Alterium Shift | Potencial Old-School
29/10/2023Eu não sou aquela pessoa que cresceu com toneladas de JRPGs na infância, de fato meu único contato com o gênero até a era da adolescência, e emulação, foi Crystalis no NES, e aquele era um RPG de ação. E como obviamente uma criança de seis, sete anos, sabia pouco de inglês, eu não fui muito longe no jogo. E agora, com meu conhecimento em inglês, conhecimento do jogo e tudo mais… Eu ainda não consigo ir longe no jogo.
Então, meu contato com os chamados clássicos do gênero veio no começo dos anos 2000, na minha adolescência, graças a emulação. Final Fantasy IV, Secret of Mana, Lufia, Tales of Phantasia… E é claro, saves apagados se tornaram um trauma. Eu não tenho a nostalgia da geração de RPGs do PS1, nomes como Chrono Cross, Vagrant Story e Wild Arms eram alienígenas pra mim. Não é que os títulos supracitados neste parágrafo não tenham seu valor, pelo contrário, se você tem tempo, conferi-los não trará resultados ruins. A não ser que você não goste de ler.
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Por isso, quando algum título é anunciado pretendendo evocar os clássicos dos 16-32 bits, minha reação é bem parecida com as expressões dos personagens de Crepúsculo nos filmes: Uma cara de nada. Não que eu não possa ter apreciação por tais títulos, mas eles não vão me fisgar na “nostalgia da época”. O que se pararmos pra pensar, é algo mais positivo do que se imagina, já que eu não vou ter o viés de “esse jogo é automaticamente inferior a Chrono Trigger por ter algumas coisas parecidas”, vou julgar o jogo pelos méritos e deméritos, ao invés de ficar evocando comparações a cada cinco minutos.
O título dessa análise, Alterium Shift pretende evocar justamente a sensação de RPGs antigos, mas por outro lado, ainda não está completamente feito, já que o título está em acesso antecipado desde seu lançamento em Julho, e a Gravity Games Arise foi gentil em nos enviar uma cópia para a análise. Eu já tinha certa noção do que me esperava, porque joguei a demo durante o Steam Next Fest do meio do ano, mas nada além disso. Será que ele vale a pena o seu dinheirinho?
Reprodução: Gravity Games Arise, Drattzy Games
Uma Jornada entre dois mundos
Alteria é um mundo dividido. Num passado não tão distante, os elfos negros – que anteriormente se mantinham isolados, mostrando pouco interesse no mundo exterior – lançaram um ataque repentino ao reino dos humanos. Durante a guerra, os alquimistas humanos dominaram os poderes arcanos de Alterium, e foi esse desenvolvimento que permitiu que as forças humanas combinadas repelissem os elfos negros, que aparentemente desapareceram imediatamente após a derrota.
Uma geração depois, o General Dolion – herói da guerra – empreendeu uma campanha para encontrar jovens guerreiros que estivessem em sintonia com Alterium. Ele encontrou três: a teimosa mestra da lança Pyra, o arqueiro compassivo e inseguro Atlas e o feiticeiro travesso e egoísta Sage. Os três estão se preparando para o último teste antes de partirem para o mundo em geral.
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O que nenhum deles sabe é o que exatamente Dolion está testando. Um dos três está prestes a descobrir a existência de um segundo mundo paralelo – e acaba preso lá, deixado para voltar para casa apenas com sua inteligência e o poder mal compreendido de se mover entre as dimensões.
O jogo ainda não está concluído, e no momento, de acordo com os desenvolvedores, a jornada está em sua metade (é uma das vantagens e desvantagens do Acesso Antecipado, há a possibilidade de melhora, mas ainda não se viu tudo o que o jogo pode oferecer), e o jogo oferece um fator replay, que explicarei mais adiante
Uma boa jogabilidade, ainda que faltem recursos
Alterium Shift funciona como um misto de RPGs clássicos, com exploração, combate por turnos, e tudo parece saído de um jogo do PS1 (em especial com os fundos em 3D, também usados em alguns chefes), mas algumas coisas que são comuns em títulos mais modernos, como ordem de turnos e limit breaks.
A maior inovação do jogo vem do fato de que os três personagens, além de terem campanhas levemente distintas, garantindo fator replay, possuem habilidades únicas que podem ser usadas nos mapas para resolver quebra cabeças, abrir caminhos diferentes, novamente, dando um pouquinho de variedade aos playthroughs. No momento, as campanhas dos personagens são relativamente curtas, já que o jogo ainda não foi finalizado.
Porém, nem tudo são flores, já que a exploração de Alterium Shift não é muito intuitiva, não há um Diário para você consultar as side quests já feitas, e durante as batalhas, ainda não é possível ver o HP dos inimigos, o que deixa as coisas um pouco mais na base do decora “quantos ataques matam o inimigo”, algum indicador (o nome mudando de cor, como acontece em Dragon Quest por exemplo) seria já de grande ajuda.
Saído do PS1
Os gráficos de Alterium Shift parecem saídos dos melhores RPGs 2D dos anos 90, com um toque de PS1. Sprite com uma pixel-art belíssima, e cenários de cair o queixo, combinando com elementos 3D. O resultado final é excelente, especialmente considerando que o jogo foi feito por duas pessoas.
A trilha do britânico Jonathan Shaw é agradável e serve bem ao propósito da jornada. Composições competentes, que poderiam ter saído de algum jogo do PS1, ainda que não tenham a grandeza das famosas melodias dos RPGs da época.
Tem potencial
Alterium Shift ainda está em desenvolvimento, então comparar ele com títulos como Sea of Stars, ou clássicos como Chrono Trigger e Dragon Quest seria injusto. O jogo tem uma premissa interessante, funciona apesar dos defeitos e tem bons gráficos. Pelo preço atual, talvez espere uma promoção.
Nota Final: 7,5/10
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Alterium Shift está disponível para PC em Acesso Antecipado, com versões para Switch, PlayStation 4, PlayStation 5 e Xbox a caminho no futuro. Esta análise foi feita com uma chave digital de PC cedida gentilmente pela Gravity Games Arise