Rage of the Dragons NEO | Porradaria clássica de volta

Rage of the Dragons NEO | Porradaria clássica de volta

09/12/2024 0 Por Geovane Sancini

A história do jogo de hoje começa… Quase 30 anos atrás. Em 1995, a Technos Japan lançou para o Neo Geo, o hoje considerado clássico Double Dragon, um jogo bacana de luta, que é e ao mesmo tempo não é inspirado pelo filme live action, que curiosamente teve TRÊS DUBLAGENS aqui no Brasil, duas para TV e uma para o mercado de vídeo em VHS. Mas enfim, Double Dragon teve um porte para o Playstation. Tá certo que algumas pessoas não curtiram tanto o jogo, mas a máquina de DD de Neo Geo vivia com gente nos botecos que tinha.

Na época, a Technos já estava na pindura, só lembrar o quão prostituíram DD na década, com o licenciamento para a Rare fazer Battletoads e Double Dragon, os quadrinhos da Marvel, o cartoon, o live action, aquele jogo pavoroso desenvolvido pela Leland (aka Double Dragon V) e o horrendo Double Dragon: The Revenge of Billy Lee, da Virgin, no Game Gear… E AQUELA MERDA FOI RAZOÁVELMENTE BEM RECEBIDA. Sério, A Game Pro deu 4,5 de 5, a EGM chamou o jogo de DECENTE, com um score de 60% e a Computer & Video Games deu um scrote de 83%. Cara, e a gente achando que a imprensa de jogos tinha escrúpulos antigamente, mas nãão. Enfim, onde eu estava? Ah, sim, a Technos estava na pindura. A desenvolvedora mexicana Evoga, que tinha em seu portifólio apenas um jogo de futebol para arcades (que na minha opinião, pra arcade, é decente) começou a fazer o design de uma possível sequência para o clássico de Neo Geo, porém, a empresa não conseguira adquirir a licença de Double Dragon, que a Million (companhia formada por ex-desenvolvedores da Technos Japan) adquiriu, assim como as ip’s da própria Technos.

Assim, os mexicanos tiveram que refazer algumas coisas, e o projeto se tornou um tributo a Double Dragon. E para concluir o projeto, foi feito uma conexão entre o México e o Japão, entrando em campo a Noise Factory, empresa surgida de ex-desenvolvedores da Atlus (aliás, fun fact, de Princess Crown, o jogo que a equipe que formaria a Noise Factory produziu, foi dirigido por George Kamitani, que depois formou a Vanillaware) e responsável por Gaia Crusaders e Sengoku 3, dentre outros jogos. Nisso, em 2002, chegava ao Neo Geo, o excelente Rage of the Dragons, que prova que bons desenvolvedores tiram leite de pedra de um Hardware na época, extremamente ultrapassado. Não vamos mentir, o Neo Geo é um hardware do fim dos anos 80, de 1990. Então vendo o que a Evoga e a Noise Factory (com auxílio da Brezzasoft) fizeram em 2002, é impressionante.

Infelizmente, devido a problemas financeiros (especialmente considerando que os arcades já estavam em declínio e a pirataria chinesa era enorme), a Evoga fechou as portas em 2004 (o processo de fechamento se iniciou em 2002), e de acordo com Mario Vargas, um dos membros da equipe, a empresa tinha alguns projetos na manga, incluindo aí uma continuação de Rage of Dragons, um porte do original para PS2… E um spin-off de basquete de The King of Fighters… Mas o jogo, assim como a continuação de Rage of the Dragons, estava apenas em fase conceitual, de acordo com uma entrevista de Mario Vargas para a página Power Geyser em 2019. Enfim. Em 2020, a PIKO Interactive adquiriu os direitos de Rage of the Dragons, e manifestou interesse em relançar o jogo. Mas, se dependesse do que a PIKO fazia até então com seus relançamentos, seria algo bem básico, tipo as emulações que a DotEmu lançava tipo 10, 12 anos atrás. Porém, desde que a parceria com a QUByte iniciou a parceria com a PIKO, as expectativas mudaram… Depois de ser anunciado, uma nova versão de Rage of the Dragons finalmente foi lançada para PC e Consoles. Por quê a análise não saiu antes, você pergunta? Você deu uma olhada no meu backlog, a quantidade de reviews que postei na última semana… Enfim, confiram a análise de Rage of the Dragons NEO.

