Turrican Anthology | Retro comodidade de primeira
20/08/2022Você sabia que Super Turrican 2 foi cancelado quando já estava pronto, e que as únicas cópias terminadas do jogo foram vendidas somente na Colômbia?
Pelo menos é o que afirmava uma revista brasileira de jogos nos anos 90, e é uma mentira mais cabeluda que a juba que cultivei por um ano. Mas por quê comecei esse texto com um factoide mentiroso, você, meu leitor imaginário, se pergunta.
Se o título do texto não entregou que falaremos de Turrican Anthology, o parágrafo de abertura deve ter deixado isso bem claro. Mas enfim, para quem cresceu apenas com consoles como Mega Drive e Super NES, pode ter ouvido sobre a série apenas com as versões para tais consoles (incluindo o péssimo porte de Turrican 1 pro Mega Drive), mas nos computadores na Europa, Turrican foi um fenômeno imenso, com versões para os computadores caseiros e consoles.
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A série tem uma certa treta, porque de um lado, temos a criação original de Manfred Trenz (criador de Great Giana Sisters e Katakis, sucessos do C64) e da Rainbow Arts, no Commodore 64. Por outro lado, temos o imensamente popular porte de Amiga, desenvolvido pela Factor 5. A série rendeu jogos até 1995, quando Super Turrican 2 fora lançado. Tentativas de migrar a série pro 3D foram feitas, mas nada foi concluído. A série “morreu”, mas ela não deixou de influenciar jogos futuramente, como os excelentes Gunlord X e Valfaris.
Mas a série começou a ensaiar a volta em 2018, graças a Analogue e a Strictly Limited Games, que lançaram Super Turrican: Director’s Cut, tanto no Analogue NT quanto em cartucho avulso para SNES. Essa versão contém o conteúdo que fora cortado do Super Turrican original por conta de contenção de custos da publisher, e rearranja as fases, tornando uma experiência diferente do jogo original. E no começo de 2021, a ININ Games lançou a Turrican Flashback Collection, que continha 4 jogos, Turrican, Turrican II: The Final Fight, Mega Turrican e Super Turrican. Haviam planos para uma Antologia com mais jogos, mas ela fora adiada, até que finalmente, no fim de julho de 2022, a Turrican Anthology finalmente chegava, dividida em dois volumes e trazendo um total de dez jogos. Confira nossa análise.
O que tem e o que não tem na coletânea?
Logo de cara, uma coisa que se nota ausente nas compilações, são três jogos importantes (mais pelo significado do que pelos jogos em si), no caso, a versão original de Commodore 64 do Turrican, a versão de Commodore 64 de Turrican II: The Final Fight, e o jogo Super Turrican de NES, no caso, os três são obras do criador da série, Manfred Trenz.
Na compilação, encontra-se a trilogia do Amiga, no caso Turrican, Turrican II: The Final Fight e Turrican III: Payment Day, o Mega Turrican de Mega Drive, que é curiosamente a versão original de Turrican III, mas não havia quem publicasse o jogo até 1994, quando a Data East adquiriu os direitos do jogo. E três jogos do SNES, o Super Turrican, o Super Turrican 2 e o Super Turrican: Director’s Cut, que mencionei na introdução da análise. Os outros três jogos da coletânea são versões Score Attack de Mega Turrican e Super Turrican, e uma versão Director’s Cut de Mega Turrican, que não tem tanta diferença pra versão original, a não ser a área secreta depois da seção do elevador, que vai estar desbloqueada de cara (no original, você tinha que ter uma quantidade determinada de pontos para acessar).
Um fator determinante contra a possível compra dos jogos, é que justamente eles estão divididos em duas coletâneas, com o volume 1 contendo Turrican 1, 2, Super Turrican, Super Turrican: Director’s Cut e Mega Turrican: Score Attack e o volume 2 contém Turrican 3, Mega Turrican, Mega Turrican: Director’s Cut, Super Turrican 2 e Super Turrican: Score Attack. Ou seja, quem quer jogar todos os jogos de maneira conveniente, terá de fazer duas compras.
E considerando o atual estado das coisas, a compra da edição de colecionador (física) de Turrican Anthology com os dois volumes se torna difícil pra quem não tem tanto dinheiro assim sobrando. Claro, ela tem itens que valem a pena o investimento (documentário em Blu-ray e uma caralhada de coisas), mas vamos combinar, é caro.
Tretas em um mundo distante…
Eu honestamente não vou pegar o roteiro dos jogos, porque são pelo menos cinco histórias diferentes (Turrican 1, 2, 3, Super Turrican e Super Turrican 2). Mas, do que dá pra entender dos manuais, O segundo e terceiro jogos da série são conectados (mesmo protagonista), assim como Super Turrican e Super Turrican 2.
O trabalho de porte dos jogos foi feito pela Ratalaika, que vem trabalhando com esse tipo de jogo tem algum tempo, até mesmo em parceria com a ININ Games, nos casos de Cotton e da própria Turrican Flashback. Os jogos tem os recursos que esperamos desses relançamentos, sistema de save state, rebobinação, nada que não saibamos. Felizmente, no caso das versões de Amiga, Turrican era um dos jogos que utilizava dois botões, logo, nada daquela palhaçada de apertar pra cima pra pular, tão comum em jogos europeus dos anos 80/90.
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Não se engane, Turrican é uma série europeia, então você já sabe o que esperar, alta dificuldade, saltos de fé e mortes estúpidas. Mas ainda assim, são jogos excelentes que são Run N’ Guns com fases gigantes e abertas a exploração. Claro, que nos últimos jogos (em especial Super Turrican 2), as coisas são mais lineares, mas enquanto que não são áreas necessariamente interligadas como em Metroid, a maioria da série não segue um design de fases linear.
Power-up’s estarão a disposição do jogador pra ajudá-lo a passar pelas tretas, então fique atento a que tipo de arma se adequa ao seu estilo de jogo. Algumas fases serão com jogabilidade de shooter, dando assim uma variedade ao pacote final (individual) de cada jogo.
A música rouba a cena, apesar dos bons gráficos
Os dois primeiros Turrican’s de Amiga estão certamente entre os melhores jogos da biblioteca do computador, por uma boa razão. E os jogos possuem um bom trabalho no departamento, contando com bons efeitos visuais, camadas de parallax em certos estágios. Os chefes são enormes e marcantes, apesar de não contarmos com o Dolph Lundgren gigante…
Tá, essa foi uma piada que só quem sabe que o segundo jogo recebeu portes para Mega Drive, Game Boy e Super NES (esse cancelado, apesar de 95% dele estar pronto – Faltavam alguns retoques em animações e som), só que deram uma de Tectoy e colocaram uma skin de Soldado Universal no mesmo. Pelo menos esses portes de Turrican em console eram decentes, ao contrário do que foi feito com Turrican 1, mas divago).
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Eu comentei sobre os dois primeiros jogos, mas isso não quer dizer que o resto seja não marcável, porque eles possuem um bom trabalho de pixel art… Só não posso dizer o mesmo dos personagens criados nas cutscenes, que tentam passar uma aura de anime, mas parece mais o trabalho feito por alguém que ouviu o conceito do que é anime, porque PUTA QUE PARIU QUE GENTE FEIA E MAL DESENHADA! Desculpem, eu precisava disso.
Mas, se tem uma razão pela qual vale a pena jogar a série Turrican, é a trilha sonora, composta por Chris Hülsbeck, compositor que tá no meu top 5 favoritos, junto com Yuzo Koshiro, o finado Koichi Sugiyama e outros dois zés que não lembro no momento. As músicas de cada jogo são absolutamente fantásticas, em especial as de Turrican II: The Final Fight. Recomendo ir no YouTube e ouvir a trilha de Turrican 2, não vai se arrepender.
Recomendado com ressalvas
Turrican Anthology Vol. 1 e Vol. 2 valem a pena? Pelo lado positivo, tem a comodidade de não precisar ter que emular o Amiga pra jogar os jogos, poder ter eles facilmente acessíveis e tudo mais.
Por outro lado, os jogos estão divididos em duas coletâneas e comprando um ou outro você não vai ter a série inteira. Honestamente, se substituíssem os Score Attacks pelas versões de C64 e adicionassem o jogo de NES, valeria mais a pena.
Turrican Anthology Vol. 1 e Turrican Anthology Vol. 2 estão disponíveis para PlayStation 4 e Nintendo Switch.
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Essa análise foi feita com uma cópia digital de PlayStation 4 gentilmente cedida pela ININ Games.