Music Racer: Ultimate | Corrida epiléptica dispensável
10/03/2022Minha paixão por jogos musicais não veio do “boom” de Dance Dance Revolution nos shoppings no fim dos anos 90/começo dos anos 2000, ou da onda de Pump it Up, apesar de eu ter jogado a primeira versão de Stepmania lá em 2002, 2003.
Eu comecei a me interessar levemente no gênero, graças a emulação de Game Boy Color, onde eu podia jogar os DDR portáteis sem ser julgado. Mas a parada pegou mesmo quando adquiri meu Nintendo DS, e pude jogar tudo que era jogo musical na palma da mão.
Ouendan, Taiko no Tatsujin, até mesmo alguns jogos menos usuais, feito Jam with the Band, que era bem difícil de entender como se jogava, e algumas versões portáteis de jogos maiores, feito Band Hero, Rock Band 3 e Rock Revolution (esse aqui era uma desgraça).
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No PC, eu voltei a me divertir por um bom tempo com o excelente Audiosurf. O que deixava o Audiosurf legal, era que você podia pegar qualquer MP3 que você possuía, e o jogo convertia em uma faixa jogável, sem a bullshit dos hacks de Guitar Hero com musicas que só possuíam a dificuldade expert e notas que não faziam sentido algum.
Não, não to criticando clone hero, de fato ele é uma excelente alternativa, to falando dos hacks/mods lançados pro PS2 que você encontrava nas barraquinhas de 3 por 10.
Mas enfim, Audiosurf, divertido pra caralho. Não sei como ficou o Audiosurf 2 porque saiu quando eu já tava cagando e andando pra PC gaming. Em 2018, a desenvolvedora AbstractArt lançou para PC, Music Racer, jogo na mesma pegada do Audiosurf, mas ao invés de ser apenas um bloco rítmico, como em Audiosurf, o jogador controlava um carro (com outros desbloqueáveis) e ele tinha uma vibe de Retro Neon.
Em 2020, o jogo chegava aos consoles. E agora, em 2022, chega aos consoles, uma nova versão de Music Racer, com as atualizações mais recentes da versão de PC, no caso da trilha customizável. Será que Music Racer Ultimate vale a pena o título de Ultimate, ou é apenas um qualquer?
Como Audiosurf, só que menos responsivo
O core de Music Racer: Ultimate é simples, escolha um carro (há uns 2 ou 3 disponíveis de cara), uma das pistas iniciais (há duas logo de cara), uma música, a dificuldade e corra. As pistas possuem 3 colunas (às vezes 5) e as notas vem por essas colunas, com o jogador alternando entre uma e outra, pra fazer combos, como Audiosurf.
Pistas e carros adicionais são comprados com pontos ganhados nas músicas, e a pontuação final é uma soma das notas que você atingiu, com o combo que você está no fim da música.
O jogo possui quatro dificuldades, a padrão, com a pista tendo obstáculos que quebram o seu combo, a Zen, que não possui obstáculos, a cinemática, que NEM NOTAS POSSUI, porquê alguém jogaria nesse modo? E a difícil, onde um obstáculo atingido traz o fim da música abruptamente.
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Até o momento, nada mal né? Só que, os controles não respondem tão rapidamente como em Audiosurf. Como em Audiosurf, você pode usar tanto os direcionais (digital ou analógico) quanto os botões de ombro (L1/LB, R1/RB) pra alternar entre as colunas, e a câmera padrão do jogo não ajuda, estando próxima demais do carro para enxergar as notas vindo (é possível alterar isso nas opções do jogo, mas é bom ressaltar).
Outra coisa que não ajuda muito, é que muitas pistas possuem subidas e descidas, e isso também atrapalha enxergar as notas que chegam. Em Audiosurf, mesmo com subidas e descidas, é possível ver as notas chegando pra planejar com antecedência.
No fim do dia, apesar disso, fazer todas as conquistas do jogo não é um trabalho deveras complicado, apenas longo, já que exige que consiga 1, 2 e 3 estrelas em pelo menos uma música, e que se desbloqueie todas as pistas e carros, com alguns carros chegando a custar absurdos 100 mil pontos (E se você consegue 2000 pontos em uma musica, considere-se sortudo).
Amigos com fotossensibilidade, evitem esse jogo
Muita gente brinca, dizendo que jogos antigos não tinham nenhuma consideração por pessoas fotossensíveis, mas meu amigo, até EU, que não possuo este problema, fiquei incomodado com a quantidade de flashes e tremedeiras do jogo.
Music Racer: Ultimate possui uma apresentação minimalista, em seus menus (simples demais até pro meu gosto) e os modelos do carro (inspirados por carros reais e da ficção) são aquele lowpoly básico, mas que deixa-os reconhecíveis.
Agora nas pistas… Em fotos paradas, você vai reconhecer o retroneon, vaporwave ou qualquer coisa dessas dos jovens que não sabem falar português. Porém em movimento, efeitos de luz, tremedeira da tela acabam atrapalhando a concentração, e ao contrário da câmera, não é possível tirar esses efeitos.
Se você gosta de musica eletrônica…
A espinha dorsal de um jogo de música (além da precisão dos controles/periféricos) é a trilha. Inclusive uma das razões da falha do Taiko no Tatsujin de PS2 quando chegou ao ocidente (como Taiko: Drum Master), foi a eliminação da trilha japonesa. Enfim, Music Racer: Ultimate possui em seu cardápio, uma boa quantidade de músicas, que combinam com a vibe retroneon que o jogo passa, mas pode não ser do agrado de todos.
Mas, como novidade trazida dos últimos updates da versão de PC, foi adicionada uma integração com o serviço de streaming de músicas “Audius”. Se você nunca ouviu falar no Audius, sem problema, eu também não. Mas basicamente ele é um serviço baseado na ideia de descentralização, onde as musicas estão hospedadas na blockchain… E se as palavras “descentralização” e “blockchain” acenderam o alerta de crypto em você, yep, fizeram o mesmo comigo. Enquanto que temos artistas legítimos usando o serviço, o fato de que qualquer pessoa pode upar uma música lá, incluindo material com direitos autorais, acaba deixando o serviço mais parecido com uma versão hipster do soundcloud.
E mesmo que não dê pra fazer como no PC e usar as músicas que estão no seu HD, é possível utilizar músicas próprias, desde que os arquivos de áudio estejam em um servidor WebDAV, mas há um limite de tempo máximo para a música (em torno de 10 minutos). O jogo temporariamente baixa a música para a memória do console e catapimba.
Agora você pode jogar com o áudio da goiaba e o ônibus no seu Xbox Series, não é incrível?
Recomendaria se tivesse uma jogabilidade mais responsiva
Eu conseguia jogar Audiosurf no PC, tanto com o teclado, quanto com o controle de Xbox 360 que eu possuía. E é uma pena que as falhas de Music Racer: Ultimate impeçam uma experiência semelhante.
A ideia é boa, mas os controles não tão responsivos e as pistas que impedem um full combo, tornam a experiência menos agradável. E nem é todo mundo que gosta de musica eletrônica.
Music Racer: Ultimate está disponível para PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One e Xbox Series S|X, e seu modo de trilha customizável está disponível nas versões de PC e Android de Music Racer.
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Esta análise foi feita no PlayStation 4 com uma cópia digital do game gentilmente cedida pela Sometimes You.