Clockwork Aquario | Analise

Clockwork Aquario | Analise

15/12/2021 0 Por Aleskis

Deixados para trás

Em todos esses anos consumindo mídias “videogamísticas” e esperando por lançamentos de jogos que nunca nem se quer viram a luz do dia, venho refletindo na quantidade de games cancelados nas ultimas 3 décadas (eu vivo entregando minha idade).

Tem aí uma porrada de jogo que com certeza você já viu sendo anunciado em algum evento ou conferencia, e que ressoa na sua cabeça ano após ano, sempre vindo a memória daquela demonstração que você achava a melhor coisa do mundo na época.

Eu posso dar um exemplo que sempre vem muito claro na minha cabeça, um jogo de ação e tiroteio em terceira pessoa que estava sendo desenvolvido supostamente para PlayStation 3, com gráficos impressionantes, movimentação dos personagens muito bem articuladas, de um jeito que me fez pensar nas palavras “parece até real” por bastante tempo.

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O nome do jogo era Eight Days, e vendo atualmente o trailer dá pra perceber que era aquele CGI bem safado digno daquela propaganda da Coca-Cola. E sim, hoje em dia o que não faltam são jogos com base em “realismo” como o dessa demonstração.

Esse é só um de muitos outros jogos que já tinham sido pelo menos conceitualizados e mostrados ao público, mas que nunca tiveram seu desenvolvimento concluído.

De cabeça me vem muitos outros tipos aquele Deep Down da Capcom que já virou meme, todo ano alguém lembra dessa porcaria. Glover 2 é outro que me vem a memória, que inclusive existe um protótipo jogável, gostaria que alguém colocasse a mão nessa IP e dessem uma continuidade no desenvolvimento dele.

Capturas do PS4/ ININ Games

Em tempos mais primórdios

O que é meio que o caso do Clockwork Aquario. Ele é um daqueles games que provavelmente você nunca ouviu falar, mas assim que vê pela primeira vez ele aparenta familiar, como um jogo que você cresceu jogando no seu Mega Drive ou Super Nintendo.

Ele foi consumado pelo estúdio japonês Westone que é provavelmente mais reconhecido pelo desenvolvimento dos jogos da série WonderBoy/ MonsterWorld, famosamente reconhecido por todo brasileiro como Turma da Mônica no Castelo do Dragão.

Clockwork Aquario é um daqueles casos de “o jogo certo no momento errado”. Foi um desenvolvimento em que a Westone queria lançar seu último jogo para fliper e puxar os limites da placa Sega System 18 dos arcades (placa que deu a vida a jogos como Fantasy Zone, Altered Beast e Shadow Dancer) que no final de sua produção, tipo literalmente o negócio já estava pronto, teve seu lançamento cancelado devido as demandas do mercado a jogos de luta na época (1993/94).

Capturas do PS4/ ININ Games

E nesse limbo ele ficou por quase 30 anos, até que uma empresa Alemã chamada Strictly Limited Games compraram os direitos sobre o jogo e juntamente com a ININ Games e antigos membros do desenvolvimento de Clockwork Aquario tiveram mais essa chance de terminar o jogo e ter um lançamento oficial.

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Eu gosto dessas histórias de jogos que sumiram e reaparecem de surpresa, e mesmo que no final o jogo não seja uma obra prima, vale mais pela preservação e acessibilidade desses produtos que simplesmente caem no esquecimento, por isso é muito importante que sempre tenha alguém disposto a correr atrás disso, então parabéns a todos os envolvidos.

Capturas do PS4/ ININ Games

Simplicidade e Nostalgia

Sobre o jogo em questão, Clockwork Aquario é puro charme. Sua estética de anime dos anos 90 me faz lembrar de algum desenho que passaria facilmente no Sábado Animado, as trilhas também ajudam a dar esse sentimento bem animado pro jogo além dos cenários super coloridos com um monte de camadas e inimigos bem cartunesco, da pra ver que o jogo é puro good vibes.

No jogo, você pode escolher controlar entre 3 personagens, Huck Londo, Elle Moon e o robô Gush numa jornada para acabar com os planos do Dr. Hangyo de dominar o mundo. Assim a trupe segue para a base inimiga que fica num mundo submerso onde você tem que passar por 5 estágios para concluir o jogo.

Toda temática do jogo é baseada no fundo do mar (ou em um aquário se preferir), então os inimigos são bichos que você veria em baixo d’água, peixes, estrelas do mar, enguias, conchas, mas todos modificados provavelmente pelo Dr. Hangyo para serem maquinas de matar crianças. E como essas ditas crianças enfrentam essa variedade de inimigos? Dando tabefes na cara deles, pulando em cima, dando cabeçada e tacando uns contra os outros!

