F1 2021 | No caminho certo, ainda que tropeçando
27/04/2022Quem diria que esse ano de 2022 teríamos MAIS de um jogo oficial da Formula 1 saindo nos consoles e PC, hein? Além do já óbvio anual e esperado F1 22 (recém revelado pela EA/Codemasters), teremos o primeiro jogo de Manager de F1 em mais de 20 anos, com a Frontier Developments (responsável por Planet Coaster e Planet Zoo, entre outros jogos de sucesso) estando a frente do desenvolvimento.
Claro, nesse meio tempo tivemos aí o Motorsport Manager no PC, mas não tínhamos a licença oficial da Formula 1 (até tinha a licença da Formula E na versão mobile), sendo disponível tal coisa apenas através de mods da comunidade (que foi sinceramente o que manteve MM vivo nesses seis anos desde o lançamento da versão de PC.
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Enfim, em 2022 temos novos carros e novos regulamentos em relação aos mesmos, tanto que a Haas, que nos últimos 3 anos tinha vivido um calvário com carros horríveis, voltou a ter um carro competitivo, e até conquistou pontos com o Kevin Magnussen, e a Alfa Morreu, digo, Romeo tem beliscado pontos aqui e ali com Valteri Galochas e Goiano Jô (Obrigado Victor Ludgero pelos apelidos).
A Ferrari voltou a ter um carro a altura do legado do time, apesar do azar do Comic Mainz, e a Mercedes… Bem, parece que o azar do Jorge Russo passou pra equipe, porque esse carro de 2022 é equivalente aos busões que o Russo pilotava na Williams.
Dito isso, no lançamento, eu não pude jogar F1 2021 porque nem fodendo eu ia pagar 300 reais em um jogo, esse foi o maior male da aquisição da Codemasters pela EA. Agora em março o jogo entrou no EA Play, o serviço de assinaturas da EA, então pude aproveitar o jogo, o máximo possível. Será que ele vale seu tempo? Confira conosco.
Enfiaram um pouco de drama Netflixiano na minha Formula 1
A principal novidade que F1 2021 traz (ou ao menos a que foi mais alardeada na época), foi o modo Braking Point, que é um modo história, que conta a ascensão e problemas da carreira de Aiden Jackson, jovem piloto da Formula 2 que no fim de 2019, está na disputa pelo título da mesma e depois, ganha uma vaga numa equipe da Formula 1.
Nisso, o relacionamento dele com o companheiro de equipe, o veterano holandês Casper Akkerman não é dos melhores, já que a princípio, logo na primeira corrida, acontece um acidente entre os dois, que prejudica a corrida do veterano. Só que acidentes a parte, temos aí obviamente um outro fator aumentando a tensão entre o novato e o veterano, Devon Butler, uma das pessoas mais socáveis em todo paddock da Formula 1, e para quem jogou F1 2019, é um dos seus rivais no modo Carreira lá.
Só que ao contrário do que o material divulgado pela Codemasters deixou transparecer, o Braking Point não é jogado SOMENTE do ponto de vista de Aiden, já que no meio da campanha, passamos a ter o ponto de vista de Akkerman, que lida com justamente problemas oriundos da idade (na F1), suas performances já não são as mesmas, há uma nova geração liderando o pelotão, e sua cabeça está cheia de duvidas se ele consegue ainda correr a nível competitivo pelo menos uma última vez.
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Ainda que eu ache o Braking Point uma boa ideia, Aiden Jackson tem a personalidade de um pires de leite, ou seja, raso. Devon Butler é um grandessíssimo filho da puta, com tramoias dignas de novelas mexicanas (mas quem jogou F1 2019 meio que já esperava isso, o cara não era flor que se cheire lá) e Akkerman é um sujeito que aparenta ser durão, mas é um coração mole.
E uma outra crítica válida é que o Braking Point basicamente não tem fator replay ou dificuldade ajustável, como as corridas regulares e do modo carreira, já que as escolhas das entrevistas não influenciam em nada de importante, e mesmo que você vença as corridas possíveis de se vencer, não influencia nada já que o modo é completamente scriptado. Se o objetivo do capítulo é terminar em quinto, não importa que posição você chegue entre primeiro e quinto, pra história, você vai ter terminado em quinto, mesmo que na pista, tenha vencido a prova.
Mas nem tudo são críticas, já que a apresentação cinemática do modo, na minha opinião, é melhor que a apresentação “Drive to Survive” que GRID Legends teve.
