Trilogia Enigmatis | Começo promissor, fim desapontador

Um dos meus gêneros favoritos é certamente o de adventure de objetos ocultos. O motivo? Não sei bem, mas é difícil de explicar. Talvez pelo fato de que com o passar do tempo, os criadores consigam contar diversos tipos de histórias, utilizando os mesmos elementos de gameplay. Um jogo com detetives não vai ser tão diferente de um que por exemplo tem elementos de fantasia. Claro que uma das razões para eu ter gostado do gênero, foi que ele evoluiu ao longo dos anos, porque se pegarmos um jogo do começo/metade dos anos 2000 e pegar um de 2014, 2015 por exemplo, eles serão diferentes. Lá no começo, o gênero não passava de uma versão glorificada de “Onde está Wally?”, agora os jogos estão bem mais fluídos, com boa mescla de adventures e puzzles. Claro, você ainda vai encontrar tropes do gênero, como o uso de óleo para algum puzzle e a dublagem ruim.

Agora você deve estar se perguntando… Sancini, por quê caralhos você está falando sobre uma série que nunca ouvi falar? E por quê esse artigo que deveria ter saído em Julho só saiu agora em dezembro? E por quê não tem tanto rule 34 de Galactik Football? Ok, as duas ultimas perguntas são minhas, já a primeira… O post é meu e eu falo sobre o que eu quiser. A verdade é que no imenso mundo dos Puzzles de Objetos Ocultos, Enigmatis é uma das poucas séries que de fato conta uma história interconectada. Porque muitas das outras séries, tanto da Artifex Mundi quanto da Big Fish Games, apesar de terem continuações, muitas vezes as continuações não tem relação com o anterior. As vezes, a continuação do jogo 5 da série é o jogo 8. E a outra série que eu poderia fazer um texto similar, é a trilogia Empress of the Deep, mas o terceiro jogo foi publicado por outra empresa e não está mais disponível no Steam. E é difícil até mesmo achar links… “Naquelas” pro jogo.

Mas sobre o quê é essa série Enigmatis, e porque eu resolvi fazer um texto sobre ela, e não sobre a série Mystery Trackers, que uma das personagens é o meu wallpaper há meses? Talvez pelo fato de que Mystery Trackers tenha dezenove jogos desde 2010, e apesar de contarem com personagens em comum nos jogos (Fatal Lesson por exemplo introduz o trio de personagens que protagonizou o jogo seguinte, Forgotten Voices, mas no jogo supracitado, eles foram personagens secundários), as histórias são independentes, não contam um arco completo, como é o caso de Enigmatis (ou Empress of the Deep). E eu acabei de perceber que usei o mesmo argumento em dois parágrafos seguidos, o que é um sinal de alzheimer. Ou de que eu estou inflando o texto. Vamos a série.

Reprodução: Artifex Mundi

Enigmatis – No geral

Você trabalha como uma detetive, que investiga desaparecimentos de pessoas, a princípio, mas suas investigações levam você a algo maior e mais sombrio do que se pensava. É difícil explicar a série num todo sem dar spoilers, mas é possível dizer que as coisas começam ordinárias, como um jogo normal do gênero (ou um jogo qualquer), mas elas vão escalonando ao ponto de que nas duas continuações, as investigações acabam estando relacionadas com o ponto central da trama.

E enquanto os dois primeiros jogos se passam nos Estados Unidos, a conclusão leva o jogador ao outro lado do mundo. E os capítulos bônus dos jogos, servem como uma prequel aos eventos principais, porém essas prequels não terminam com um final feliz (em especial no primeiro e terceiro jogos), e de certa forma acaba sendo irrelevante jogá-las, porque o necessário para o entendimento dos pontos e personagens abordados nessas prequels, são perfeitamente explicados nos jogos em si

Reprodução: Artifex Mundi

Enigmatis: Os Fantasmas de Maple Creek | Conheça o Pregador

Lançamento: Setembro de 2011 (PC)/2014(Android/iOS)/Abril de 2016 (Xbox One)/Janeiro de 2017 (Playstation 4)/Junho de 2021 (Switch)

Plataformas: PC, Android, iOS, Xbox One, Playstation 4, Nintendo Switch

Versões jogadas: Playstation 4 e PC

Imagine-se acordando depois de uma ponderosa tempestade enquanto o sol se põe. Você se encontra fora de uma pequena cidade ao lado da estrada. Um calafrio percorre a sua espinha enquanto seu corpo se lembra dos dramáticos eventos recentes que a sua mente não consegue ou não vai lembrar…

Você ousará resolver o mistério antigo de Maple Creek? Que antigo mal se esconde nas terras aparentemente pacíficas e pastorais de Vermont? Encontre uma adolescente desaparecida e salve-se na emocionante história de detetive, “Enigmatis: Os Fantasmas de Maple Creek”, um incrível jogo de aventura de quebra-cabeça de objetos escondidos!

