Pocky & Rocky Reshrined | Muito mais que um remake

Pocky & Rocky Reshrined | Muito mais que um remake

03/07/2022 0 Por Geovane Sancini

Bem, aqui chegamos, finalmente. 20 anos após o último jogo da série (desconsiderando a continuação espiritual Heavenly Guardian/Snow Battle Princess Saiyuki), e um ano após seu anúncio, temos um novo jogo da série Pocky & Rocky, conhecida como Kiki Kaikai no Japão.

Se você acompanha o site, sabemos que lançamos recentemente um texto contando a história da série, de sua humilde origem como um arcade mediano, até o cancelado Kiki Kaikai 2 que virou Heavenly Guardian.

Mas você sabia que Kiki Kaikai influenciou um dos maiores fenômenos indie do Japão? Sim, o visual da Sayu/Pocky e os fantasminhas característicos do jogo de arcade influenciaram fortemente a série Touhou, com sua protagonista, Reimu Hakurei, que também é uma sacerdotisa. E curiosamente, os primeiros jogos da série foram feitos quando seu criador, Jun’ya Ota (que atende pelo pseudônimo de ZUN e é um dos caras mais gente boa do Japão) ainda trabalhava na Taito (criadora de Kiki Kaikai). Agora você sabe, e saber é metade da batalha.

Pocky & Rocky Reshrined estava disponível no Japão desde Abril, mas agora, os donos de PlayStation 4 e Nintendo Switch ao redor do mundo podem aproveitar o jogo sem precisar apelar pros preços altos das lojas japonesas (não tô brincando, a versão da PSN japonesa é mais cara que a Brasileira), e até mesmo descolar uma cópia física. Mas se quer se decidir antes de comprar o jogo, confira a nossa análise.

Reprodução: Taito, Natsume, Tengo Project

O Manta Negra retornou… Ou é a primeira vez que o vejo?

A princípio, pela abertura do jogo, tudo parece se encaminhar para ser um remake de Pocky & Rocky, já que o jogo menciona os eventos de Kiki Kaikai, com os Youkais sequestrando os Deuses, e Pocky resolvendo a parada. Logo em seguida, Rocky chega e pede a ajuda de Pocky, comentando que os Youkais ficaram loucos e o agrediram e começaram a causar confusões.

Só que conforme a história avança, bem… As coisas mudam completamente em relação ao jogo original, se desenvolvendo numa história própria, com novos personagens e a narrativa difere e muito do Pocky & Rocky original, dando a entender que não era a primeira vez que Pocky e o Manta Negra, o vilão que causou a pira dos Youkais.

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Uma coisa que quero comentar, é que mesmo os diálogos do jogo também diferem do original, e não sei se foi o caso de tradução ruim, mas as vezes umas falas ficam sem sentido. Ou eu estava tendo só mais uma crise de ódio, mas isso vou falar pra frente.

O modo história do jogo introduz duas novas personagens, Ame no Uzume, uma deusa que ajuda a Pocky e aumenta suas habilidades após a segunda fase do jogo e Ikazuchi, um animal mágico que foi preso pelo Manta Negra e Pocky ajuda a escapar possuindo o corpo do bichinho (e é por isso que ele usa a veste de sacerdotisa da Pocky).

Reprodução: Taito, Natsume, Tengo Project

Prepare-se para o RAGE

Se você jogar as duas primeiras fases, você pode começar a pensar que é Reshrined não passa de um remake do SNES com um toque diferente nas fases, como os padrões novos para os chefes e gráficos refeitos. Só que quando passamos da segunda fase, o jogo dá um giro de 180 graus, e passa ser algo quase que inédito. Digo quase inédito porque algumas ideias ainda vão estar lá, mas as fases não passam mais a ser cópias 1/1 da versão original. Ainda temos uma fase em um navio voador, e ainda temos a visita ao castelo do Manta Negra, mas mesmo essas etapas são diferentes do original.

Temos dois modos de jogo, o Story, que obviamente, segue a história do jogo, e nele não escolhemos o personagem jogável, ele é determinado pelo momento da história em que estamos. Nele, jogamos com Pocky, Rocky, Ame no Uzume e Ikazuchi. No Free Mode, liberado após terminarmos o modo história, podemos escolher o personagem a ser jogado, e também podemos desbloquear a quinta personagem, a samurai Hotaru Gozen. E no Free Mode, não temos as cutscenes.

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Os comandos do jogo permanecem praticamente os mesmos do jogo de SNES, um botão de tiro, um pra utilizar a varinha de purificação, um pro slide, e um pra uma bomba especial. Porém, cada personagem funciona de um jeito ligeiramente diferente, assim como os power-up’s funcionam de maneira diferente pra cada personagem, mostrando que um power-up que pode funcionar bem pra um personagem, não funciona tão bem com outro. E depois de algumas fases, Pocky ganha duas novas habilidades graças a Uzume. Ao concentrar o botão da varinha de purificação, ela pode criar uma barreira pra proteger de projéteis, e ao mashar o botão de tiro, ela invoca um espelho que reflete seus tiros na direção do inimigo mais próximo (é recomendado pelo próprio jogo que você deixe o botão de tiro segurado durante o gameplay regular).

Quem jogou Pocky & Rocky no SNES, sabe que o jogo não era nada fácil, mesmo jogando no Easy… E Reshrined continua essa tradição da série, porque o que eu xinguei de membro da equipe de desenvolvimento enquanto tentava passar da primeira e depois terceira fases… O jogo não pega leve com o jogador o tempo todo, seja com inimigos ou lutas contra chefes.

Me impressiona a speedrun do Free Mode ter o WR abaixo de 20 minutos. Mas se você está tomando muitos Game Overs, não tema, pois após coletar um total de 3000 moedas (que são adquiridas de monstros derrotados), você pode desbloquear o modo Extra Easy… Que não é Easy PORRA NENHUMA, porque o jogo continua difícil como antes, mas você terá vidas infinitas, o que parece bom, mas não permite o exploit de dar Game Over num chefe e voltar na luta com as bombas para um dano legal. E o Extra Easy é só no modo história.

Reprodução: Taito, Natsume, Tengo Project

Excelência audiovisual: Retromoderno em seu ápice

Assim como no artigo sobre a série num todo, temos que falar aqui da alteração/censura que a versão ocidental de Reshrined sofreu, com a roupa de uma das personagens sendo alterada, no caso a Ame no Uzume ficou mais discreta. É uma mudança que não faz o menor sentido, e a única justificativa próxima de ser plausível, foi que a Natsume queria colocar o jogo com a classificação E (Everyone) na ESRB, mas ainda é um saco ter que mencionar esse tipo de coisa.

Graficamente, a admissão: Pocky & Rocky Reshrined não possui a área de jogo 16:9 nativa, como os outros dois jogos do Tengo Project, as configurações padrão do jogo esticam um bocadinho a tela. Isso é uma coisa pequena no todo? Sim, mas é importante notar. Com isso fora do caminho, Pocky & Rocky Reshrined faz uso de toda a potência dos consoles modernos sem sair das raízes 16 bits.

A qualidade e beleza dos cenários é incrível, e o redesign dos inimigos padrão do jogo original se encaixa com as mudanças de layout feitas originalmente. Eu só notei essas mudanças de design porque literalmente pra fazer comparações, eu assisti um playthrough do Pocky & Rocky original (é, eu não cheguei a terminar o Pocky & Rocky pra fazer aquele artigo, viu a quantidade de jogos e o tamanho do texto?).

A qualidade da pixel art nas cutscenes é absurdo, porque ele continua parecendo um jogo de SNES, só que numa resolução mais alta, sem ficar com aqueles filtros que cretinos dizem que são HD. É o pico do limite entre retrô e moderno, e no nível dos jogos anteriores do Tengo Project.

A trilha sonora é uma versão turbinada dos temas da versão de SNES, com os rearranjos estando ao mesmo tempo fiéis, mas livres das limitações que o chip sonoro daquele console. E olha, é difícil achar jogo da Natsume com trilha sonora ruim. E sim, é uma versão turbinada, mas contém muitos temas originais, porque o jogo não é um remake de Pocky & Rocky (exceto as duas primeiras fases que são do jogo original).

Reprodução: Taito, Natsume, Tengo Project

Jogue Pocky & Rocky Reshrined, esse é o nosso veredito.

O Tengo Project entregou nos últimos 6 anos, três excelentes jogos, trazendo clássicos da Natsume pros hardwares modernos. Wild Guns, Ninja Warriors tiveram ótimos tratamentos, e Pocky & Rocky não é exceção a isso. Com a jogabilidade refinada, excelentes gráficos e uma trilha matadora, Pocky & Rocky Reshrined é obrigatório pra quem jogou Pocky & Rocky e Pocky & Rocky 2 até os dedos caírem no SNES.

Tá certo que o modo “Easy” é um bait imenso (já que não dá pra ‘exploitar’ o Game Over no Boss pra voltar com bombas) para os jogadores menos habilidosos e pseudo-jornalistas se acharem bons, porque o jogo continua difícil, mas isso não tira o brilho do jogo. Só esperamos que a Natsume leve o jogo para os PC’s, como fez com Wild Guns Reloaded.

Pocky & Rocky Reshrined está disponível para PlayStation 4 e Nintendo Switch e esta análise foi feita com base na versão de PS4, com uma cópia gentilmente cedida pela ININ Games, que está distribuindo a edição física do jogo, que você pode adquirir no link abaixo, nas edições comum e de colecionador.

Comprem Pocky & Rocky Reshrined AQUI.