Bem Feito | Mas será que foi mesmo?

Bem Feito | Mas será que foi mesmo?

19/11/2023 0 Por Geovane Sancini

Eu devertia ter escrito esse texto há algum tempo, mas algo tem tomado meu tempo faz alguns dias, ou semanas… Graças ao algoritmo do youtube, eu esbarrei em um vídeo, e esse vídeo virou um rabbit hole, e esse rabbit hole me levou a horas e mais horas jogando o Rollercoaster Tycoon original. Mais especificamente, Rollercoaster Tycoon Classic, que combina Rollercoaster Tycoon 1 e 2 (além das expansões dos dois), com melhorias de qualidades de vida (especialmente pra quem só jogou o RCT original, onde você tinha que remover cada árvore manualmente) em um pacote com a interface renovada… Bem, se você não gosta da interface, pode utilizar o jogo em conjunto com o Open RCT2, uma ferramenta da comunidade que em uma primeira olhada, mistura o melhor das melhorias de qualidade de vida de RCT 2 e RCT Classic, com a interface do primeiro jogo. Além do suporte da comunidade, com muitos plug-ins e peças customizadas disponíveis.

Outra coisa que tem me impedido de escrever, é o calor infernal que vem fazendo no Rio de Janeiro, nem ventilador ou ar-condicionado estão ajudando. A temperatura atrapalha na concentração e as vezes eu quero que uma palavra venha a mente, mas tudo o que aparece é QUENTE… Ou meu cérebro e dedos não estão em conjunto, e acabo escrevendo pau ao invés de pai. É horrível. Então, se tem algum review meu atrasado, culpe o calor. Mas, chega de tangentes minhas, porque temos um texto pra acompanhar.

Todo mundo sabe que eu sou um cagão do caralho, quando se trata de terror, diabos, eu tinha medo das Ghost Houses em Super Mario World. Jogar Resident Evil? Só com muita coragem, uma sala bem iluminada e gente do meu lado. Silent Hill? Nem pensar. Assistir filmes de terror? Nem fodendo. Com isso em mente, dá pra saber que o assunto de creepypastas é algo que eu não tenho a menor familiaridade. Eu conheço por alto algumas histórias, como aquela da música assassina de Lavender Town, que supostamente fez algumas crianças japonesas cometerem sudoku (obviamente é só uma lenda urbana). Outra coisa que eu nunca fui muito chegado, são simuladores de vida, como Harvest Moon/Story of Seasons e Stardew Valley. São jogos que tem uma premissa interessante, mas eu não tenho a paciência pra tal.

O que um assunto tem a ver com o outro, você deve estar se perguntando? Simples, meu jovem mancebo, em 2020, a desenvolvedora oiCabie lançou no itch.io o jogo “Bem Feito”, que misturava o gameplay de um lifesim com o clima de creepypastas. Mas o que destacava o jogo era a maneira com que ele era apresentado, criando uma meta nostalgia com um toquezinho de terror. E agora, juntamente com a QUByte, chega aos consoles (e ao Steam), uma versão remasterizada de Bem Feito. Será que o jogo foi mesmo bem feito? Ou será que foi mal feito na boca do prefeito? Confira nossa análise.

Reprodução: oiCabie, QUByte Interactive

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A apresentação de Bem Feito começa meio diferente de um jogo mais tradicional, porque ao invés da tela título normal esperada pra um jogo, o que nos aguarda é a tela do Sistema operacional Garotron, que nos leva a onde temos o manual do jogo “Bem Feito”, que havia sido lançado em 1999 para o portátil Jogaroto (que se o ícone do console não deixa claro, o nome Jogaroto é uma “tradução/paródia” do Game Boy).

Não é a primeira vez esse ano que analisamos um jogo que tem um jogo dentro dele com um sistema fictício, já que esse ano analisamos a visual novel Videoverse, que também tinha no cerne da narrativa, a nostalgia de uma época, só que enquanto que em Videoverse nós vivíamos naquela época, e a nostalgia evocada era para o jogador que era público-alvo, em Bem Feito, estamos no papel de alguém onisciente (possivelmente um desenvolvedor do jogo dentro do jogo?) que recebemos uma rom do jogo perdido “Bem Feito”, desenvolvido pela Megasoft em 1999.

Após fuçar nas “opções” do sistema operacional (E, fora o manual, ainda não dá pra fuçar muito no começo), entramos no emulador e abrimos o jogo, e então a jornada de “Bem Feito” começa, um life sim, tal qual Harvest Moon, onde assumimos o controle de Reginaldo, um moleque com um sorriso na cara e que claramente é um psicopata, e vive no planetinha B-613. Na geladeira da casa dele, há uma lista de tarefas a se realizar a cada dia, e funciona de maneira semelhante a muitos life sims que temos no mercado… Exceto que há um toque de incerteza em Bem Feito.

Algumas atitudes de Reginaldo, aliadas a outras coisas da estética do jogo de como certas tarefas ou textos são apresentados (em especial, textos se movendo de maneira “sus” como diriam os jovens. Já to vendo o Diogo querer cortar minhas bolas por usar um “sus” em texto), e até mesmo a música muda em alguns momentos. Obviamente, o B-613 é uma referência ao planetinha B-612, do Pequeno Príncipe e durante o jogo temos a célebre frase do livro que parodiei nesse texto e milhares de adolescentes na metade dos anos 2000 colocavam em seus perfis do Orkut, ou no nickname do MSN.

Reprodução: oiCabie, QUByte Interactive

Creepy e Charmoso

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A parte estética de Bem Feito recebeu uma melhoria imensa em relação a versão original (denominada Legacy), o sistema operacional estando mais “modernizado”, como se fosse algo atual, enquanto que no original, o SO emulava a estética mais antiga, que alguns podem remeter ao Windows 98.

O jogo dentro do jogo possui um estilo 8-bits monocromático, que é uma mistura do charme de jogos de fazendinha, com uma sensação de que há algo muito errado, especialmente quando vemos o sorrisão na cara de Reginaldo, que parece ser o tipo de pessoa que não hesitaria em lhe convidar pra beber algo pra no dia seguinte você acordar numa banheira cheia de gelo e com um rim a menos.

A trilha sonora é a mesma coisa, são músicas bem compostas, que dão um turno de 180 graus no momento em que as coisas ficam meio… Tensas. A distorção musical é certamente um dos melhores momentos da trilha de Bem Feito, porque bem, a sua espinha fica gelada. Pena que esses momentos musicais são arruinados levemente quando a trilha corta em alguns efeitos sonoros.

Reprodução: oiCabie, QUByte Interactive

Conclusão

Eu admito que sou cagão pra qualquer tema de suspense/terror/creepypasta, então, é de se esperar que eu não recomende Bem Feito pra quem não é chegado nessas coisas. Mas, como aconteceu em Killer Frequency, eu encarei o jogo e vejo seus pontos positivos. Dando um toque de suspense ao gênero de life sims, Bem Feito é de fato… Um jogo Bem Feito… Eu quero morrer depois dessa piada.

Nota: 8,5/10

Bem Feito está disponível para PC, Playstation 4, Playstation 5, Nintendo Switch, Xbox Series S | X e Xbox One. Essa análise foi feita com uma chave de PS4, gentilmente cedida pela QUByte Interactive.