As transições entre CG e corrida do jogo estão perfeitas, e os modelos dão um pouco do que os personagens da F1 podem parecer quando a Codemasters adentrar de vez a nova geração de consoles (ou não, já que lembramos o desastre que foi F1 2015, que foi a estreia da Codemasters na geração PS4).
Cadê meus carros clássicos, Codemasters?
Esse ponto aqui da análise, deixa claro o velho deitado, digo, ditado que diz que só damos valor a algo quando não se tem.
Bem, para esta edição da franquia, não há mais a opção de jogar com os carros clássicos (só lembrar que no jogo de 2020, parte da campanha de Marketing sinalizava que você poderia ter o clássico carro que o Schumacher pilotou em sua estreia em 1991 na Jordan), o que significa que no modo carreira (seja o de piloto ou o MyTeam), não temos mais os eventos especiais que pilotamos carros clássicos (e basicamente dava dinheiro e fama ao jogador, mas era um pé no saco ter que fazer).
E sem carros clássicos, sai a opção de Campeonatos com carros clássicos, aliás, foi removida a opção de campeonatos separados em sua totalidade. Não que fosse algo realmente importante, já que os jogadores fazem isso no Modo Carreira, mas eu gostava de fazer os Campeonatos da F2, principalmente porque eu consigo jogar eles em dificuldades altas.
Outra coisa que removeram, foi a opção dos traçados curtos das pistas (Bahrein, Japão, EUA e Inglaterra possuíam versões reduzidas de seus traçados), que novamente, não era algo particularmente utilizado pelos jogadores.
Para os casuais e para os hardcores, muita coisa mudou
A Codemasters reformulou muita coisa mínima do jogo em relação ao 2020 (que já havia reformulado coisas do 2019), que aumenta bastante o fator simulação do jogo, sem necessariamente transformar F1 em um daqueles simuladores chatos pra cacete. Pra começar, o sistema de danos do carro foi amplificado em relação ao jogo anterior, se antes tínhamos como local principal de dano a asa dianteira, agora temos o dano na parte inferior e sidepods do carro, e até mesmo na asa traseira.
E como a parte inferior do carro vai sofrer dano? Simples, passando de maneira agressiva por zebras, cortando chicanes. Esses danos acabam interferindo na questão aerodinâmica, possivelmente custando aí aqueles décimos, centésimos ou milésimos de segundo que separam você da pole position.
A opção de regular o consumo de combustível do carro foi removida (com exceção do modo qualificatório, que permanece), então não temos mais a possibilidade de ganhar um pouquinho a mais de potência, a custo do combustível acabar mais rápido, tampouco a de economizar nos momentos em que acontece um safety car, logo, a questão de ultrapassagem vai ser determinada pela potência do motor, vácuo, DRS e ERS. Nada mais de usar o modo de mistura rica pra conseguir se aproximar.
Para corridas normais, fora do modo carreira, a opção de performance equalizada foi adicionada, oriunda do modo multiplayer, o que tecnicamente poderia colocar nessas corridas, uma Williams e uma Red Bull em pé de igualdade, mas é claro que em termos de IA, os status dos pilotos ainda vão fazer diferença.
Em termos de modo carreira, temos a opção de fazer o modo carreira com dois jogadores, seja como companheiros de equipe, ou rivais em equipes diferentes, o que dá uma lufada de ar fresco, já que o modo carreira de piloto foi meio que jogado pra escanteio no F1 2020 com a introdução do MyTeam.
O Modo MyTeam ganhou mais opções de customização da carreira, que pode facilitar, dificultar ou equalizar as coisas, já que agora a opção de ganhos financeiros pode ser ampliada ou reduzida para as equipes, tanto do jogador quanto da CPU. Ainda na questão de equalizar a competição, foi adicionada a opção de falha aleatória no motor do jogador, coisa que não existia na franquia, e isso coloca uma pressão maior por melhores performances, já que um DNF numa prova pode mudar o campeonato.
Outra coisa que era algo aparente no jogo anterior, mas agora se tornou um status oficial do jogo, é a questão do Foco da IA. Se o piloto da IA tiver boa performances em corridas seguidas, esse status irá aumentar, fazendo com que as chances desse piloto conseguir melhores posições, mesmo sendo tecnicamente mais inexperiente que outros pilotos, sejam maiores. E o inverso vale também, caso o piloto da IA se envolva em acidentes, ou tenha uma série de DNF’s causados por problemas de motor, o foco dele irá diminuir.
Uma das reformulações que não foi tão boa, entretanto, foi a da pesquisa e desenvolvimento. Na teoria, nada mudou, mas na prática, as coisas pioraram porque a Codemasters trocou a árvore de R&D por um sistema que é totalmente contra intuitivo. Diabos, mesmo o esquema primitivo de R&D do F1 2016 era mais intuitivo que isso.
