Phantasmagoria 2 | Eu sou louco? Eu sou louco? Eu não to louco!
02/01/2023Como iniciar esse review após terminar um jogo? A única forma que eu consigo é com um longo, profundo e audível suspiro.
Quando criança, lá pelos meus 7-10 anos, os jogos para computadores eram bem caros, tal como os de videogame. A forma mais comum que tínhamos de nos divertir era com jogos demo que vinham em revistas. Lembro de ler a análise do Phantasmagoria 2 nessa época na CD-ROM Today e ele me a chamou atenção.
Ao longo dos anos fui desenvolvendo interesse por point-and-click como: Torin’s Passage; Leisure Suit Larry; Monkey Island; Full Throttle. Depois migrei para os jogos de escape em Flash e mais recentemente para jogos de aventura como Journey of the Roach, Machinarium e Deponia.
Enfim, fui verificar a versão da GOG. A versão roda em cima do DOSBox e acompanha um manual. Rodei alguns segundos de jogo mas senti dificuldade em alternar as telas com Alt+Tab e como pretendia realizar streaming da jogatina, fui atrás de uma alternativa.
O jogo roda super bem dentro do ScummVM. Plataforma que recomendo imensamente para qualquer amante (ou não) de point-and-clicks. É possível ainda aplicar alguns filtros de scaling para melhorar os gráficos.
Roteiro de cinema trash, atuação idem
Você inicia o jogo apenas com um vídeo sendo tratado em um hospital/ sanatório e em seguida a mensagem de “um ano depois”. No trabalho, é possível conversar com alguns colegas e ler alguns e-mails, isso te dá um pano de fundo para as relações e passado do protagonista. Um outro momento que aprofunda a história são as consultas com a psiquiatra, lá dá pra entender ainda mais tudo o que se passou e se passa com o personagem principal – Achei muito interessante essa abordagem para ir descobrindo a história.
Porém, o roteiro segue a receita trash dos anos 80: cenas de sexo que não acrescentam a trama e o gore. O horror ficou bem escondido em algum lugar, mas dá pra ir levando… até o capitulo final. No capitulo final tentam explicar os acontecimentos de uma forma que, ao meu ver, parece ter sido a saída mais fácil.
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A interpretação dos atores não é das mais convincentes e alguns efeitos práticos são bem falsos como algumas cenas com sangue e o vilão no final. Não que o contrario fosse mudar a experiência no jogo.
Vale lembrar que a nudez e violência presentes eram comuns em filmes, porém não me recordo de ver esse nível em jogos da época. Carmageddon e Postal só iriam ser lançados em 1997.
Ressalto ainda que a trama do jogo trata de temas não comuns de serem tratados como homossexualidade, bissexualidade, praticas sexuais não convencionais, relacionamento aberto e abuso infantil.
Áudio excelente, mas com ressalvas
A dicção é muito boa e sem sotaques fortes, facilitando para entender as falas. A qualidade também é excelente, em contrapartida com áudios de locução da mesma época que tinham muita compressão (por exemplo Half-Life).
Música também chama atenção, por sinal bastante. Na minha gameplay eu desabilitei pois achei a trilha com piano que toca no apartamento um pouco estridente e também para facilitar ouvir os diálogos. Porém tirei a tarde antes de acabar o jogo para ouvir a trilha e adorei, é um instrumental muito gostoso e recheado de dissonância para te dar aquele ar de desconforto e agonia.
Minha única critica é que é possível ouvir o que produtores chamam de “areia”. Inclusive na trilha presente no YouTube isso também existe, não sendo um problema único da minha emulação.
Gráficos aceitáveis, mas preguiçosos
O jogo é todo filmado e ponto. Na época, a compressão de filmes não era tão boa quanto hoje e as resoluções eram outras. Levando isso em consideração, dá pra tolerar o framerate sem problemas. As scanlines presentes também são contornáveis com os filtros de scaling, pena que eu só descobri no finalzinho da gameplay.
No capitulo final existem muitas cenas que foram criadas com computação gráfica. Elas obviamente envelheceram mal, mas impressionam quando se considera a época em que foram criadas. Basta comparar com os cinematics de Diablo 1 e Warcraft II que são contemporâneos.
Uma coisa que me incomodou bastante foi os personagens usarem a mesma roupa (isso quando estavam de roupa). Visto que cada Dia/Capitulo é um CD diferente, seria possível fazer o personagem ter uma vestimenta para cada dia, porém decidiram reaproveitar as cenas.
Jogabilidade nada agradável
A jogabilidade de um point-and-click tem que ser essa mesma: apontar e clicar. Todavia, em Phantasmagoria 2 as vezes eu clicava e nada acontecia (ou demorava a acontecer), e eu clicava novamente pulando o vídeo que estava sendo carregado.
O uso de itens é bem simples, eles ficam mais claros quando são “usáveis”. Apesar disso, em dois momentos do jogo é necessário combinar itens e a forma de fazer isso não é nada convencional, levando a frustração.
Um ponto que poderia ser facilmente incluído na época é o de legendas. Tanto por questões de acessibilidade quando para facilitar a vida de quem não é fluente no idioma.
Por fim, minha maior critica é que não existe jogabilidade. É um filme interativo e a tarefa do jogador é acionar o maior número de vídeos possível para interpretar a historia. Tem “gatilhos” para ativar algumas cenas que não fazem sentido algum e simplesmente travam o avanço do jogo. Exemplo: olhar no espelho em casa para aí então poder ir em algum destino. Os únicos desafios estão em adivinhar as senhas de acesso aos computadores e o puzzle final.
Considerações finais
Tenho que ser sincero comigo mesmo: Eu esperava um point-and-click e caí em um filme interativo. Ano passado tive minha dose de filmes interativos com As Dusk Falls e A Way Out. Definitivamente não é um gênero pra mim, mas devo reconhecer que Phantasmagoria 2 é uma produção ambiciosa pra época.
Teve um projeto no Kickstarter para remasterização dos vídeos em VHS e existe sempre a possibilidade dos desenvolvedores de ScummVM melhorarem o jogo, no entanto parece não haver certo interesse nessa área e é aquela coisa: não dá pra polir o que já não é necessariamente bom.
Não vou falar o que você deve ou não jogar. Phantasmagoria 2 é uma experiência diferente e tem seu peso histórico. O jogo desenrolou bastante desde a primeira consulta na psiquiatra até o início do quinto capitulo, já o início é bem monótono e o fim é maçante.
Quem sabe já até é um clássico cult, só que com ênfase no cu.
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Abaixo vocês podem conferir a jogatina completa que realizamos em live: