Zool Redimensioned | Análise
22/05/2023Zool é uma série com uma história meio complicada, por assim dizer. O desenvolvimento de Zool remonta ao distante ano de 1989, com o início de uma série chamada Switchblade, programada pela Core Design. Se você não conhece Switchblade, não tem problema, é um jogo que ficou primariamente nos computadores (Amiga, Atari ST, e por aí vamos) e o único console que recebeu o jogo na época foi o Amstrad GX 4000… Se você nunca ouviu falar no GX 4000, sem problema, esse console foi a tentativa da Amstrad de penetrar o mercado de consoles em 1990… Com a arquitetura de um computador de 1984 (O Amstrad CPC), levemente melhorada. Esse console flopou bonito, e fez com que o Virtual Boy parecesse um sucesso. Enfim, Switchblade foi aparecer consoles de fato em 2017 e 2019, com portes para Jaguar (Ouch!) e Mega Drive, respectivamente. Enfim, o jogo fez sucesso o suficiente para garantir uma continuação. E Assim, Switchblade II chegava ao Amiga, ao Atari ST… E ao Atari Lynx. Uma das críticas que Switchblade II recebera, era o ritmo lento e falta de inimigos, comparado a outros títulos de ação com exploração como Metroid por exemplo.
E para Switchblade III, o programador George Allan resolveu aumentar a velocidade e colocar o foco em platforming, só que a coisa estava tão diferente do que eram os jogos anteriores, que Switchblade III foi cancelado, por assim dizer, e retrabalhado como Zool: Ninja of the Nth Dimension. Com o patrocínio da marca de doces Chupa Chups, a ação frenética de Zool garantiu o sucesso do jogo no Amiga, onde é lembrado com nostalgia por aqueles que tiveram o PC. Mas ao contrário de Switchblade que ficou confinado aos computadores, e um console que vendeu 10 mil unidades, Zool recebeu inúmeros portes para diversas plataformas, como Mega Drive, Master System e SNES, dentre outras.
E como todo sucesso garante uma continuação, Zool 2 foi criado por uma equipe nova (apenas o compositor Patrick Phelan retorna), mas apesar das melhorias em relação ao primeiro jogo (de acordo com a crítica), o jogo saiu em menos plataformas… E as escolhidas? O Amiga CD 32 (que eu até gosto), e o Atari Jaguar (além do DOS e Amiga). E esse foi o fim de Zool… Até que nos anos 2000, a (hoje) finada ZOO Digital tentou reviver a série, contratando um estúdio chamado Data Design Interactive para fazer um terceiro jogo… O desenvolvimento do jogo ia bem, do ponto de vista de conteúdo, só que o resultado… Digamos que o fato de não termos Zool 3 é um indicativo da qualidade do produto final. A ZOO cancelou o projeto mais rápido que um leopardo com desinteria correndo pro banheiro. Mas como a Data Design estava relativamente avançada no projeto, eles fizeram algumas mudanças e voilá, Zool sai de cena e entra em campo, Ninjabread Man. Agora você sabe, e saber é metade da batalha.
Passaram-se anos com a franquia dormente, até que a Secret Mode, um dos braços do Sumo Group (que foi formado originalmente por ex-funcionários da Gremlin Interactive, que originalmente publicou o jogo original) resolveu, como um projeto da Sumo Digital Academy, trazer Zool novamente, recriando o jogo do zero*, sob supervisão dos criadores originais. E assim chegou ao Steam em 2021, Zool Redimensioned, um jogo… Que passou completamente batido por mim. Sério. Enfim, isso agora foi retificado, com a Secret Mode lançando o jogo no Playstation. Será que ele vale a pena seu investimento? Confira conosco.
*Os assets são os mesmos do jogo original
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Temos que voltar para casa!
Pouquíssimo contexto nos é dado na pequena cutscene de introdução do jogo, mas basicamente estamos em um planeta não familiar e precisamos não somente encontrar uma maneira de consertar a nossa nave, mas deter a ameaça intergalática do nefasto Krool.
