas maquinas de bichinhos da SNK com a foto da boneca Licca-chan no fundo ou da Athena (sim, você já viu várias dela em bares e shopping nos anos 90 e 2000).
Tal método é utilizado em jogos mobile da seguinte forma: quer um personagem novo? Gaste suas “gemas” pra girar uma roleta que TALVEZ lhe dê o personagem em questão. Essas gemas podem ter várias formas dependendo do jogo, como joias, moedas verdes da Fazenda Feliz do Orkut ou qualquer outra coisa que aparente ter mais valor intrínseco do que as moedas comuns. Essas normalmente só são conseguidas através da compra com dinheiro real, e é isso que faz a indústria de gachas ser mais lucrativa que a de games normais.
É um sistema BEM controverso, mas conversando no Twitter com os famigerados JOVENS®, percebo que jogos como Fate GO e Dragalia Lost — este último da Nintendo — fazem um belo sucesso, e não parece que jogadores mais novos se importam com isso.
– A Sega e seus jogos de celular
Antes de explanar como o formato de gacha se aplica ao Sega Heroes, é legal lembrar do histórico da Sega no mobile. Das empresas de games tradicionais, ela e a SNK são as que estão há mais tempo investindo na plataforma. Porém, diferentemente da empresa de jogos de luta, a Sega não costuma lançar apenas os jogos clássicos com adaptações para touch, e sim produzir coisas novas, como os antigos Sonic Jump que foram muito populares na era pré-smartphone e o MARAVILHOSO Crazy Taxi City Rush, este talvez sendo até hoje o melhor jogo mobile feito (ou financiado) por ela.
Como de costume, a própria Sega não costuma sujar as mãos pra passar seus jogos para o celular, então o Sega Heroes ficou nas mãos da americana Demiurge Studios, uma empresa que antes independente, ajudou em outros jogos mobile e alguns ports de jogos como Rock Band: Green Day e Mass Effect, mas que foi recentemente comprada pela Sega e bem, agora faz jogos de celular pra eles.
– Apresentação
Dizer que se trata de uma empresa americana fazendo jogos da Sega não quer dizer absolutamente PATAVINAS, visto que muitos jogos clássicos dela foram produzidos nos EUA, como Sonic 2 e 3, por exemplo.
Posto isso, infelizmente dessa vez nota-se que a Demiurge decidiu abraçar um estilo de arte um pouco… desagradável aos olhos de um ser humano normal que não foi criado com um tablet na mão. Os personagens clássicos da Sega, principalmente os humanos como os protagonistas de Streets of Rage e Golden Axe, possuem uma forma cabeçuda e caricata, beirando a uma paródia de um cubismo da puta que o pariu. E é uma pena, pois dado o possível público-alvo desse jogo (pessoas mais velhas e nostálgicas), acho que caberia muito mais tomar um approach mais nintendístico e simplesmente usar os sprites originais dos jogos, que ainda que discrepantes entre si, não seriam esse show de horror de bonecos cabeçudos animados em algo similar ao Macromedia Flash MX 2004. Até mesmo os personagens mais caricatos, como os da série Sonic possuem uma certa estranheza em seu visual.
É uma pena isso pois a aparência geral dos personagens mascara a qualidade real do jogo e me afastou por umas semanas dele, isso porque é de graça. Imagina se fosse pago? A primeira impressão é a que conta, não é.
– Jogabilidade
Tirando toda a parte ruim que expliquei durante os gigantescos parágrafos acima, notem que eu GOSTO do jogo. Depois que você supera a horrível caracterização dos personagens, temos um sólido jogo para se jogar na fila do banco (alguém ainda enfrenta FILA no banco?) ou no transporte público, ainda mais que ele só pede conexão com internet quando você abre o aplicativo, podendo ser aproveitado até mesmo nos mais profundos túneis do metrô da sua cidade ou no meio do mato, caso você seja um capial e/ou boia-fria.
O gameplay consiste em um clássico Candy Crush, com 5 tipos diferentes de joias a serem destruídas ao se juntar 3 ou mais da mesma cor. Você escolhe 4 heróis de diferentes jogos da Sega, e cada um deles têm uma cor atribuída: Sonic é azul, Death Adler é Amarelo, Knuckles é vermelho e por aí vai. Ao quebrar três ou mais joias iguais, o herói em questão ataca um dos inimigos. O jogo funciona como seguidas batalhas de RPG, sendo bem rápidas e prazerosas. Ainda existem as gemas neutras, que servem para aumentar o poder de ataque de toda sua equipe durante a fase. Nunca deixe de quebrá-las de vez em quando!
Apesar de seu gameplay se manter o mesmo, existem diversos modos de jogo:
Campanha: onde a progressão é linear por fases;
Arena: basicamente o modo ranqueado do jogo, onde você enfrenta a party de outros jogadores. Não é em tempo real;
Sobrevivência: onde você deve passar pelo maior número de fases sem recuperar seu HP. É talvez o modo mais desafiador e eu simplesmente não consegui completar a primeira leva de 10 fases por não ter os melhores personagens ainda;
Além da Piração: esse modo com nome estúpido define quais bonecos você pode usar em cada fase. É difícil mas te motiva a melhorar todos os seus personagens por igual ao invés de escolher só os melhores de cada cor.
Eu falei acima sobre “melhorar” os personagens, e talvez seja a coisa mais enjoada do jogo. Você ganha prêmios ao passar das fases, como dinheiro, gemas e “tokens” de personagens. Esses tokens servem para evoluir ou desbloquear novos bonecos. Exemplo: o Sonic necessita de 50 tokens para ser desbloqueado e mais 50 para evoluir e ficar mais forte, só que por ser um personagem diferenciado, você só consegue essas fichas com conquistas in-game. Demorei uma semaninha jogando bem pouco para abrí-lo, então não foi tão cansativo. Já outros necessitam de mais ou menos esforço, mas raramente você vai se sentir prejudicado por não ter boneco X ou Y, já que muitos outros são abertos naturalmente e não possuem desvantagens.
O grande problema desse modo de tokens é que ele minimiza as conquistas do jogador e seu dinheiro. Veja: se em outros gachas é possível simplesmente comprar personagens, ainda que você não os escolha, aqui no máximo você ganha TOKENS que AOS POUCOS vão abrir outros bonequinhos, tornando o processo tão moroso quanto esperar na fila dos Correios com aquela senha de letra e números que eles te dão e nunca parecem chamar na ordem certa.
– Conclusão
Com seus personagens feios de doer mas com jogabilidade excelente e funcionalidade paga razoável, Sega Heroes é uma ótima opção para quem não tem mais nem vontade de abrir o whatsapp pra ouvir áudios de 3:12 minutos daquele seu amigo que tem preguiça de digitar porque está “na correria”. Ignore seus parentes e fique por pelo menos meia-hora diária enchendo os personagens da Sega de porrada sem motivo algum pelo simples prazer de juntar joias coloridas e vê-las quebrando com um efeito que talvez dê um pouco de lag no celular, mas só se ele for bem antigo. Talvez esteja na hora de trocar por um novo hein? Só dizendo.