Sonic Frontiers | Finalmente um Sonic 3D bom de novo
13/08/2023Sonic sofre bastante com seu famigerado “Sonic cycle“. Para aqueles não familiarizados, é um termo usado pela comunidade para descrever o sofrimento dos fãs da série, que se empolgam com o anúncio de um jogo novo do ouriço, somente para se frustrarem ao ver que o game não é lá essas coisas.
Após o fiasco que foi Sonic Forces de 2017, a Sega e seu Sonic Team resolveram arregaçar as mangas e pararam um segundo para pensar em porque a série não estava dando certo em 3D mais. Para nossa sorte, dessa vez eles estão no caminho certo.
Breath of the Sonic
Claramente a SEGA sabia onde buscar suas inspirações para esse novo jogo. Diferentemente de todas as empreitadas anteriores com a série, aqui temos um game de mundo aberto, onde o personagem pode se movimentar pelo cenário, sem um objetivo específico de início.
Não tem como enganar, gente: tudo aqui foi copiado do sucesso da Nintendo de 2017. A ideia é que você veja um objetivo à distância e vá até lá descobrir do que se trata. Às vezes podem ser inimigos, às vezes podem ser puzzles ou até mesmo itens que liberam melhorias para o ouriço.
Nesse contexto, a SEGA fez o que eu gosto de chamar de Breath of the Lite, uma versão mais suave e miniaturizada do conceito por traz do Zelda de Switch. Temos sim um mundo aberto grande, mas não tão detalhado como no jogo da ex-rival.
Temos diversos pontos de interesse nos mapas (cinco ilhas, para ser exato) em Sonic Frontiers, porém eles se acentuam não por sua aparência, como uma montanha com um formato específico como no jogo que o inspirou, mas sim por marcações simples na interface.
Pontos de puzzles que liberam mais partes do mapa, por exemplo, são marcados por um poste com sigla “M-01” (mudando o número de acordo, evidentemente).
Todo jogo é permeado por esses marcadores que cumprem diferentes funções, e o loop de gameplay consistem e ir com Sonic de ponto em ponto, liberando tudo: mapa, puzzles, pontos-chaves de história, até o embate final.
Narrativa
Nesta aventura, Sonic e seus amigos caem numa ilha misteriosa e precisam enfrentar diversos robôs novos que foram criados num mundo digital que acaba corrompendo e selando seus amigos em várias ilhas, e cabe ao herói azul pelado e de tênis salvá-los.
Com essa estética “digital”, o game aproveita para justificar diversas coisas presentes nele: muitos objetivos como molas, plataformas e corrimãos aparecem na tela conforme você anda (principalmente na versão de Switch).
Além disso, fases clássicas similares as de Sonic Generations também aparecem em portais digitais, como lembranças tiradas do subconsciente do ouriço.
Para completar, seus amigos aparecem em diversos locais do mapa por estarem presos em uma forma digitalizada, e é nessas partes que a narrativa é entregue.
Diferentemente de games anteriores, a história foi encabeçada por Ian Flynn, que trabalhou por muitos anos nas histórias de Sonic feitas pela Archie Comics e IDW. Ele também foi confirmado como responsável pela história das DLCs que ainda irão sair (na data de publicação desse artigo, claro).
Assim, a narrativa se torna mais profunda — em termos de SONIC, é claro — e coesa com games anteriores. Por diversas partes, personagens mencionam ambientes e situações de outros jogos, e aqueles que são familiarizados com essas aventuras antigas, vão gostar de saber que dessa vez as coisas não foram ignoradas. Menos Forces, esse foi ignorado.
Jogabilidade
Um game 3D de Sonic em mundo aberto tem tudo para dar errado em termos de física, sejamos sinceros. Qualquer protótipo de Sonic feito nesse esquema possui esse porém, visto que é muito fácil quebrar a física para fazer Sonic sair voando para lugares onde ele não deveria estar, ou que deveria ir de outras formas.
De início, Sonic Frontiers foi lançado com uma física esquisita, onde o impulso, força e velocidade gerados pela corrida não eram refletidos na trajetória e na velocidade dos saltos. Isso deixava o jogo bem morno, pois a graça é justamente poder conseguir dar pulos absurdos depois de correr em alta velocidade.
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Ainda bem que após os primeiros patches, o jogo te deu essa possibilidade. Não só isso, mas vários fatores, como velocidade inicial, velocidade constante, velocidade de salto e muito mais podem ser configurados pelo menu a gosto do jogador. Parece complicado de início mas após alguns testes eu achei as configurações ideais para aproveitar o jogo, e tudo isso sem quebrar as mecânicas!
Além disso, as melhores partes de Sonic são quando você faz aqueles combos de saltar + ataque teleguiado nos inimigos ou molas + corrimão e aqui em Frontiers temos mapas recheados desse tipo de desafio de plataforma.
Literalmente toda a extensão do jogo é permeada de locais assim, fazendo com que o jogador por vezes sequer se preocupe com o objetivo e fique procurando locais do tipo no mapa para saltar somente pela diversão de fazê-los.
