Cotton Fantasy | A maior (e mais engraçada) aventura de Cotton

Cotton Fantasy | A maior (e mais engraçada) aventura de Cotton

19/05/2022 1 Por Geovane Sancini

Sabe, ontem a noite eu percebi que teria um certo problema pra começar a fazer este texto. Porque uma das coisas que eu poderia utilizar pra passar o tempo, era justamente contar um pouco sobre a história da série Cotton, e eu meio que já fiz isso no meu mega texto de Cotton, leiam por favor (pisca, pisca). Enfim, já que não posso falar tanto de Cotton na abertura, por falta de assunto, vou falar sobre uma outra coisa, que é meio que minha relação com shooters em si.

Desde pequeno, por conta de jogos como River Raid (Atari 2600), Dragon Spirit: A New Legend (NES) e Sonic Wings (SNES), minha preferência por jogos de navinha sempre foram os jogos com progressão vertical, eles eram mais interessantes. E isso foi se acentuando quando passei a conhecer mais o gênero, com pérolas do arcade, como a série Strikers (Psikyo), Mushihime-sama (Cave), Dodonpachi (Cave), dentre outros jogos. O único jogo com eixo horizontal que eu conseguia jogar sem me entediar até a morte, era no caso, a série Parodius (Konami), que um dia vai ganhar seu especial aqui no Arquivos do Woo

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O jogo que fez com que eu realmente mudasse minha visão sobre os horizontais, foi um Cute’Em Up que joguei há quase 10 anos atrás no PC, um singelo jogo chamado Gundemonium Recollection. Graças a um auxílio da minha irmã e seu cartão de crédito (lembram quando não dava pra usar boleto no Steam? Ainda bem que esse tempo passou, nem tudo que é velho é bom), pude adquirir Gundemonium Recollection e sua continuação, Gundeadligne. Os dois jogos, são bullet hells desenvolvidos pela Platine Dispositif, e graças a sua jogabilidade frenética e bom design de padrões de tiro, pude me divertir e apreciar melhor os jogos em eixo horizontal, passando a aproveitar outros jogos como Cotton 100%, R-Type e um dos meus favoritos: Deathsmiles, em seu excelente porte para PC.

Mas bem, graças a esse renovado interesse por jogos de tiro no eixo horizontal, foi que chegamos aqui. E bem, para poder encaixar com tudo, o ano de 2021 foi bem importante para a série Cotton, marcando os 30 anos do lançamento do primeiro jogo.

Celebrando, tivemos o lançamento de Cotton Reboot, remake do primeiro jogo, baseado no excelente porte do Sharp X68000, os relançamentos de Cotton 2, Cotton Boomerang, Cotton 100% e Panorama Cotton nos consoles atuais e no fim do ano, no Japão, chegava ao PS4 e ao Nintendo Switch, Cotton Rock and Roll: Superlative Night Dreams. E hoje, dia 20 de Maio, chega ao ocidente, a localização, intitulada Cotton Fantasy. E nas palavras de Cotton: LET’S GO!

Reprodução: Studio Saizensen, SUCCESS, ININ Games

Alguém está roubando os Willows, é hora de cumprir a profecia

Um dia, um estranho fenômeno começa a ocorrer na Terra das Fadas, os Willows começam a desaparecer, deixando todos em polvorosa. A sábia Oh-Baba chega e recita a profecia, de que quando os Willows começarem a desaparecer, uma pessoa trajando robe azul irá surgir, e no fim, Willows cairão dos céus.

A rainha, novamente coloca Silk a cargo de resolver essa treta, mas ao ouvir as palavras de Baba, as duas sabem exatamente a quem ela se refere, e Silk aparentemente tem Flashbacks do Vietnã a respeito disso.

Em outro canto, uma esfomeada Cotton vagueia tentando encontrar Willows, em vão, até que Silk a encontra, e faz uma proposta a bruxinha, que nega a princípio, até ouvir sobre a recompensa: Um suprimento com todos os willows que Cotton conseguir comer. E a partir daí, uma nova aventura se começa.

A história, como todas na série Cotton, não é algo sério, o clima da série foi sempre cômico, com a relação entre Silk e Cotton, e as coisas que as duas passam. E no fim, sem querer dar muitos spoilers, apesar do que está em jogo ser algo grande, no fim o que motivou tudo, acaba deixando essa como a aventura mais imbecil de Cotton. Não que isso seja algo ruim.

