Spider-Man 2 | Análise

Spider-Man 2 | Análise

29/11/2023 0 Por Tony Santos

Em 2018, a Insomniac nos entregou o que pode ser considerado o melhor jogo do Aranha já feito. A ideia de usar a IP de forma mais significativa, diferentemente dos esforços anteriores da Activision — antiga dona dos direitos do personagem –, tivemos um jogo com investimento digno de um AAA, colocado no mesmo patamar que Uncharted, TLOU e God of War.

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O resultado foi incrível. A movimentação do personagem pela cidade de Nova Iorque era perfeita, a história foi muito bem desenvolvida e graficamente, mesmo no PlayStation 4, o jogo beirava a perfeição.

Com isso, uma continuação era mais do que óbvia, e agora em 2023, ela chega ao PlayStation 5, com melhorias e sim, algumas mudanças negativas.

 

Spider-Man 2

Reprodução: SONY

Mudanças no mapa

O game segue a mesma linha que o anterior. Missões são espalhadas pela cidade de Nova Iorque e o jogador, na maior parte do tempo, tem a possibilidade de explorar livremente a cidade para realizá-las na ordem que quiser.

A cidade agora tem duas ilhas a mais, sendo bem maior e mais densa que no jogo anterior. E por isso, algumas mudanças foram feitas: agora, o Aranha tem asas em seu SUVACO, que permite planar pelos céus, podendo navegar mais diretamente.

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Não se trata de um “voo” propriamente dito, mas funciona como se fosse, já que existem alguns círculos no céu à lá Superman (N64), que funcionam como tubos de vento para acelerar o herói nesses voos com asa.

Além disso, a viagem rápida não funciona mais como antes. Não temos mais as estações de metrô. Agora Peter (e o Miles…) podem teleportar para QUALQUER área do mapa. A transição é bem rápida e imperceptível, mas acredito que a maioria dos jogadores nem vai querer usar isso até o pós-game, pois navegar pela cidade normalmente é bem mais prazeroso.

Spider-Man 2

Reprodução: SONY

Combate

Já o combate está muito similar aos dois jogos anteriores. Inspirado ainda por Batman Arkham Asylum (2009), não há necessidade de travar a mira em inimigos. A luta funciona como um balé, onde indicadores visuais na cabeça dos inimigos mostram basicamente qual ação o jogador deve tomar: se esquiva, pula, ou contra-ataca.

O jogador também tem controle sobre como se aproximar dos inimigos usando as teias, por mais distante que eles estejam. Assim, mesmo em lutas em ambientes muito abertos, a luta nunca fica estagnada.

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Em lutas contra chefes, principalmente no modo Difícil (utilizado nessa análise), as ações do jogador importam muito mais, pois a janela de esquiva é bem menor. O jogo conta com alguns Quick Time Events, e esses que já eram poucos no jogo anterior, agora estão bem mais sutis, não atrapalhando a jogabilidade. As lutas contra chefes, por exemplo, não são finalizadas dessa forma, e isso é um ponto positivo.

Reprodução: SONY

Sobre as habilidades, tanto Peter quanto Miles possuem as mesmas dos últimos dois jogos, e com o tempo eles vão conseguindo armas novas. Miles aprende novas técnicas de choque ao longo do jogo, enquanto Peter usa os poderes do simbionte por boa parte do jogo, no lugar das habilidades antigas do game anterior.

História

Acredito que esse seja o maior pecado do jogo. No último game tivemos a dica de que o Venom desse universo não seria o Eddie Brock e sim o próprio Harry Osborne, que devido a uma doença degenerativa, passou por um tratamento utilizando o simbionte alienígena encontrado pela Oscorp anos atrás.

O tratamento aparentemente deu certo, e Harry voltou à vida de Peter e MJ, já que os três eram muito amigos. Harry quer construir um mundo melhor para todos e precisa da ajuda de Peter, então eles fundam a fundação Emily-May, em homenagem a mãe de Harry e a Tia May, ambas falecidas.

O projeto parece que vai dar certo, porém obviamente o simbionte causa um xabú e escolhe se transferir para um hospedeiro mais forte: Peter. E aí temos uma versão nova do clássico arco do Peter malvadinho por causa da roupa preta.

Spider-Man 2

Reprodução: SONY

Essa parte do jogo é relativamente curta, pois dura umas 3 ou 4 missões de história, mas mostra um Peter mais ignorante e egocêntrico. Nessa parte, o protagonismo da história é transferido para Mary Jane e Miles.

MJ agora trabalha para o Jameson, e está tentando escrever um artigo sobre Kraven, O Caçador, que é a ameaça secundária desse jogo. Ele veio da Europa atrás de uma boa caçada, e depois de atacar e matar praticamente todo o restante do Sexteto Sinistro do jogo anterior — além do Homem de Areia — ele vem atrás do Homem-Aranha original.

A história termina em um tom que — para evitar spoilers — não vou falar, mas pessoalmente não combina com o que um Peter Parker de 25 anos faria.