Capturas do PS4/ ININ Games

Nesse quesito jogabilidade, ele lembra um pouco Mario Bros 2 com sensibilidades de jogos de arcade. Ele é estilo plataforma 2D bem básico, sem nada muito desafiador, com inimigos pra atrapalhar seu avanço. E como já dito, os meios de lidar com os bichos são os que já mencionei, então digamos que você pula em cima de um como se estivesse jogando Mario mesmo, isso acaba deixando o inimigo atordoado e aí que surgem duas opções.

Você pode pular de novo e matar de vez ele, ou pegar ele pra tacar em outro bicho aumentando a quantidade de pontuação que ganha.

Todas as outras formas de ataque mencionadas deixam os inimigos paralisados também, mas isso gera um pequeno risco principalmente se você depender muito do tapa, já que ele tem um alcance muito curto, é fácil demais de errar a distância e encostar no bicho, te deixando vulnerável.

Quando você toma dano, o jogo funciona com a regra dos dois toques, que é a de te matar se tomar dois danos, mas diferente de Ghouls N’ Ghosts e te deixar só de cueca como o Sir Arthur, os personagens aqui ficam com as roupas rasgadas e descabelados, no caso do robô ele fica com uma aparência mais destruída, e o jeito de se recuperar desse estado ou é perdendo uma vida e voltando pro jogo, ou encontrando poções que alguns inimigos deixam, elas recuperam a energia do personagem voltando ao estado normal.

Clockwork Aquario

Capturas do PS4/ ININ Games

Uma experiência sem desafio

Existem também as estrelinhas que te dão um momento de invencibilidade, e que te permitem tacar projeteis em formas de estrela, essas eliminam os inimigos de vez, o que ajuda bastante principalmente contra chefes, esses que tem sua variedade e padrões, mas por se tratar de um jogo de arcade portado pra consoles, meio que perde um pouco a onipotência desses encontros.

Tipo, os desenvolvedores criaram uns níveis de dificuldade pra essa versão e cada um tem uma quantidade exata de “continues” sendo a Easy a que tem a quantidade máxima de “fichas” (9) e a Hard com apenas 3.

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Você começa com duas vidas por ficha, e se você jogar direitinho, ainda ganha mais vidas dependendo da sua pontuação durante a fase, daí quando você chega no chefe, ele tem uma barra de energia enorme que você pode ir seguindo os padrões dele, desviar de suas investidas e tacar as coisas que ele joga pra cima do seu boneco, ou você pode simplesmente morrer e largar seu boneco em cima do chefe e ficar pulando até matar ele. E dá pra fazer isso em quase todos tirando o ultimo chefe que não tem como dar dano sem acertar o timing.

Por isso eu digo que esse jogo com a quantidade certa de fichas daria pra zerar num fliperama de verdade facilmente.

Clockwork Aquario

Capturas do PS4/ ININ Games

Não esqueçam os meus rabiscos!

Uma coisa que eu reclamei na minha analise anterior sobre o port de Gynoug, era o fato de não ter nada de novo além do jogo base, existiam as opções de ajuste de tela, filtros e coisas que você esperaria de um jogo velho emulado em console, mas a falta de uma galeria de arte e manual digital me fizeram questionar o por que de uma pessoa querer comprar isso sem ter pelo menos um bônus.

Em Clockwork Aquario não temos um manual, até porque era um jogo original de fliper, mas tem artwork de desenvolvimento! Pouco, mas tem! Pelo menos o suficiente pra me deixar satisfeito. Artes conceituais do trio que já eram bem definidas com o design final e até algumas imitando o estilo original.

Existe também um sound test no jogo pra você balançar os quadris varrendo a casa enquanto escuta essa trilha simpática, mas tem também uma versão remix das musicas que são muito boas.

Eu só não entendi por que que não da pra colocar essa versão enquanto joga. Pelo menos eu não achei em nenhum lugar uma opção de como escolher a versão remixada pra jogar, então tive que me conter só em escutar mesmo.

Clockwork Aquario

Capturas do PS4/ ININ Games

Conclusão

Seguindo essa onda de relançamentos e lançamentos de jogos esquecidos, eu considero esse port de Clockwork Aquario excelente!

Não só trouxeram um jogo que foi esquecido pela falta de interesse na época, como também deram pelo menos um trato nos extras pra justificar um lançamento atual.

O jogo em si não é uma das mil maravilhas, ele é simples, mas charmoso. Da pra jogar pra 2 (coisa que não fiz pois não tenho amigos) e os chefes tem visuais legais, mas são fáceis de quebrar.

Por ser um jogo de plataforma casou perfeitamente em ser lançado para consoles hoje em dia. De verdade eu teria uma versão física desse jogo só pela raridade que ele vai se tornar nos próximos anos.

Esse com certeza é o melhor exemplo de “antes tarde do que nunca” que eu já vi.


Essa análise foi feita com uma cópia digital de PlayStation 4 gentilmente cedida pela ININ Games.