Final Fantasy X HD Remaster | Porque você ainda deve jogar nos dias de hoje

Final Fantasy X HD Remaster | Porque você ainda deve jogar nos dias de hoje

24/05/2019 0 Por Tony Santos

“Ouça minha história. Essa pode ser nossa última chance”


E é com essa frase aparentemente sem sentido que Tidus, nosso protagonista, nos cumprimenta na cena de abertura do jogo, ao lado de um grupo de personagens que viriam a ser seus companheiros de batalha.


Minha relação com Final Fantasy X foi igual a de um relacionamento à distância que nunca vai à lugar nenhum. Conheci o jogo graças a meu amigo Alexis, que me apresentou uns vídeos de gameplay filmados de um telão, com muitas pessoas gritando enquanto Tidus — o protagonista loiro — andava pelo mapa do início do jogo e enfrentava algumas batalhas aleatórias.



À época, eu estava afastado das novidades dos games; em 2001 eu tinha meros 10 anos e ainda jogava meu PS1, que ainda recebia lançamentos importantes como Mega Man X5, Tony Hawk’s Pro Skater 3 e Time Crisis: Project Titan. Logicamente, depois de anos acostumado com os gráficos serrilhados deste console, ver a fluidez gráfica desse Final Fantasy novo foi algo além da minha compreensão.

Saí da casa do meu amigo e fui contar pro meu pai sobre o que vi: “Pai, tem um jogo novo que você joga o tempo todo em CG!” — Disse eu, numa inocência e vocabulário dignos de um jogador de videogame que cresceu nos anos 90. Na mesma época saiu também uma revista especializada — não lembro se era EGM Brasil ou outra — com o rosto do Tidus na capa em destaque, com o texto: “Esse personagem não é real”, e pra nossa realidade realmente era o que parecia: uma pessoa de verdade aparecendo em um jogo de videogame que até outro dia eram no máximo alguns polígonos tortos.



Infelizmente, assim como um namoro à distância como falei linhas acima, meu relacionamento com FFX ficou só na vontade. Só pude ter um PlayStation 2 incríveis cinco anos depois de seu lançamento. Em 2006 eu tive outros interesses, como Guitar Hero e Dragon Ball Tenkaichi. Sei lá, talvez a complexidade dos JRPGS fosse muito para um jovem que estudava em período integral. Ainda assim, fui atrás do jogo. Joguei em sua versão international, com o famigerado “Expert Sphere Grid” . Sabe o que é isso? Eu não sabia! Mas pareceu ser algo melhor. E eu nem sabia o que era um sphere grid.


Aos trancos e barrancos – e após fazer muita merda como dar black magics para o Tidus graças ao sphere grid expert – consegui chegar na última área do jogo eeeeee…. não zerei. E dropei. Triste fim da história. Pelo menos por um tempo.

Remasterização de qualidade


Em dezembro de 2013, foi lançada para PS3 e Vita um remaster do jogo (e de sua continuação, FFX-2). Tudo presente no original está nessa versão. A Square-Enix fez um ótimo trabalho em guardar o código-fonte do jogo original, coisa que não havia feito com Kingdom Hearts e Final Fantasy VIII (e possivelmente Chrono Cross), o que ajudou bastante a equipe que fez o port.


Todos as “CGs” estão em HD, e o jogo em si roda em escala 16:9, sem cortes nas laterais ou no topo. Além disso, alguns efeitos visuais, textura e principalmente modelos de personagens foram atualizados, sem a famigerada “tremedeira” que deixava os protagonistas com parkinson mesmo em cutscenes mais sentimentais ou lentas. Além disso, temos o Eternal Calm, uma longa cutscene feita com os gráficos do jogo que serve como base para o X-2, a continuação desnecessária que nem vamos abordar aqui.


Como se já não bastasse tudo isso, a versão de PC (Steam) possui auto-battle e a possibilidade de deixar o jogo em velocidade X2 ou X4, sem modificar a trilha sonora, o que pode ajudar muito no grind altamente necessário lá pro fim do jogo.


A História


Final Fantasy X começa com Tidus, um goleador de um esporte maluco chamado blitzball, sendo sugado no meio de um jogo por um portal durante um ataque de uma espécie de baleia gigante que causa um tsunami na cidade em que ele mora.


Após alguns problemas, nosso protag nota que está em um continente estranho chamado Spira, e é salvo por Wakka e Lulu, dois moradores de uma ilha bem pacata e diferente da cidade enorme em que ele vivia. Mas o descanso não dura muito, pois os dois estão se preparando para uma viagem de peregrinação, pois são guardiões da menina Yuna, uma sacerdotisa designada à proteger o continente de um mal chamado ‘Sin‘.


Tidus, sem o que fazer e com nenhuma ideia de como voltar pra sua casa, acabaa acompanhando o grupo durante essa peregrinação, e aos poucos vai aprendendo sobre cada um de seus companheiros de viagem, sem saber o que o destino lhe reserva.


O Design 


Diferentemente dos jogos da série anteriores a ele onde a temática sempre era um mundo ocidental, seja medieval como do I ao VI e IX ou moderna como em VII e VIII, aqui em Final Fantasy X temos uma história com muitas influências orientais, com muita inspiração em áreas litorâneas do arquipélago japonês, como a ilha de Okinawa. Toda a arte e indumentária dos personagens é inspirada em pontos culturais orientais, como a roupa bem praiana de Tidus e Wakka e o yukata (kimono de verão) de Yuna. Logicamente não seria um jogo da Square se alguns outros personagens destoassem completamente da arte proposta, como é o caso do vestido gótico de Lulu ou do semi-pelado Kimahri, personagem da única tribo de animais antropomórficos do jogo.