O manual diz que caímos na Terra, mas em meus quase 35 anos ainda não encontrei um local feito de doces patrocinado pela Chupa Chups, mas porque estou questionando a lógica e lore de um platformer de 30 anos de vida? Sei lá.
O fato é que platforming geralmente é um jogo que não nos dá algo muito substancial, principalmente os vindos daquela época. Ou talvez eu esteja só estendendo o texto porque não encontrei piadas o suficiente pra preencher tudo.
Enfim, a história (se é que tem uma) conta pouquíssima coisa, o mais próximo que o jogo nos dá de lore, está na Monsterpedia, no menu extras que funciona como um glossário dos inimigos que o jogo apresenta, mais uma cutscene no começo e final do jogo. Infelizmente não tenho acesso as novels de Zool (sim, fizeram duas novels baseadas nos jogos, nos anos 90) pra poder preencher as lacunas da lore.
Redimensionado, Hardcore e Clássico, não importa como, o jogo é acessível.
A primeira coisa que pode soar um sacrilégio pra quem jogou a versão de Amiga, é que esse remake é baseado na versão de Mega Drive. Meio que se nota pela diferença de backgrounds na primeira fase, onde no Amiga tinhamos um degradê bastante comum em jogos da plataforma, no Mega Drive e subsequentemente no Playstation 4 (E PC), o background é diferente. Enfim, o jogo oferece opções de assistência para os menos habilidosos (ou jornalistas de jogos que não conseguem passar do tutorial de um jogo), que incluem pulo infinito, invencibilidade, e um botão de turbo pros disparos de Zool (esse último item melhora bastante a experiência de jogo na minha opinião). Essas assistências podem ser ligadas e desligadas a qualquer momento no jogo, pausando e entrando nas opções.
Ao iniciar o jogo, é possível escolher o modo Redimensioned, que é uma experiência mais voltada pra marinheiros de primeira viagem, com pulo duplo e a não necessidade de coletar x itens pra terminar a fase, voltado também pra quem deseja fazer speedruns do jogo (o próprio diz isso, não sou eu tirando do rabo porque sou speedrunner). O modo hardcore é um meio termo entre o jogo original e o redimensioned, tendo a restrição de precisar coletar os itens pra finalizar a fase, e não tendo pulo duplo… Mas se você quer embarcar na nostalgia (ou jogar um platformer de Mega Drive), a versão de Mega Drive está disponível no menu Extras, sendo emulado. As assistências que mencionei (invencibilidade, pulo infinito e turbo) valem apenas para os modos Redimensioned e Hardcore, por esse motivo.
Antes de jogar Zool Redimensioned, eu me preparei um pouco, jogando o original de Amiga (já to tão acostumado com a plataforma que usar o direcional pra cima pra pular não me incomoda tanto, já que uso o teclado) e o de Mega Drive, pra me acostumar com o clima do jogo. Apesar da primeira fase ser uma cópia 1/1 do original em Redimensioned, o jogo parece… Diferente. E não é só o fato de termos o jogo em 16:9, podendo ver mais do que está na frente, mas o layout das fases mudou drasticamente. Eu não sei se o jogo mudou no Mega Drive (não fui longe o bastante nele), mas o jogo parece bem diferente do que joguei no Amiga. Não que isso seja algo necessariamente ruim, as fases, posicionamento de inimigos, deixa o jogo mais fluído.
Zool tem três maneiras de atacar inimigos basicamente, pulando em cima deles, usando uma espécie de rodopio (pulando e apertando o direcional para baixo ou o botão dedicado a esse ataque), um ataque (inútil) melee, ou a principal arma dele, um disparo a la Mega Man. Essa simplicidade e a alta velocidade do jogo fazem com que Zool seja uma mistura entre Sonic e Mega Man. A alta velocidade, entretanto é uma bênção, mas uma maldição porque boa parte da dificuldade do jogo vem da alta velocidade, ainda que seja menos gritante aqui do que no original, graças a nova resolução do jogo de 16:9.