Miles continua sem graça

Já Miles continua sendo aquele protagonista forçado, onde nenhum vilão parece ter ligação direta com ele. Ele tem uma cena com a Gata Negra, onde ela mesma o trata como um aprendiz café-com-leite, e o resto de sua jornada é basicamente servir de herói reserva enquanto Peter não volta a si. De resto, suas missões são menores, pois seu foco é ajudar a tal “comunidade”.

E essas missões do Miles são tão ruins quanto as histórias do personagem. Sabemos que ele existe até hoje pela representatividade, que juntada com a imagem de 60 anos de Homem-Aranha, gera simpatia e claro, dinheiro pra quem é dona da IP (Disney e Sony, nesse caso).

Porém, isso não se traduz em histórias de qualidade. Aranhaverso 1 e 2 são basicamente shows de luzes muito bem animados, mas que usam do fanservice para cobrir a falta de um roteiro original e que pegue o espectador além das 200 versões do herói presentes.

Em Spider-Man 2, isso não é diferente. Morales é como aquele seu amigo da escola que falava baixo ao redor dos protagonistas da turma; um ator coadjuvante em todas as cenas onde aparece vestido de herói. Já nas cenas à paisana, ele se limita a ser um assistente social, basicamente.

Miles passa todas as missões ouvindo sobre como sua mãe vai arranjar um novo namorado ou fazendo tarefas para seus amigos da escola. Em outro contexto — caso ele não fosse um super-herói ainda — isso seria completamente ok, mas essas missões destoam do tom elevado que o jogo tenta te colocar.

Sem spoilers, mas em dado momento o layout da cidade fica um CAOS, e ainda assim você consegue fazer as missões na escola como se o mundo estivesse normal. É bizarro.

Miles tem potencial pra ter grandes arcos em várias mídias, e confesso que essa versão é a MENOS PIOR de todas, mas seus roteiristas precisam aprender muito com o Super Choque.

Spider-Man 2

Reprodução: SONY

 

Conclusão

Spider-Man 2 é um dos melhores jogos da geração moderna da Sony. A jogabilidade é perfeita, a duração é muito boa, por volta de umas 20 horas caso você queira rushar a campanha e umas 30 para fazer 100%.

O desempenho também está ótimo, com Raytracing obrigatório, mesmo nos modos em 60 FPS.

A dublagem em português entrega muito bem, e Mauro Ramos de volta no papel de JJJ (após sua ausência em Miles Morales) foi muito bem-vinda.
Outra aparição completamente DO NADA é a do ator Rodrigo Lombardi (“Caminho das Índias” e “O Astro”) no papel de Kraven, o caçador. A dublagem original também é ótima, claro.

Recomendação obvia para quem está querendo adquirir um PlayStation 5. Não é um bom ponto de partida para quem quer conhecer o universo do Aranha (principalmente crianças), mas é um ótimo simulador do aracnídeo, com certeza.

 

Nota: 7,8

Spider-Man 2

Reprodução: SONY

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Parágrafo extra: crítica ao tom da narrativa

  • Sinta-se livre para ignorar esse tópico caso você esteja feliz com o que foi falado do jogo até agora, e principalmente, se você gostou do game. Cada pessoa tem sua opinião e tudo bem.

Meu maior problema com esse game é a forma como a narrativa e o ambiente geral do game é construído.
Claramente temos um jogo construído com o pensamento progressista americano, e tudo bem. Temos diversidade em vários pontos da história, como alguns personagens LGBT+ em algumas missões e alguns NPCs que deixam clara sua orientação sexual.

Temos também uma NPC não-binária, que na dublagem americana e latina, foi tratada com pronomes neutros. Na dublagem brasileira, foi optado por deixar tudo ambíguo, sem um artigo antes de seu nome. É válido lembrar que a Academia Brasileira de Letras não tem uma definição oficial para o uso de pronomes neutros, então para todos os efeitos, isso ainda é algo incorreto na língua portuguesa, apesar que a abreviação “Dre.” ainda é usada na legenda.

O que estraga é como isso é utilizado de forma a minimizar outros tipos de pensamentos nesse universo;

Reprodução: SONY

Jameson é como em outras mídias recentes, retratado como conservador burro. Ele é claramente escrito como uma escada óbvia para tratá-lo como imbecil e quem conhece as histórias do Aranha sabe que ele é, acima de tudo, uma pessoa inteligente que age como um antagonista do Aranha em histórias mais antigas. Mas em histórias recentes, até foi casado com a Tia May.

A ausência de POLICIAIS na rua, em favor de bombeiros, é mais uma forma da ala progressista expor sua visão “ACAB” (Todos os Policiais são Babacas, em tradução livre). É como se eles achassem que ter policiais numa cidade fosse algo ruim. Retratá-los como parte boa da sociedade seria algo ruim na visão deles, parece.

Vemos vários NPCs falando sobre seus parceiros de mesmo sexo, mas não vemos nenhuma instância de relacionamento heterossexual, tirando dos protagonistas.

Resumindo: o jogo todo parece ser uma propaganda unilateral, enquanto que eles vendem a ideia de inclusão, mas na realidade parece mais uma tentativa de dizer que não existe espaço para nada além desse progressismo que tentam empurrar goela abaixo em todos os jogos da Sony.

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Esta análise foi feita com uma cópia pessoal do game no PlayStation 5. O game está disponível somente no PlayStation 5.

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