Ainda assim, temos contraste em algumas áreas bem tecnológicas, como a nave de Cid e a base da tribo Al Bhed. Em alguns momentos também exploramos cidades, bem grandiosas nas cutscenes mas que não passam a mesma impressão durante o gameplay em si.


De modo geral, o jogo todo é muito bonito e o universo criado pra ele fica ainda mais bonito em alta definição.


Prós e Contras de um jogo de 2001


Por ser um jogo cujo desenvolvimento se iniciou no SÉCULO PASSADO, muitas de suas escolhas de design deixam a desejar para os padrões de hoje em dia. Mesmo que você seja um ~pro-gamer~, não pense que os problemas são relacionados a dificuldade. Sim, ela tem um pico gigante mais pro final — nada que umas horinhas de grind da maneira certa não resolvam — mas os problemas são outros.


A linearidade de modo geral é muito clara. Durante boa parte do jogo você anda por corredores enfrentando batalhas aleatórias, com alguns desvios mas que infelizmente só se abrem na reta final. Inclusive aqui nós não temos mundo aberto, apenas uma lista dos ambientes que você já passou e que podem ser acessados com a nave do Cid.


De bom, temos a possibilidade de trocar os personagens da party no meio da batalha, uma boa adição que à época era muito pedida pelos jogadores. Por outro lado, o equilíbrio não é o forte aqui: suas habilidades especiais são muito interessantes, como dar diversos status para os inimigos, porém a grande maioria dos chefes e minichefes são imunes a elas, fazendo com que as batalhas contra eles não tenham muita abertura para o improviso. Se o diretor do jogo imaginou um boss que deva ser enfrentando usando magias de fogo, ele provavelmente vai ser imune a todas as outras coisas. Isso deixa o combate frustrante de certa forma, pois somente os inimigos mais fracos aceitam mais possibilidades de estratégia, porém é mais fácil simplesmente baixar a porrada em todos e terminar o encontro mais rápido.


De qualquer forma, se você estiver no level certo para uma determinada área nada fica frustrante, tirando alguns inimigos que exigem um pouco de tentativa e erro até descobrir sua fraqueza. Mesmo com esses poréns, a experiência geral das lutas é positiva.



Já os menus e sistemas são bem simples. Aqui não temos níveis propriamente definidos, apenas pontos de experiencia que podem ser gastos em um tabuleiro. Cada passo dado no sphere grid (olha aí!) equivale a um level, mas se estiver usando o já citado expert sphere grid, existem mais caminhos no tabuleiro a serem seguidos, e o jogador não experiente pode acabar fazendo merda e acabar levando o personagem a aprender golpes ou melhorar status que não condizem com sua classe. Eu fiz isso na primeira vez que joguei e basicamente estraguei meu save.


Outro fator diferentão do jogo é que a maioria das armas não possuem necessariamente aumentos de status (como ataque ou magia). Todas elas têm apenas modificadores, como imunidade a algum tipo de magia, sensor — que permite ver o HP inimigo — e talvez aí algum aumento em algum status do usuário, mas não é obrigatório. Seu poder de ataque invariavelmente vai depender mais do próprio personagem do que da arma que estiver usando.

As invocações (summons) também estão presentes e são de uso exclusivo de Yuna, a que tem o papel da maga branca do rolê. Quando invocados, esses monstros ocupam o lugar da party até serem chamados de volta ou morrerem. Nesse caso, eles ficam inutilizáveis até o próximo save point. Funcionam bem em batalhas contra alguns chefes, mas pela demora de suas cutscenes, fica chato chamá-los em batalhas normais.


Trilha Sonora


A trilha sonora de Nobuo Uematsu é um verdadeiro show, porém não tão marcante como a de FFVII, com menos músicas de destaque, mas todas muito boas. Temos grandes temas, como “To Zanarkand”, que toca na abertura do jogo, o “Battle Theme”, a canção que você mais vai ouvir durante o gameplay e algumas músicas cantadas como “Suteki da Ne” e “Otherworld”, tema estilo metal feito para pai do Tidus. São ótimas músicas que merecem ser ouvidas mesmo fora de contexto.







Conclusão


Final Fantasy X não leva esse nome à toa. Podem falar o que quiser, mas mesmo com algumas iterações fracas, a série sempre está acima do nível e sempre rende ótimos jogos. Em 2001, a Square ainda estava no seu auge, e sua primeira empreitada no PS2 foi muito boa, mesmo que com algumas falhas aqui e ali, o jogo nunca deixa cair a peteca, até durante a curva de dificuldade absurda no finalzinho.


Com o HD Remaster já lançado faz alguns anos e agora relançado para Switch, PS4 e XONE, eu recomendo fortemente que você abrace a história de Tidus e dê a ele uma última chance de mostrar porque seu nome ainda é tão popular entre os fãs de JRPG.

Ah, eu finalmente terminei o jogo. Dezoito anos depois de conhecê-lo. Sempre há tempo pra revisitar algo perdido =).