Uma coisa que me desagrada bastante em relação a grandes publishers, e até mesmo corporações, como um fã de Visual Novel, é o tom de deboche que essas entidades tratam o gênero, lançando os infames “jogo piada/irônico”, como o Date sim do Coronel Sanders, ou o de Dead by Daylight. O pior é que esse tipo de jogo chama a atenção da mídia, mas raramente traz novos jogadores para o gênero em si. Um gênero que já tem dificuldade de atrair jogadores por não ser focado em alguma ação, mas em história. Aí chegam os turistas e faz o “Date sim com (insira aleatoriedade aqui)”, daí temos um monte de jogos que são desinteressantes e por causa do tema, acaba chamando atenção do público normie e ofuscando visual novels legitimas.

O que isso tem a ver com o jogo de hoje? Bem, o jogo de hoje é uma visual novel, então essa é a minha primeira tangente pro assunto, a segunda é que… Até eu receber os códigos (porque esse é um review em duas partes), eu NUNCA havia ouvido falar da série de webcomics Homestuck. Se bem que meu conhecimento de webcomics se resumia a pouca coisa… Quase nada… Tá, eu só conhecia XDragoon, do Felipe “Yuski” Marcantonio, porque eu era membro do Fórum Portal Sonic no fim dos anos 2000…

Enfim, fui dar uma olhada e Homestuck é MASSIVO, com a história original indo de 2009 a 2016, e o sucesso levou a continuações e spin-offs, como o jogo de hoje. Lançado originalmente de maneira episódica entre Abril e Dezembro de 2018, Hiveswap Friendsim foi portado para consoles agora no fim de 2023 e lançado junto com sua continuação (Pesterquest, que será o jogo da segunda parte dessa análise dupla) em um pacote chamado Pestersim. Mas será que ele vale a pena? Confira conosco.

Reprodução: What Pumpkin Games, Fellow Traveler

Eu só quero amigos

A história de Hiveswap Friendsim se passa durante os eventos de Hiveswap Act 1, point and click também baseado no universo de Homestuck, que foi financiado no Kickstarter, e que nunca joguei… Por motivos óbvios. Não, não é o fato de ser um point and click, mas de ser um jogo baseado numa série de webcomics que nunca ouvi, e ser um jogo que nunca ouvi falar, e só estar disponível no PC.

Você está no papel de um personagem sem nome que acaba caindo no planeta Alternia, sofrendo um acidente com sua nave, se ferindo no processo. Alternia, para aqueles que não conhecem a série (eu incluso), é o planeta natal dos trolls, raça de alguns dos personagens de Homestuck. Mas independente disso tudo, existe uma coisa que seu personagem deseja, almeja mais que tudo… AMIZADES. Naquele local estranho com gente esquisita, você fará de tudo para conseguir amigos…

E é basicamente esse o cerne do jogo, são cerca de dezoito capítulos, onde você tem a chance de ir na rota de dois personagens diferentes por capítulo). Cada rota é extremamente curta, durando entre 5 e 10 minutos, com poucas escolhas. Isso é um positivo, pois dá um certo valor replay, mas por outro, impede alguém que nunca ouviu falar no produto, de realmente apreciar os personagens excêntricos, pois não os conhecemos, o que torna o conceito de amizade do jogo meio superficial.

Para uma visual novel em geral, especialmente se tratando de algo baseado em uma propriedade, mostrar o máximo dos personagens é essencial, coisa que infelizmente, Friendsim não faz. Se você não conhece a franquia, vai ficar perdidinho feito eu fiquei. É uma experiência até agradável, se você conseguir se inserir naquele mundinho, mas a falta de tempo com os personagens não ajuda, uma pena, porque o humor é interessante, e o primeiro volume foi escrito pelo autor da webcomic, acho que vale a pena mencionar isso.

Reprodução: What Pumpkin Games, Fellow Traveler

Musicas variadas, arte consistente e fiel

Graficamente, o jogo conta com uma equipe de variados artistas (se você for um sem vida como eu e consultar a wiki, verá que vários desenhistas foram responsáveis pelos personagens, backgrounds, e telas de final do jogo e os personagens foram traduzidos de forma fiel de uma mídia pra outra. O que honestamente não é algo difícil, já que os designs são relativamente simples. Mas não tão simplistas quanto as artes de finais.

A trilha sonora conta com composições boas, feitas por artistas que já contribuiram para a série, incluindo aí Toby “Radiation” Fox, que em 2009 havia contribuído com faixas pra webcomic, e coordena a Equipe de Contribuição Musical da série.

No geral, o audiovisual do jogo é aceitável, se você é familiarizado com o universo de Homestuck, para todos os outros, pode parecer estranho.

Reprodução: What Pumpkin Games, Fellow Traveler

No PS4, o preço é o lado negativo

Uma coisa que ficou clara durante a análise, é que Hiveswap Friendsim é para quem já é fã da série, mas o que deixa a compra um pouco ainda mais difícil para alguns, é o preço no Playstation, já que o preço na plataforma, é o suficiente para comprar o pack com os dois jogos no Switch (79,90 na plataforma da Sony, contra 75,18 de Pestersim no Switch).

Nota final: 6.5/10

Hiveswap Friendsim está disponível para PC, Playstation 4, Playstation 5 e Nintendo Switch. Esta análise foi feita com uma cópia de PS4, gentilmente fornecida pela Fellow Traveller