Reprodução: Studio Saizensen, Success, ININ Games

Shooter de primeira, com muito fator replay

A princípio, você pode pensar que é um jogo com a jogabilidade baseada no primeiro Cotton, mas não é totalmente. Primeiro, não temos somente a Cotton como personagem jogável, temos Appli, de Cotton 2, Kawase, de Umihara Kawase, Ria que é uma versão humanizada da nave da série Psyvariar, Fine, versão humanizada do veículo de combate do shooter top-down Starfighter Sanvein (PS1), Luffee, personagem de Doki-Doki Poyatchio!! (PS1, desenvolvido pelo Studio Saizensen), Tacoot, que é a final Boss do jogo e Silk, tendo aí oito personagens diferentes.

Cotton, Appli, Kawase e Tacoot tem jogabilidades semelhantes, mas mesmo elas possuem diferenças entre si. Numa coisa que essas quatro personagens são iguais, é que o tiro delas depende da magia que elas possuem equipada. Essa magia pode ser alterada com os cristais coloridos, marca registrada da série. Assim como no primeiro jogo, a magia (e experiência) depende da cor do cristal que você coleta, cristal amarelo da experiência, e os cristais vermelho, verde e azul dão um tipo de tiro e magia. Felizmente, há um botão para deixar apertado pra atirar constantemente, e um pra você deixar apertado e soltar a magia. E é aí que a semelhança entre essas personagens acaba.

Cotton tem uma bomba, no qual ela libera Silk em um ataque devastador (ideal pra limpar a tela ou causar dano em chefes), Appli funciona como em Cotton 2, onde se deixa segurado o botão de bomba (X no PS4), ela pode agarrar oponentes e arremessá-los nos inimigos, sendo muito eficaz. Kawase usa a vara de pescar dela e pega os inimigos, e com mais um toque, ela dispara o inimigo usando sua bazuca, funcionando como Appli, mas Kawase pode usar a vara em 4 direções para capturar o inimigo como se fosse o Yoshi. Tacoot pode mandar seu cajado para atacar, ficando a distância, mas a deixando desguarnecida. E as magias de Tacoot podem ter a mira controlada pelo cajado, num sistema semelhante a R-Type, mas isso vai afetar também seu tiro depois da magia.

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Ria funciona num sistema parecido com o da série Psyvariar, fortalecendo seus níveis através do sistema de Buzz, ou seja, quanto mais próxima dos projéteis inimigos (ou inimigos em si) Ria estiver, mais experiência ela ganha. Seu tiro concentrado, é um no qual ela gira para uma rajada constante e mais forte que os tiros comuns, mas com a movimentação lenta. Sua bomba é uma clássica limpa tela.

Fine não possui um sistema de vidas, ou mesmo bombas em si. O sistema de jogo dela é baseado em tempo, como em Salvei, com os cristais dropados pelos inimigos recuperando tempo, e o dano sofrido diminuindo. Pense na barra de vida de Cotton 2, por exemplo. E ela possui 3 armas, intercambiáveis com o botão onde seria a bomba, e utilizando o tiro concentrado neles, lança um ataque diferente.

Luffee funciona como a arma e magia laser dos jogos de tiro. Ela só tem um tipo de tiro, e seu ataque concentrado é basicamente a magia de laser de Cotton 2, sendo que você pode concentrar esse ataque em 3 níveis, mas novamente, assim como o concentrado de Ria, Luffee se move com mais lentidão. Sua bomba é a clássica limpa tela.

Somente essas personagens, cada uma funcionando de maneira diferente, são o suficientes para garantir um fator replay ao jogo, mas não é somente isso, como veremos mais adiante.

Cotton Fantasy

Reprodução: Studio Saizensen, Success, ININ Games

Uma experiência não linear para todos, sem esquecer da dificuldade

A primeira vista, Cotton Fantasy é um pouco mais difícil que Panorama e 100%, mas não chega ao nível de desafio dos jogos de arcade, ao menos não na dificuldade Normal. No normal, o jogo tem o desafio no nível certo, exigindo o suficiente daqueles que querem fazer o famoso 1 Credit Clear (eu ainda tô LONGE disso), mas não sendo difícil o suficiente para desmotivar os menos habilidosos. Sem contar que o jogo tem créditos infinitos, então é garantido que você vá terminar.

E quando você dominar o jogo na dificuldade normal, pode partir para desafios mais duros, com a dificuldade difícil, ou a dificuldade Extra, que vai testar seus reflexos de Bullet Hell, com inimigos que deixam DISPAROS assim que morrem.

A progressão de Cotton Fantasy é não linear em partes. A primeira e as duas últimas fases são fixas, você vai sempre jogá-las, mas as outras seis fases podem ser jogadas em qualquer ordem que o jogador desejar. Tá certo que a primeira jogatina serão essas nove fases, independente da ordem, mas depois disso… Nem tanto.

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Quando se termina com qualquer uma das personagens disponíveis de cara, você libera uma fase extra, que é um tributo aos jogos de origem das personagens, incluindo lutas com os chefes e subchefes desses jogos. Após isso, você tem uma boa combinação de fases para as próximas jogatinas.

O jogo possui referências a outros jogos da série, como a pontuação bônus secreta por não pegar nenhuma caneca de chá no “Tea Time”, uma reaparição de Wool como boss em uma das fases, as etapas de bônus são vistas por trás, como Panorama e Rainbow Cotton (e felizmente os controles funcionam, o que quer dizer uma coisa… REMAKE DE RAINBOW COTTON CONFIRMADO! Que foi? Um homem pode sonhar, não?), um dos momentos da última fase lembra bastante o último trecho antes da luta contra Wool em Cotton 100%.

Cotton Fantasy é um jogo relativamente curto, se você quer só jogar do começo até o final, mas a natureza arcade com o imenso fator replay ajuda muito no que você vai aproveitar do jogo.

Cotton Fantasy

Reprodução: Studio Saizensen, Success, ININ Games

Trilha sonora matadora acompanhada de belos gráficos

Eu vou ser honesto, graficamente, Cotton Fantasy não é tão bonito quanto Cotton Reboot, já que aqui a escolha foi gráficos tridimensionais com um leve efeito em cel-shading para facilitar os momentos de transição de 2D pra 3D em pequenos setores. Mas isso não quer dizer que Cotton Fantasy é feio, longe disso.

Os cenários são uma caixinha de sortidos, já que em uns pontos temos cenários belíssimos, outros cenários são bem meh. Em termos de design de personagens, o acerto é grande, tanto as personagens jogáveis, quanto os inimigos, todos lá estão bem feitos e os chefes são muito bacanas, tendo eles duas formas (dependendo da sua competência, a segunda forma nem aparece).

As cutscenes são charmosas, mas não posso negar que senti que poderíamos ter cutscenes em anime, como em Rainbow Cotton. E a trilha… Amigos, Cotton NUNCA decepcionou no departamento sonoro, mesmo quando o jogo deixava a desejar (Rainbow Cotton, why?), a trilha dele era era boa. E Cotton Fantasy não é a exceção a essa regra.

A trilha não passa de remixes de jogos anteriores da série, originalmente compostas por Kenichi Hirata e remixadas por um talentoso grupo de músicos, Kenichi Arakawa, Keisuke Hayase, Hiroyuki Kawada, Go Sato, Keishi Yonao e TECHNOuchi. E é o tipo de música que você vai querer caçar pra ouvir depois da jogatina, porque são excelentes composições e arranjos, incluindo aí remixes de Psyvariar e Umihara Kawase, é uma trilha pra ninguém botar defeito. Inclusive temos aí músicas de Umihara Kawase que não foram utilizadas no jogo, mas estão no disco oficial do jogo, então mais um motivo pra ouvir a trilha de Cotton Fantasy.

O jogo possui uma belíssima dublagem em japonês, com Nami Miyaki e Kaede Horikawa reprisando os papéis de Cotton e Silk, vindo de Cotton Reboot, assim como Hyosei e Madoka Hiraide reprisaram Appli e Needle. No geral, a equipe de dublagem de Cotton Fantasy fez um trabalho decente com o pouco que lhes foi dado (já que o modo história foca mais em Cotton, Silk e em menor escala, a Tacoot, que tem uma performance bem tomboy feita por Chika Okubo.

Cotton Fantasy

Reprodução: Studio Saizensen, Success, ININ Games

Fãs de shooters, não temam, Cotton Fantasy vale a pena

A espera por Cotton Fantasy valeu a pena? A resposta curta: Sim. A resposta mais ou menos longa, já que a longa é composta deste texto: Trazendo uma revisão das mecânicas dos dois primeiros jogos da série, com adições vindas de outros jogos, e um excelente fator replay, Cotton Fantasy é uma bela pedida para quem curte os jogos de navinha. Minhas reclamações ficam por parte do fator que Cotton Reboot é mais bonito, e que não temos etapas reais em Rail Shooter, mas pelo menos os bônus me dão esperança de um futuro jogo neste estilo.

Vários personagens e fases extras dão longevidade a um jogo que coloca novamente a franquia Cotton no mapa com um jogo inédito, e me deixa animado com o futuro da série.

Cotton Fantasy está disponível para PlayStation 4 e Nintendo Switch, com uma versão para PC a ser lançada posteriormente.


Essa análise foi feita com uma cópia digital de PlayStation 4 gentilmente cedida pela  ININ Games.