Mars 2120 | Quantos metros tem essa vania?
30/08/2024No momento em que escrevo esse review, estou preparando meu currículo porque abriram vagas no Supermercado aqui do Bairro, se eu conseguir, ah muleke, a emoção de não morrer de tédio em casa. Mas vocês não estão aqui pra ouvir os delírios de um gordo desempregado de meia idade. Delírios de um Gordo Desempregado de meia idade, título do seu novo livro de comédia. Enfim…
O desenvolvimento de jogos nacionais percorreu um longo caminho desde a década de 80, antes mesmo dos reskins da Tec toy, com alguns adventures de texto, no ZX Spectrum (ou algum clone de Spectrum lançado no Brasil), temos o reskin de um jogo do Odyssey pro Didi na Mina Encantada. E nos anos 90, tinhamos os reskins da Tec Toy, com jogos desconhecidos ao longe, como Barravento: O Mestre da Capoeira (Amiga), um dos jogos de luta mais boçais que já joguei. E a própria Tec Toy tentou jogos próprios no Master System e Mega, como Street Fighter II, Férias Frustradas do Pica-pau e Duke Nukem 3D. Um outro jogo que chamou a atenção do público nacional no fim dos anos 90, foi o lendário Incidente em Varginha.
No começo dos anos 2000, o que era comum nos PC’s, eram os jogos licenciados baseados em obras nacionais, como o jogo do Big Brother Brasil, os jogos de Sandy & Junior (Aventura Virtual e Acquaria), o Vampiromania (baseado na novela “O Beijo do Vampiro”) e um jogo baseado em Xuxa e os Duendes 2 (que não passa de um reskin de um advergame do McDonalds)… Até o Programa do Ratinho teve um jogo de PC, era uma coletânea de Mini Games… E como não esquecer dos jogos de PC do Show do Milhão (e os dois jogos de Mega Drive). Fora esses jogos, possivelmente se você conhecia algum outro jogo nacional, certamente era algum jogo feito no RPG Maker, já que a cena era incrivelmente ativa em meados dos anos 2000 com inúmeros fóruns e sites.
A coisa começou a andar de verdade com o avanço da tecnologia no fim dos anos 2000 e começo dos anos 2010, mas não podemos descartar nessa retrospectiva, o jogo da Tec Toy pro Nintendo DS, Tim Power/Jake Power: Soccer Star, e os esforços da Ubisoft São Paulo, que chegou a produzir alguns jogos, como as versões de DS e PSP do Michael Jackson: The Experience. E com a explosão indie nos anos 2010, aliado ao Steam Greenlight, muitos jogos passaram a ser publicados no PC, dando visibilidade a equipes de desenvolvimento menores, projetos solo e algumas obras que para o bem e para o mal, se tornaram sinônimos de jogo Brasileiro. Se por um lado tivemos os clássicos da JoyMasher (Oniken, Odallus, Blazing Chrome e Vengeful Guardian Moonrider), por outro, jogos como Mineirinho e Porradaria 2: Pagode of the Night não exatamente ajudam a nossa reputação lá fora.
Claro, jogos bons e jogos ruins vem de todos os países, não é exclusivo dos brasileiros, mas o que quero dizer é que o desenvolvimento por aqui evoluiu bastante, temos nosso jogo de corrida na série Horizon Chase, temos nosso jogo de lutinha com Pocket Bravery (pau no cu de Trajes Fatais), temos jogos que emulam clássicos como Shinobi e Contra, nos já citados Moonrider e Blazing Chrome, temos jogos que trazem a experiência de DKC, com Kaze & the Wild Masks, beat’em up’s como 99 Vidas, e até mesmo jogos que trazem a experiência de Wonderboy, como Wife Quest e A Lenda do Herói.
Mas… E quanto a Metroidvanias? Provavelmente deve ter um ou dois jogos que existam (mais do que isso, é uma hipérbole), porém nenhum que eu consiga lembrar como marcante na minha cabeça. Há um bom tempo, a Qubyte anunciou Mars 2120, seu próprio Metroidvania, com meta para todas as plataformas, mas sem uma data definitiva na época. Em 2022, o jogo era lançado em acesso antecipado, e no começo de agosto, finalmente o jogo chega em sua versão full, para todas as plataformas do mercado. Qual será o resultado final? Quantos metros será que a Vania tem?
Será que há vida em Marte?
Você está no papel da sargento Anna “Thirteen” Charlotte, membro de um grupo de soldados de elite, que foi enviada para investigar um pedido de socorro enviado da primeira colônia humana em Marte, após semanas sem comunicação. A nave de Charlotte acaba caindo na superfície do planeta, deixando-a isolada. Nisso, ela parte para investigar a colônia aparentemente abandonada, descobrindo a verdade sobre o que causou a queda da colônia.
Não é nenhuma premissa inédita, já que é inspirada pelo clichê básico do orgulho e ganância humanas que ocasionam várias merdas ao longo da história, seja na ficção, realidade, ou um misto dos dois.
Só que nem tudo são flores, já que numa imensa coincidência (digo isso da minha parte), a lore do jogo é espalhada por logs encontrados durante a exploração, tornando o storytelling um tanto fragmentado, coisa que curiosamente aconteceu nos últimos jogos que analisei (Mists of Noyah, Veritus e até mesmo Willy’s Wonderland, que tem nada do roteiro no jogo).
O combate é onde o jogo brilha
Mars 2120 é um metroidvania, então, um bom sistema de combate é ordem de caixa para o gênero. Felizmente, o jogo entrega muito no departamento de jogabilidade. O jogo oferece opções de combate a distância, com armas de fogo, e corpo a corpo, com opções de combo, em especial podendo arremessar inimigos em armadilhas ambientais. Além disso, o jogo possui um sistema de elementos, que combinado com as armas e melee, dá um sabor interessante ao jogo.
Mas nem tudo são flores, com o sistema de upgrades sendo meio contra intuitivo. Algumas habilidades são automáticas, assim que se adquire, são usáveis, entretanto outras, é necessário ir até um save point para utilizá-las. As batalhas contra chefes (com exceção das primeiras, onde o jogador está se habituando ao jogo e são simples) são divertidas e criativas, algumas com multiplas fases e ajudam a dar um sal.
O jogo tem uma duração mediana, de 6 a 8 horas, e pelo menos na PSN brasileira, custa menos do que eu paguei por exemplo em Timespinner, e palmas para a QUByte que conseguiu localizar o preço para a PSN Brasileira (Só lembrar da diferença de preço pra coletânea de Top Gear/Racer). E momento print para a posteridade, o jogo é mais barato no Playstation do que no Steam aqui no Brasil. Sim, são 50 centavos de diferença, mas ei, são 50 centavos mais barato.
O principal problema em Mars 2120, são alguns dos bugs e glitches, como na hora do save, onde a tela congela por alguns segundos, ou o personagem ficar em plataformas invisíveis. Mas, o defeito em jogabilidade é a falta de frames de invencibilidade, que na maior parte do jogo pode ser contornada, mas se cair em uma área de espinhos, largue o controle e aguarde a morte.
Funcional em gráficos e sons
Em termos de performance, ao menos no Playstation, é bem satisfatório, atingindo uma taxa de frames estável, a 60 FPS, essencial em jogos onde a ação é constante. Apesar do jogo se passar em uma colônia espacial, Mars 2120 possui uma boa variedade de biomas, com cenários e obstáculos criativos, assim como o design dos chefes. A trilha de Mars 2120, apesar de não ser marcante, é competente, trazendo a ambientação necessária.
Não é prioridade, mas vale a pena
Após dois anos em Acesso Antecipado, Mars 2120 vale a pena, especialmente considerando o preço no Brasil. Mas há outros jogos de maior calibre que você deve ter em seu console. Talvez a QUByte precise polir mais um pouco, aparar os bugs, adicionar iFrames, mas é um jogo sólido.
Nota final: 8/10
Mars 2120 está disponível para PC, PS4, PS5, Nintendo Switch, Xbox One e Xbox Series X|S e esta análise foi feita com uma cópia de PS4 cedida pela QUByte Interactive.