Para aqueles com um pouco mais de dinheiro e que conseguiram a edição deluxe do jogo, para o modo MyTeam, é possível ter como companheiro de equipe, sete pilotos especiais, disponíveis somente para esse modo e somente para a sua equipe, que basicamente é a Codemasters reaproveitando assets antigos, mas são eles: Felipe Massa, Nico Rosberg, Jenson Button, Michael Schumacher, Alain Prost, Ayrton Senna e David Coulthard.
Se você sempre quis uma vingança pelo “Is that Glock?”, eis a oportunidade.
Menos customização de cara
No MyTeam, em comparação ao F1 2020, houve um decréscimo no número de pinturas disponíveis ao jogador logo de início, talvez num incentivo maior ao uso do Passe de Pódio, o que convenhamos, é a maneira da Electronic Arts de tentar fazer o jogador gastar grana nas Pit Coins. Isso só funciona relativamente nas versões de console, já que os jogadores de PC, cansados da customização merda de pinturas que o jogo tem, simplesmente baixam mods e deixam o carro mais chamativo.
Porque convenhamos, as opções de pinturas do jogo não são as melhores, e fazem o carro se destacar de uma maneira não muito agradável. Tá certo que não podemos ter patrocínios reais no jogo da Codemasters, mas ter um sistema de customização de pinturas decente é o mínimo que poderiam nos oferecer.
Nem precisa ser algo próximo do que Gran Turismo ou Forza oferecem, mas não parecendo um lixo já é um avanço, Codemasters.
Ah sim, a jogabilidade
O jogo funciona como seus antecessores em termos de dirigibilidade, talvez uns pequenos ajustes tenham sido feitos, em especial na questão das curvas com assistência (também conhecido como direção ultra casual), que no F1 2020 era horrendo do ponto de vista de quem tem experiência, porque o jogo te forçava a voltar pra linha de corrida numa reta, tornando ultrapassagens um saco.
Mas enfim, você tem as óbvias opções de Grande Prêmio e Modos Carreira de Piloto, Equipe e Coop e precisa tomar as melhores decisões possíveis para ganhar os mundiais de pilotos e construtores. Algumas das coisas foram reformuladas, como eu expliquei anteriormente, mas não comentei sobre outras duas mudanças feitas. Uma delas, é que com a remoção dos eventos com carros clássicos, algo foi adicionado. Em determinados momentos, um membro da sua equipe lhe trará uma questão sobre alguma coisa, seja sobre qual área investir ou focar, e pode ou não estar relacionado ao seu segundo piloto. Essas questões geralmente não tem uma opção certa, porque usualmente elas vão beneficiar um setor específico que depende da sua escolha.
Outra coisa que mudou, foi a questão dos treinos livres. Antes havia a opção de realizá-los ou simulá-los, sendo que as simulações davam menos pontos de pesquisa e desenvolvimento. A opção de simular os treinos livres foi substituída por um “mini-game”, no qual você precisa escolher quais programas de prática vai fazer, com uma porcentagem e tempo determinados.
Assim, é possível conseguir os pontos de R&D sem precisar de fato fazer os chatíssimos programas de prática, e ainda conseguir descontos nos upgrades, cumprindo determinadas tarefas.
De resto, a mesma coisa do jogo anterior no MyTeam, com você criando a sua equipe, escolhendo a unidade de potência (Honda, Ferrari, Renault e Mercedes) e o segundo piloto, entre os pilotos da F2 de 2020. Responda as perguntas do repórter hipster (Will Buxton), que vão lhe dar uma bonificação inicial de um setor do carro. O jogador pode escolher jogar o calendário completo da Formula 1, ou calendários reduzidos com 16 ou 10 provas, mas infelizmente ainda não é possível mudar a ordem das mesmas.
No lançamento do jogo, o calendário estava incompleto, mas com atualizações gratuitas, os três circuitos que entraram em definitivo pro calendário, o GP da Emilia Romanha, o GP de Portugal e o GP dos Direitos Humanos, digo, Arábia Saudita foram adicionados. A pista de Ímola volta a um jogo de F1 após sua última aparição no F1 2013, na parte de clássicos do mesmo, enquanto que as pistas de Portimão e Jedá fazem sua primeira aparição nos jogos, já que anteriormente o GP de Portugal era em Estoril e a pista de rua da Arábia é de fato estreante na categoria em si.
Ímola é uma pista que exige muito do jogador… Ou eu sou ruim, porque eu me fodi bonito lá. O circuito de Portimão é um bom circuito, mas tem seu grau de dificuldade porque possui muitas subidas e descidas que são enganosas. E o circuito de Jedá é um circuito de rua, e veloz… O que deixa as coisas um pouquinho perigosas, porque um erro e você vai fazer uma ótima imitação do Nicolas Patifi, digo, vai beijar o muro.
O jogo, como os anteriores há um bom tempo, possui uma dificuldade ajustável de maneira milimétrica, assim jogadores com diferentes níveis de habilidade podem se divertir igualmente, e caso você erre uma curva ou resolva fazer cosplay de Vettel e mandar aquele sBinalla, pode utilizar a função de flashback pra voltar no tempo e corrigir o erro.
A maldição de jogos esportivos
Tecnicamente, F1 2021 é um jogo igual ao seu antecessor. Incluindo os problemas com texturas em baixa resolução em determinados momentos e loadings demorados que citei na análise do F1 2020.
Felizmente os problemas de carregamento dos modelos de pilotos foram resolvidos, então é uma reclamação a menos. Dessa vez, como não houve problemas grandes na temporada (tudo bem que devido a pandemia, algumas provas foram canceladas/substituídas), os veículos estão com as pinturas semelhantes as contrapartes reais, e durante algum tempo, em uma atualização, a Red Bull estava com a pintura especial branca, que era pra ser utilizada no GP do Japão, mas acabou sendo usada na prova da Turquia.
Essa pintura foi removida do jogo posteriormente, mas readicionada em um update recente, porém para o MyTeam Career, e numa escolha de design esquisita, a pintura seria somente a do carro do Verstappen, então se o jogador quiser utilizar essa pintura, terão três carros número 33 na prova.
Como eu havia dito anteriormente, os modelos das CG’s do Braking Point são bem feitos, e as recriações dos circuitos, estão, usando as palavras do narrador da Band: NO CAPRICHO! Mas, entra ano e sai ano, e os efeitos de chuva do Formula 1 continuam uma bosta e devem continuar bosta até o fim dos tempos, já me conformei com isso.
Quanto ao áudio, entra ano e sai ano, e o jogo continua com a linguagem atrelada ao sistema. Que preguiça é essa de colocar a porra de um menu pro idioma inteiro do jogo? Caramba, isso é um inferno, toda santa vez que eu vou falar de um jogo, tenho que ver se o idioma dele é atrelado ao sistema.
A dublagem, obviamente recomendo que jogue com o áudio em inglês, que é onde as falas são melhor dubladas, embora crédito devido, ao menos dessa vez os dubladores dos comentaristas em português estejam mais a vontade e naturais. Mas não posso deixar passar que o dublador diz (geralmente quando faz a pole) que o Max Verstappen pilota pela TORO ROSSO.
Sendo que a Toro Rosso não existe mais a duas temporadas (ela virou Alpha Tauri após a temporada de 2019) e o Max não pilota lá tem uns 6 anos.
E para o Braking Point temos alguns nomes conhecidos da dublagem brasileira, como o Leonardo “Ikki de Fênix” Camilo fazendo o Brian (chefe da sua equipe) e o Marcio “James da Equipe Rocket” no papel do veterano Casper Akkerman.
No fim, depende se você tem ou não o jogo anterior
Num mundo ideal, onde jogos no Brasil custariam um preço justo, eu poderia recomendar F1 2021 para quem quisesse ter a versão mais atual da franquia, até porque pra quem possui o F1 2020, existe um desconto bacana de 30% na versão regular do jogo. Mas, com o preço de um Triple A novo na casa dos 300 reais (com algumas produtoras filhas da puta cobrando mais do que isso), fica difícil recomendar sem pensar duas vezes.
O jogo traz novidades, mas nem todas elas são boas, o modo Braking Point tem fator 0 replay, apesar de ser uma adição bacana e o modo carreira cooperativo pode render boas risadas com um amigo. Agora que o jogo está disponível no EA Play (nas versões de console), talvez seja a oportunidade perfeita pra conferir o jogo, porque fora disso, não há justificativa o suficiente para largar o jogo de 2020 por esse aqui.
Não me levem a mal, F1 2021 é um jogo excelente por si só, mas assim como qualquer jogo anual, é vítima justamente disso, é um jogo anual e F1 22 sai em menos de 3 meses. Se você assina o EA Play e é fã de corrida, pode baixar, caso contrário, numa promoção é uma boa porque 300 reais? Nem fodendo EA.
F1 2021 está disponível para PC, PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One e Xbox Series X/S e esta análise foi feita com base na versão de PS4, gratuita através do EA Play.