Essas mecânicas foram aprimoradas desde Sonic Adventure até hoje, onde acredito termos atingido a perfeição.
Combate variado
Dessa vez, Sonic não só tem seu pulo com homing attack à sua disposição. Com uma árvore de habilidades curta porém funcional, o personagem agora tem diversos combos que são ensinados em tutoriais jogáveis sempre que o jogo está carregando.
Por exemplo: é possível emendar um ataque teleguiado com um dash para a parede e continuar correndo sobre ela, ou também usar um ataque especial após esquivar dos inimigos.
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Também há um sistema básico de parry, mas que não depende de timing para execução. Talvez isso seja uma facilidade apresentada pois o jogo é primeiramente feito para crianças, e até mesmo o tutorial diz que não precisa usar a técnica no momento certo; apenas segurar os botões de ombro já faz com que Sonic rebata quase 99% dos ataques corporais inimigos.
Trilha sonora
As músicas originais de Sonic Frontiers são muito mais sutis que dos games anteriores, principalmente por que passamos muito tempo em um mundo aberto e nem sempre somente correndo em direção a um objetivo. A temática do game é melancólica de modo geral e isso se reflete nas músicas.
Com um update recente, é possível ouvir as músicas de outros jogos durante o gameplay. Você só precisa coletar as notas musicais espalhadas pelas fases, que elas tocam ao apertar a setinha para direita no d-pad.
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Trouxeram músicas cantadas e instrumentais de games anteriores, indo de Sonic 2 de Master System (?) até versões demo de músicas da banda Crush 40. Incrivelmente, o tema de Green Hill Zone não está presente dessa vez. Ainda bem.
Obviamente também temos trilhas originais, como o ótimo tema “I’m Here” (cantando por Merry Kirk-Holmes da banda To Octavia), que você pode ouvir abaixo. Algumas músicas com estilo techno também permeiam os combates mais intensos, variando um pouco o tom do game em momentos de mais ação.
Ambientação
Como dito acima, Sonic Frontiers tem uma ambientação esquisitamente melancólica. Não só a narrativa mas também os cenários são chapados e que não combinam com o que Sonic é e sempre foi ao longo dos anos.
Não sei se isso veio da inspiração inicial em Zelda: Breath of the Wild, mas até mesmo o filtro azul digno de um filme da série Crepúsculo deixam todo o jogo com um tom abaixo, como se fosse uma aventura triste, destoante até mesmo da proposta recente dos filmes do ouriço.
As fases possuem ciclos de dia e noite, e em algumas delas, a chuva também pode acontecer, deixando a melancolia em nível Creed – Weathered (álbum de 2001). Quem sabe, sabe!
A dublagem também é influenciada por isso. Sonic ainda é dublado por Roger Craig Smith (voz de Ezio em Assassin’s Creed e Chris Redfield), mas aqui ele faz com uma voz mais normal, a ponto de causar até um pouco de estranheza de início.
Os outros personagens ainda possuem aquele tom de cartoon, mas Sonic realmente soa diferente de outras empreitadas com o personagem.
Localização
Acredito eu que esse seja o primeiro Sonic de consoles com localização oficial em português. O trabalho ficou excelente, e estava na mão de uma galera que já trabalha com localização de jogos há pelo menos 12 anos, visto que um dos tradutores aparece como creditado em PES 2011.
Uma tristeza apenas notar que muita coisa permanece em inglês, como a HORRÍVEL decisão de manter RING como o nome dos anéis. Obviamente isso deve ter sido decisão do cliente, porém em nenhuma mídia esse termo é usado. É uma palavra normal, não é um copyright para ser mantido em inglês; e nesse sentido, a Sega cagou feio.
Conclusão
É fato de que Sonic finalmente entrou no caminho certo, porém não dá pra dizer que a aventura é perfeita. Algumas arestas precisam ser acertadas, como a ambientação melancólica e algumas coisas que só foram trazidas de Zelda sem pensar muito se isso se encaixaria na série Sonic.
Espero que a continuação traga mais cor e felicidade para um personagem que voltou a seu auge depois de tantos anos. Os fãs, novos e antigos, merecem mais jogos como esse.
Sonic Frontiers ainda está em constante desenvolvimento, com DLCs ainda não anunciadas, que talvez contarão com mais personagens jogáveis. Não deixe de conferir.
Prós:
- Jogabilidade refinada;
- Mundo aberto gostoso de explorar;
- Músicas de vários jogos anteriores;
- Customização de controles e física do personagem;
- História mais bem escrita que qualquer outro game da série.
Contras:
- Mundo e narrativa um pouco melancólicos demais;
- Mapas sem muitos detalhes e sem muito a ver com a série;
- Falta de polimento em alguns aspectos.
Nota: 7,5/10
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Esta análise foi feita com uma cópia pessoal de Sonic Frontiers para PlayStation 5. Ele também está disponível para Xbox One, Series S/X, PlayStation 4, Nintendo Switch e PC (via Steam).