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Chefões simples
O jogo possui vinte e oito fases, divididas por sete mundos temáticos. Os mundos, como comentei anteriormente, pera, eu não comentei. Enfim, as temáticas são as que você espera de um platformer dos anos 90, doces, frutas, brinquedos, etc. Tudo começa simples, fácil, até que aos poucos a dificuldade vai aumentando. Apesar disso, é relativamente difícil dar Game Over porque há uma abundância de vidas não tão escondidas nas fases, claro, você as vezes tem que sair um pouco do caminho para pegá-las, mas se você vai pro 100%, coletando os objetos gigantes, deve achar uma vida ou duas pelo caminho.
No quarto ato de cada fase, há uma luta contra um chefe (na versão de Amiga, essa luta fica no tereiro ato se a memória não falha), e essas lutas são absurdamente simples. Cada chefe tem um padrão específico de ataque que é mais fácil de prever do que a raiva que o twitteiro médio tem de qualquer coisa. Claro, essas lutas são mais fáceis se você estiver usando o Turbo porque pode manter um fluxo de tiros constantes sem causar tendinite, já que mesmo se você usar invencibilidade, ter que saber quando atirar pode causar erros se você for um imbecil (como eu). O jogo possui power-up’s, um para aumentar a altura dos pulos, um de invencibilidade (totalmente não inspirado pelas estrelas de invencibilidade, não senhor) e um que invoca um clone de Zool, dobrando o poder de ataque temporariamente.
A versão de Playstation 4 recebeu um modo multiplayer local que não pude testar… Porque só tenho um controle. Esse modo multiplayer também está disponível na versão de PC, via atualização, então se você tiver amigos, tem essa coisinha a mais no jogo.
Em algumas fases, há portais para etapas de bônus, como a etapa de shoot’em up que é relativamente curta e inofensiva. Não há muito a se dizer sobre isso porque na minha jogatina eu só achei um desses bônus, acho que no último mundo… Mas como eu disse, o jogo de certa forma incentiva a exploração, se você quiser fazer 100%, então quem sabe esses bônus não estejam lá por isso?
O que é a benção, também é a maldição
Uma das coisas que Zool sempre foi elogiado, foram seus gráficos, e isso não é diferente em Redimensioned, com cada fase contendo inimigos únicos que combinam com o tema da mesma.
Os cenários são maravilhosamente bonitos e quase uma overdose de cores, com tudo vibrante e animado, como pede os platformers dos anos 90.
Só que há alguns poréns no meio do caminho, já que muitas vezes, alguns inimigos podem ser confundido com partes do cenário e causar dano, especialmente levando em consideração a alta velocidade do jogo. Outra coisa que podiam ter maneirado um pouco, são os efeitos de flash nos power-up’s.
As músicas contam com os temas do jogo original, o que é legal, pois as composições envelheceram bem, não tem muito do que criticar.
Um projeto estudantil de paixão
O que a Sumo Digtal e a Secret Mode fizeram com o projeto de Zool Redimensioned foi excelente em termos da indústria, porque ele foi o projeto de estágio dos estudantes da Sumo Digital Academy, visando dar experiência na programação de um jogo. E apesar de tropeços aqui e ali, o resultado final foi um bom jogo, que mostra que é possível reviver franquias antigas de maneira decente.
Se você curte platformers das antigas, dê uma chance a Zool Redimensioned, não é um jogo caro e é bom pelo valor que cobra. Já vi jogos piores saindo por valores mais altos.
Zool Redimensioned está disponível para Playstation 4 e PC através do Steam, e essa análise foi feita com base na versão de Playstation 4, com um código gentilmente cedido pela Secred Mode.
Nota final: 8/10