Kunitsu-Gami: Path of the Goddess | Análise
10/08/2024Kunitsu-Gami: Path of the Goddess é um jogo da Capcom feito pelo Capcom Development Division 1, o mesmo estúdio interno da empresa responsável por seus grandes sucessos, como Resident Evil e Devil May Cry.
Anunciado em junho de 2023 porém sem muito alarde da maioria dos canais de noticia de games. Talvez por culpa da Capcom que não quis fazer um marketing pesado no jogo, mas o fato é que o game não recebeu um destaque grande como a maioria das IPs da empresa quando chegam ao mercado, principalmente se tratando de um título original.
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Pouco também se falou sobre o gênero do mesmo. Aos olhos de um turista, o game pode parecer um jogo de combate em terceira pessoa como outros da empresa, mas seu gameplay é bem mais complexo e diferenciado que isso.
O que temos em Kunitsu-Gami é um famigerado tower defense, onde o jogador deve construir bases para defender suas “torres”, mas neste game a coisa não funciona bem assim. Além disso, ele também possui elementos de jogos RTS (DotA, LoL, etc), onde você controla um personagem diretamente durante o gerenciamento do restante dos soldados.
História e ambientação
Antes de mergulharmos na jogabilidade do jogo, é interessante dar uma abordada rápida em seu estilo visual e história.
Com uma temática que remete ao período feudal japonês, que por sua vez é intrinsicamente ligado com o folclore da região, o jogo conta a história da Deusa Yoshiro, que é auxiliada por Soh, o personagem principal controlado pelo jogador.
Eles, juntos de seus outros servos, devem passar pela montanha Kafuku, descendo ela em diversas fases/missões, onde eles enfrentam os mais diversos tipos de demônios do folclore japonês.
Tudo isso é bem estilizado e voltado para o realismo fantástico, onde os movimentos dos personagens é baseado na dança cerimonial Kagura, que combina música, dança e teatro para invocar deuses e celebrar mitos e lendas do xintoísmo, que é a religião mais popular do país.
O jogo também é mais um a rodar na RE Engine, mas como não preza tanto pelo realismo, ele se assemelha graficamente muito mais a um Monster Hunter Rise do que a um Resident Evil 4 Remake, por exemplo.
Jogabilidade: Introdução
Como dito no início dessa análise, a Capcom meio que não queria explicar bem sobre o que era o jogo. Talvez por medo do seu gênero de tower defense afastar jogadores mais casuais ou por qualquer outro motivo que seja, mas o fato é que o jogo realmente exige uns 20% a mais de dedicação do jogador do que o seu jogo de aventura em terceira pessoa médio.
Cada fase de Kunitsu-Gami se passa numa área fechada, com alguns caminhos paralelos, quase como um mapa de LoL/DotA, só que bem menor.
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Seu objetivo é fazer com que Yoshiro saia do começo da fase e percorra todo caminho até o portal Torii no final do mapa, para que ela possa purificá-lo e você avance para o próximo estágio.
“Ah, mas purificar pra quê”, você pode ter se perguntado. Então, desse portal saem DEMÔNIOS, que são os mobs que você e seus aliados devem atacar. Eles só saem durante a noite, e por essa razão, você deve preparar suas defesas durante o dia.
Jogabilidade em duas partes: Fase do Dia
O começo de cada estágio do jogo se passa durante o dia. Nessa hora, você deve acumular recursos realizando diversas tarefas no mapa, como purificar almas perdidas, destruir potes, etc.
Esse recurso serve pra diversas coisas, mas principalmente para duas coisas: fazer com que Yoshiro ande pelo mapa durante o dia (seu objetivo principal, lembra?) e para mudar a classe dos aldeões.
Os aldeões em questão são seus ajudantes e podem ser associados com funções como “Lenhador” (soldado), “Arqueiro”, “Xamã (healer)”, “Lutador de Sumô” (tank), “Ladrão”, entre outros diversos tipos de classes.
Você pode alterar a função de cada aldeão a qualquer momento mesmo em combate, porém isso gasta recursos, e o ideal é que você economize o máximo dessa moeda pra fazer com que Yoshiro avance o máximo possível no mapa.
Jogabilidade em duas partes: Fase da Noite
À noite o bicho pega, literalmente. Nessa hora, você não pode mais avançar com a Deusa, mas deve protegê-la dos demônios que saem do portal Torii no final do mapa — e de outros lugares mais pra frente no jogo –.
Os demônios possuem diversas variações; alguns são mais rápidos, outros atacam de longe, alguns só voam e cabe a você decidir a melhor forma de encará-los.
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Essa luta dura a noite inteira, e o loop consiste em você controlando Soh, atacando livremente como em um jogo de hack n’ slash, enquanto divide seu tempo dando ordens ou posicionando os aldeões de maneira a se defender ou atacar da melhor forma possível. Pense no jogo do Pikmin, mas você controla bem menos unidades ao mesmo tempo.
Esse combate não é tão complexo, e por mais assustador que pareça de início, é necessário encarar tudo como um aprendizado. Dificilmente você irá passar das fases mais avançadas de primeira, sendo a tentativa e erro um fator essencial do jogo.
Variações das fases
Nem toda fase é nesse esquema, ainda bem! Existe uma boa variação de jogabilidade em alguns momentos, e o jogo não te avisa de antemão como vai ser a mudança de paradigma.
Temos obviamente as fases de chefes, onde o diferencial básico é que você pode comandar seus aliados a atacarem todos de uma vez ou defender a Deusa todos juntos.
Outras fases fazem com que você não possa atacar diretamente, deixando tudo nas mãos de seus aliados. Isso dá bastante agonia, pois a tendência é que confiemos mais na nossa jogabilidade do que nos aliados. E acho que esse tipo de fase existe justamente para isso; pra fazer o jogador relegar tarefas aos aldeões, que por sua vez, precisam de upgrades, que vamos falar agora
Melhoria das bases e dos aldeões
Depois de algumas fases, o local fica purificado, permitindo que você construa uma base por lá.
Essas bases estão todas danificadas, e você pode comandar seus aldeões para que eles consertem tudo e com isso, gerem mais recursos pra você.
Isso gera um loop onde você visita as bases antigas após passar de cada fase, coloque os aldeões para trabalhar e vá avançar pra mais uma fase. Depois, você volta lá e recolhe o recurso produzido e usa ele pra melhorar cada função dos aldeões, como aumentar o ataque dos lenhadores, melhorar a vida dos arqueiros, etc.
Essa progressão é gostosa, pois você sente que a cada fase jogada, seus personagens estão se fortalecendo aos poucos, o que vai facilitando a luta em fases mais difíceis.
Além disso, essa mecânica faz com que rejogar fases antigas seja mais gratificante, pois a passagem do dia avança os consertos nas bases. Isso sem falar nas conquistas específicas de cada fase, como “passar sem se curar”, ou “evitar que a Deusa sofra dano”.
Cada conquista dessa obviamente vai ficando mais fácil conforme você e seus aldeões fiquem mais fortes, então é válido farmar as fases antigas caso você não esteja conseguindo passar de alguma outra mais avançada.
Referências a Okami
O estilo de Kunitsu-Gami lembra muito um outro game antigo da Capcom: Okami. Por essa similaridade, os devs acharam que seria legal colocar skins tanto para Soh quanto para Yoshiro dos personagens do jogo, além de poder ser possível trocar toda trilha sonora original pelas músicas do clássico de PS2/Wii.
É um bônus divertido, ainda mais visto que o estúdio interno que desenvolveu Okami, o Clover Studio, já foi dissolvido há bastante tempo.
Nem tudo são 花
A tradução ocidental do jogo optou por não mexer muito na estética, seja nos gráficos ou na interface do jogo, obviamente pra manter as referências à escrita e a cultura japonesa. Porém, talvez eles tenham exagerado um pouco nessa fidelidade.
Digo isso porque, mesmo que os textos em japonês estejam quase sempre acompanhados da mesma palavra em inglês/português, nem todos os ideogramas possuem tradução.
O nome dos aldeões, por exemplo, fica ao lado dos personagens o tempo todo, com banners verticais. Porém isso só aparece em japonês, restante ao jogador identificá-los pelo seu símbolo ou por signos visuais, como a arma que carregam.
É uma decisão estranha pois dificulta a criação de algum elo com esses NPCs, fazendo com que eles virem somente peões mesmo.
Isso se estende a alguns outros nomes no mapa que aparecem sem tradução da mesma forma. É compreensível que o jogo já se limite a um nicho que aceita melhor esse tipo de coisa, mas não custava traduzir tudo em tela.
Inclusive, a tradução em si é bem competente tanto em inglês quanto em português, deixando a história fantasiosa bem compreensível, como um livro de conto de fadas japonês.
Conclusão
Kunitsu-Gami: Path of the Goddess é um chute de trivela da Capcom, que tomou iniciativa de fazer um jogo de menor orçamento mas com a mesma qualidade e fineses de seus títulos AAA.
A indústria precisa disso mesmo: jogos que são bem feitos mas que não gastam milhões, e é bom ver isso vindo de uma empresa enorme.
Apesar de ser um tower defense com um “quê” de combate em terceira pessoa, Kunitsu-Gami é bastante acessível é uma boa mudança em relação a tantos outros jogos de estilos parecidos que saem o tempo todo.
Se você quiser tentar algo diferente, saiba que esse jogo é bastante divertido. E caso você já goste do gênero, com certeza vai valer o dinheiro e o tempo investido.
Nota: 7,5/10
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Kunitsu-Gami: The Path of the Goddess está disponível para PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox Series S|X, PC (Steam, Microsoft Store e Game Pass). Esta análise foi feita com uma cópia para PlayStation 5 cedida pela CAPCOM.