É, eu roubei o resumo do jogo do Steam, mas dá um tempo porque tem meses desde que joguei. A primeira oportunidade que tive de jogar, foi quando o jogo foi adicionado ao catálogo da Playstation Plus Extra, e não lembro se cheguei a conquistar todos os troféus, mas isso é irrelevante pro assunto aqui. Em meio as investigações do desaparecimento de uma adolescente, somos introduzidos aos três personagens principais da série: A detetive que no caso, é a nossa personagem jogável. Um segundo detetive (Hamilton) que está atrás de respostas de um caso antigo ocorrido em Maple Creek, e o Pregador, que é um vilão que, tecnicamente, deveria estar morto há muito tempo, mas não está.

Um dos pontos mais positivos da narrativa do primeiro jogo é que ela não fornece TODAS as respostas para as questões levantadas durante o jogo, e a prequel nos coloca no papel do detetive Hamilton vinte anos atrás tentando encontrar sua noiva, que foi mais uma das inumeras vítimas do pregador. No fim, apesar de estarem com o destino do pregador nas mãos, eles acabam poupando o sacripantas, que consegue fugir.

Reprodução: Artifex Mundi

Enigmatis 2: As Névoas de Ravenwood | Trégua Temporária

Lançamento: Setembro de 2013 (PC)/2014 (Android/iOS)/Novembro de 2016 (Xbox One)/Maio de 2017 (Playstation 4)/Maio de 2018 (Nintendo Switch)

Plataformas: PC, Android, iOS, Xbox One, Playstation 4, Nintendo Switch

Versões Jogadas: Playstation 4 (Demo), PC

Um ano se passara desde os eventos de Maple Creek. Mas nos últimos meses, a detetive esteve na trilha do pregador demoníaco que ela combateu um ano atrás. Porém, ele parece estar sempre um passo adiante. Ela espera terminar essa caçada nas florestas de Redwood, ao Norte da Califórnia. Porém, como antes, a trilha havia esfriado. E todas as pistas levam ao Parque Ravenwood…

E é claro, que como antes, tudo começa com um acidente que nos leva a investigar um desaparecimento. Dessa vez, precisamos achar os pais de uma menininha que foram levados por uma estranha criatura. Uma das coisas que torna a série Enigmatis (e jogos de Objetos Ocultos num geral) fáceis de serem jogados, é que usualmente eles ficam BEM baratos em promoções do Steam, então numa promoção, dá pra adquríl-os por 3, 4 reais de boa.

Aqui, descobrimos muito sobre o passado do pregador, que ele faz parte de uma organização demoníaca reunida por um demônio (jura? Achei que fosse reunida por um advogado), e em troca de “imortalidade”, o que o demônio pede deles é serventia. Porém, para ser digno de se tornar o próximo hospedeiro dele, o membro deveria ser o último sobrevivente, o que fez os membros da organização matarem uns aos outros ao longo dos séculos, restando apenas dois. O pregador e um outro membro que permanecia na encolha fazendo tretas no Parque Ravenwood. E devido a circunstâncias do jogo, somos obrigados temporariamente a nos aliar ao pregador.

Os eventos do jogo obviamente se desenrolam para a conclusão da trilogia, já que no fim do jogo, o pregador consegue matar o outro membro, restando apenas um macabro ritual para ele se tornar o hospedeiro do demônio, nos levando ao clímax, que acontecerá no terceiro jogo.

Reprodução: Artifex Mundi

Enigmatis 3: As sombras de Karkhala | Corrida contra o tempo

Lançamento: Agosto de 2016 (PC)/Setembro de 2016 (Android/iOS)/Abril de 2018 (Xbox One e Playstation 4)/Outubro de 2021 (Nintendo Switch)

Plataformas: PC, Android, iOS, Xbox One, Playstation 4 e Nintendo Switch

Versão jogada: PC

O pregador demoníaco escapou para uma região montanhosa remota, em busca de um segredo sombrio que poderá lhe dar o poder supremo. Ele já escapou da detetive e de seu parceiro Hamilton duas vezes: uma em Maple Creek, e na outra, em Ravenwood. Não é nenhum mistério que dessa vez, a parada é pessoal.

Há uma espécie de corrida contra o tempo aqui, porque se o pregador conseguir o que deseja, o demônio o usará como hospedeiro e isso pode decretar o fim da humanidade. Então ainda que haja buscas, estamos no agora ou nunca, e pra ser honesto… O final é um cadinho anticlimático. Algumas das coisas acabam sendo previsíveis, a ponto de eu sequer me prestar a jogar a prequel bônus… Por quê eu me daria ao trabalho de jogar com um personagem que já está morto no jogo principal e todas as interações que tive com esse personagem, na verdade era o pregador disfarçado? Digo, nas prequel bônus dos dois jogos anteriores, jogamos com Hamilton (no primeiro) e a desmemoriada que esqueci o nome (no segundo), e apesar de não terem finais felizes, os dois personagens estavam vivos ao final dessas pequenas aventuras.

Por fim, os heróis vencem o mal, afastam o temporal e a detetive adota a menininha que tá na capa do jogo e tinha ficado sem um lar ou coisa do tipo. Ou eu tirei isso do cu porque tem alguns meses desde que joguei esse jogo.

Reprodução: Artifex Mundi

A Jogabilidade

Enigmatis funciona como um Adventure de Objetos Ocultos normal, dividido em três seções de jogabilidade. A primeira é a navegação e coleta de objetos que vão ser usado em seções específicas. Isso é padrão de qualquer adventure, ou jogo de objetos ocultos. Temos a parte onde é preciso achar uma quantidade de objetos em cenas especiais, e as vezes a tradução escorrega um pouco no nome do objeto. Desses objetos, geralmente um deles é pegado para ser usado futuramente.

E por fim temos quebra-cabeças, que vão de simples a levemente complexo em termos de dificuldade, mas caso você esteja emperrado, com algum tempo de puzzle, é possível pulá-lo. E nas cenas de objetos ocultos e na navegação pelos cenários, é possível utilizar dicas de onde ir, ou onde está algum objeto pedido na cena. Só que isso vem a um custo, no caso, se você quer todos os Troféus ou Conquistas do jogo.

No caso de Enigmatis, há um outro ponto na jogabilidade, que são as áreas de dedução, usadas no primeiro e segundo jogos da série (que lidam com desaparecimento de pessoas), já que objetos e pistas coletados podem ser utilizados para fazer ligações entre coisas que vão determinar futuros passos de sua investigação. Honestamente, é algo bem divertido, assim que se pega o jeito. Claro, tem o ponto fraco de que uma vez que se sabe a resolução dos puzzles e cenas de objetos ocultos, não há um fator replay, mas isso pode ser dito por exemplo também em relação a série Ace Attorney, e muita gente volta a jogá-la porque é divertida.

Reprodução: Artifex Mundi

Audiovisual

Esse ponto é uma faca de dois gumes pra série, tanto no departamento de áudio, quanto no de gráficos. Primeiro, o visual de um adventure de objetos ocultos pode causar estranhamento a um marinheiro de primeira viagem, porque ele é um misto de 2D que tenta fazer parecer 3D (e em alguns jogos do gênero, modelos em 3D são de fato utilizados pra cutscenes) com uns truques de perspectiva, e as vezes a movimentação da boca dos personagens falando em cenas parece bizarra, porque os personagens tem proporções realistas.

Mas os cenários, e toda ambientação visual é bem bonita. Na parte sonora, apesar de não ter trilhas memoráveis, o design de som ambiente e efeitos sonoros do jogo é bem feito. Em contraponto, a dublagem é oito ou oitenta, ou temos personagens decentemente dublados, ou é uma tragédia canastrona onde chamaram a tia da faxina pra fazer a protagonista.

Reprodução: Artifex Mundi

Conclusão

Enigmatis nunca colocou o mundo em chamas, nem teve a intenção disso. De fato, passa longe de ser minha série favorita de Objetos Ocultos. Mas ainda assim, tem a honra de ser uma das poucas séries do gênero que de fato possui um arco de narrativa. E além disso, são três jogos decentes do gênero, e não são caros de se obter numa promoção.

A trilogia Enigmatis está disponível para PC, Android, iOS, Xbox One, Playstation 4 e Nintendo Switch.