Estávamos certos: O Stadia fracassou
30/09/2022Para a absoluta surpresa de NINGUÉM, nessa quinta-feira, dia 29 de setembro de 2022, a loja do Google Stadia foi subitamente fechada, sem aviso prévio*, com um anúncio posterior que a plataforma encerrará os seus serviços no começo de 2023.
*haviam rumores de que o Stadia iria pra vala no fim do verão norte americano, mas eram só rumores.
Embora a vontade de simplesmente preencher o resto do artigo com “Hahahahahahahahaha” a exaustão exista, precisamos ser profissionais (pfft) e analisar como um todo, o que levou a esse fracasso do Google no mundo dos games. Por quê uma empresa com recursos, tecnologia e alcance, produziu uma falha tão grande quanto o Ouya?
Esse artigo aqui vai analisar superficialmente, o que levou o Stadia a ser uma peido molhado na indústria dos videogames, sigam-nos os bons. Começando, obviamente pelo ponto positivo da plataforma, que… Não é tão positivo assim, parando pra pensar.
Preço Inicial competitivo… Até a página 2:
O pacote dos fundadores, do Google Stadia foi vendido em um preço inicial bastante competitivo, especialmente se considerarmos os concorrentes da plataforma, no caso, Xbox One X e PlayStation 4 Pro. 120 dólares, contra os valores dos outros, em teoria é um bom negócio. Esse pacote vinha com um controle do Stadia (que é bem semelhante ao do Xbox One) e um Chrome Cast Ultra, além de 3 meses do Stadia Pro, que era necessário para conseguir a melhor qualidade de imagem dos jogos.
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Só que temos dois problemas aqui, logo de cara, na parte monetária. Primeiro, o app para a ativação do Google Stadia só era compatível com o Pixel 4, um celular do próprio Google, se você não tivesse no lançamento (não sei se a situação chegou a mudar depois), PAU NO SEU C*. E se você tivesse previamente um Chrome Cast e quisesse usar ele pro Stadia, PAU NO SEU C* TAMBÉM porque no lançamento, apenas o Chrome Cast que vinha com o Stadia era compatível com a plataforma.
4K… Que não é tão 4K assim, vulgo, propaganda enganosa.
Uma das promessas do Stadia era: “Jogos em 4K, 60 frames por segundo.”. Só que as coisas não eram tão 4K quanto imaginávamos. Após análises feitas, e um dos desenvolvedores da Bungie confirmar, foi descoberto que os jogos do Stadia não rodavam em 4K nativo, mas sim escalonado, os jogos eram em 1080 e esticados para 4K.
Quer dizer, você tá pagando 120 dólares em algo, mais o valor do celular que é compatível com o App do Stadia e adicione aí o valor da mensalidade do Stadia Pro (necessário pro 4K) e possíveis custos extras com jogos. E o que recebe é um jogo com qualidade de imagem pior que no Xbox One X.
Eu não sou uma putinha gráfica, de fato eu cago pra 4K, até porque a resolução de imagem não vai salvar um jogo bosta de ser bosta. Mas convenhamos, a propaganda do Stadia dizia: Nossa plataforma tem mais poder de processamento do que as principais plataformas do mercado COMBINADAS. Isso é um pouco além do PR Bullshit que a gente tá acostumado na indústria dos videogames.
Lançamento Desastroso e limitado a regiões
O lançamento do Stadia foi extremamente desastroso, revelando grande incompetência por parte do Google. Parte disso, você pode conferir no vídeo (lá de 2019) do canal Rerez sobre o lançamento do Stadia.
Muita gente simplesmente não recebeu o produto na data, tendo ele chegado dias depois, pessoas não receberam o código de ativação do Stadia, e sem ele você basicamente estava com um peso de papel em mãos.
E claro, o lançamento foi limitado a América do Norte e partes da Europa, o que no cenário de hoje é algo impensável. Nos dias de hoje, a diferença entre algumas regiões no lançamento de consoles é de dias, ou semanas no mais tardar, com meses em algumas das piores possibilidades. Se você não consegue lançar seu produto em UMA REGIÃO direito, como vai querer levar ele pro resto do mundo?
Falta de exclusivos de peso
O que atrai consumidores a uma plataforma? No Xbox, são os 300 jogos de tiro em primeira pessoa com protagonistas dudebro que os donos só vão jogar se estiver no Game Pass. O que atrai as pessoas ao PlayStation, são os filmes com botões no meio que possuem modelos fotorealistas de gente feia, mas que se você criticar, será chamado de machista, taxista e equilibrista. Enquanto que no Switch, os jogadores ficam extasiados pela chance de pagar 350 reais num jogo que é lançado incompleto e raso, com “conteúdo gratuito por meio de atualizações futuras” que é o chavão da Nintendo pra “completar o jogo”. E no PC, o que atrai o pessoal é a quantidade de jogos pornográficos. Ou pornograficamente baratos.
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E o Stadia? Bem, a maior parte dos jogos eram jogos que já havíamos jogado varias e varias vezes em outras plataformas, ou jogos que podíamos jogar nas plataformas que tínhamos. Boa parte de seus exclusivos, ou não tinham o peso pra chamar alguém pra plataforma, ou eram exclusivos temporários.
E nesses três anos do Stadia, a Google havia feito UMA aquisição de estúdio pra criar jogos pro Stadia, no caso, os responsáveis por Journey to the Savage Planet… Que também saiu pra outras plataformas, e no Stadia… Saiu bugado e permaneceu assim porque o estúdio foi fechado/dissolvido depois do lançamento do jogo na plataforma.
A própria Jade Raymond, que eu fiz piada naquele artigo de três anos atrás, como sendo uma pé frio, ela saiu da barca há MUITO TEMPO, e quando uma pé frio define seu projeto como uma barca furada, é sinal de que ele vai afundar com a eficiência de um Titanic.
In… Put… La… G…
Um dos principais desafios pro Cloud Gaming em geral, é a questão do delay nos inputs que vai acontecer, independente da proximidade com os servidores, afinal, você não está jogando algo em seu computador, mas em um computador alheio. Diabos, input delay é um desafio até pra jogatinas online competitivas, visto a quantidade de jogos de luta que possuem netcode rollback pra otimizar as partidas online o máximo possível.
E enquanto que num RPG de turno ou um jogo mais casual, o atraso nos inputs não atrapalha tanto e é possível se adequar a isso (mesmo não sendo o ideal), o mesmo não pode ser dito de jogos que possuem um elemento competitivo, seja ele um FPS, ou um jogo de ação que requer precisão em inputs, como jogos de luta.
E foi provado por A + B que o input delay do Stadia era terrível, mesmo com boas conexões. Em certos momentos, o jogo lagava a ponto de fechar. E isso era evidente desde a fadada apresentação da Gamescom de 2019, onde o input delay era perceptível no cara jogando Assassin’s Creed: Odyssey.
Marketing quase nulo
Tudo bem, o produto não era dos melhores, mas o Google não ajudou com seu marketing. Quase NADA foi feito pra ajudar o Stadia. Um mês de marketing, mas, nenhuma ação conjunta com Influencers do Youtube.
Digo, o Google tem basicamente o monopólio da distribuição de vídeos com o Youtube, das buscas, com o Google Search e até mesmo na distribuição de aplicativos pra celulares android, com a Play Store. O que foi feito? Absolutamente nada.
Se isso iria ajudar o Stadia a evitar o fracasso? Provavelmente não. Mas o Google sequer tentou.
Loja Horrível
Vocês conhecem o Google, não? Possui a maior ferramenta de busca do mundo. Google it (ou googleia) virou quase um jargão pra mandar alguém procurar algo. Pois é, uma empresa com uma ferramenta de BUSCA não colocou a função de BUSCA na loja de sua plataforma de jogos.
Não apenas isso, mas os jogos na loja do Stadia vinham organizados com todas as variantes de Digital Deluxe e etc., listadas sequencialmente, o que tornava as buscas ainda mais demoradas.
Stadia pra quem?
Me pergunto quem era o potencial público do Stadia. Os donos de PC de alta performance, não teriam motivos pra migrar pro Stadia, eles tem espaço em disco o suficiente para downloads de jogos grandes, e não é como se isso fosse um problema. Donos de PlayStation ou Xbox não tem exclusivos a perder ficando sem o Stadia. Nintendistas, se quisessem uma plataforma pra jogos mais potentes, poderiam adquirir um Xbox ou PlayStation, ou mesmo considerar um upgrade no PC.
Sem contar que um ano depois do lançamento do Stadia, estava chegando a nova geração de consoles, com o PlayStation 5 e o Xbox Series sendo mais do que o suficiente pra desbancar a performance da plataforma do Google, com resoluções chegando a 4K e a taxa de frames chegando a 120. Dessa vez de maneira nativa, e não upscaleada.
Logo, o Stadia teria como potencial alvo, aqueles caras que sempre querem ter a última tecnologia, não importando a experiência. Bem, nem precisamos dizer o quanto essa ideia deu certo, né?
A ascensão da jogatina em nuvem… Feita da maneira correta.
Eu admito, não sou fã de jogatina em nuvem, mas mesmo um cético como eu consegue ver que da maneira correta, Cloud Gaming é um suplemento a jogatina tradicional. A Microsoft e a Nvidia tem bons projetos nesse sentido e mesmo a Amazon tá tentando algo com o Luna.
O GeForce NOW da Nvidia, não é uma plataforma pra você adquirir os seus jogos, mas sim conectar as suas contas de serviços como o Steam, para com o uso de servidores da Nvidia, ter as melhores performances possíveis em nuvem, usando um PC razoavelmente mediano.
A Microsoft, com o Xcloud, faz o mesmo que o GeForce NOW, mas conectado tanto aos jogos que você possui na sua conta do Xbox, quanto do Xbox Game Pass.
E o que é importante nesses dois serviços? Se por algum acaso eles forem extintos, os jogos que você tem, vão continuar na sua conta, podendo ser jogados no PC e plataformas Xbox. O mesmo não pode ser dito do Stadia… Né? Aliás, tanto XCloud quanto o GeForce NOW podem ser aproveitados pelo público brasileiro, coisa que o Stadia não podia. Ops.
Conclusão: Eu estava certo
E eu achando que o Ouya seria o maior fracasso dos videogames na década de 2010, caramba, eu estava errado. Porque daqui a 1 ano, você ainda vai poder jogar os jogos do Ouya (Agora, por quê você jogaria os jogos do Ouya são outros 500), mas não vai poder jogar nada no Stadia.
O fato é que o Google queria pular no vagão do que era popular, no caso, videogames, com o mínimo de planejamento e esperando lucros fáceis as custas de “escravos” das tendências tecnológicas, só que bem ao estilo do Google, eles matam o serviço pouco tempo depois.
No fim das contas, a maior parte das manchetes que o Stadia fez ao longo desses três anos, foi devido as trapalhadas do Google e seus funcionários das relações públicas, porque como plataforma de jogos ela vai carregar menos importância que outros fracassos como o Ouya, o Nokia N-Gage e o Gizmodo. Ele vai ficar ao lado do Xperia Play, como uma das mais desnecessárias tentativas de jogos da história.
É, eu tava certo naquele artigo, viu?
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