Um cultista quer enfiar no CULTO de todo mundo

Johann é o líder do culto chamado Dragão Negro, e é visto por muitos membros desse culto como a reencarnação do próprio Dragão Negro, uma entidade que de acordo com uma profecia professante (essa palavra não existe), está destinado a espalhar a destruição, treta e vídeos do Felipe Neto por Sunshine City. Agora, como esses vídeos vão afetar uma população que não fala português, não faço ideia, só precisava de algo engraçadinho pra complementar.

Mas como Johann planeja fazer isso, você se pergunta? Se candidatar a prefeito? Contratar capangas que ficam em posições previsíveis e são facilmente derrotados por combos de três socos? Claro que não, amigo, isso não é um beat’em up (Embora o pitch da Noise Factory para o Project DD era um Beat’em up, de acordo com Mario Vargas), então ele resolve fazer o que todo vilão de jogo de luta tem uma tara imensa… UM TORNEIO. Mas, com exceção dele e de seu subordinado Abubo, o torneio seria disputado em duplas.

O torneio e a presença de Johann atrai uma míriade de pessoas, incluindo uma famosa dupla de irmãos, Billy e Jimmy Le…wis, Lynn, a parceira de treinos de Billy e Jimmy, Sonia uma assassina russa que se apaixonou por Jimmy, e um elenco bem balanceado. Considerando tudo, os personagens e suas motivações, é um elenco carismático, com algumas inspirações em Double Dragon. Obviamente, Billy e Jimmy são Bimmy e Jammy, Abubo foi inspirado por Abobo, Kang foi inspirado por Burnov (primeiro chefe de Double Dragon II e personagem do jogo de luta de DD), Marian faz uma aparição incorpórea, já que Mariah, sua contraparte do jogo e namorada de Jimmy, resolveu fazer como sua contraparte de Double Dragon II, e morreu. Linda, aquela personagem de nome irônico no jogo original, faz uma pontinha como assistente de Abubo.

Luta Tag-team de primeira

Eu não sou PHD em lutinhas como o Sr. Renato Segredos dos Games, ou como o DioRod, sou a merda de um casual no gênero, que curte dar umas porradas virtuais em vários jogos diferentes, tanto que raramente compro jogos do gênero (especialmente porque eles são caros em alguns casos, algo que NÃO SE APLICA AQUI, spoilers, até no PS4 o jogo tem um preço razoável), então vou tentar falar da jogabilidade pela perspectiva de alguém ultra casual que não manja nada de frame data, não sabe fazer combos ou coisas do tipo. O jogo é um jogo de luta (NÃO DIGA, SANCINI, PUTA MERDA, DESCOBRIU O BRASIL) tag-team, mas que não tem o exagero da série Versus da Capcom, estando mais próximo do que KOF 2003 e XI foram. Escolha dois personagens, e é aquilo, caia na porrada com as duplas oponentes, até SNK Boss Syndrome atacar e você jogar seu controle na parede porque mesmo na dificuldade mais baixa, Rage of the Dragons NEO não pega leve.

Em termos de controles, é o típico jogo de luta do Neo Geo, dois botões fracos, dois botões fortes, soco e chute, com os dois fracos dando uma esquiva (com o direcional, a esquiva é pra frente ou pra trás, e em posição neutra, a esquiva é parada. Com os dois botões fortes, um Charge Attack é ativado, onde o jogador pode fazer um combo pré-determinado (o prompt acima da barra de Super ainda usa a nomenclatura do Neo Geo de ABCD, mas é fácil identificar os botões) e dois botões (soco forte e chute fraco se eu não estiver enganado), troca o personagem. E caso o você não queira usar dois botões para isso, há atalhos no controle para esquiva/Charge Attack/troca).

Rage of the Dragons NEO reflete muito a maturidade dos jogos de luta 2D do fim dos anos 90, como Street Fighter III 3rd Strike, Garou: Mark of the Wolves e Martial Masters, sendo acessíveis a novatos com os comandos, mas para aqueles que manjam dos paranauês, resultarem em partidas lindas de se ver. E no caso, o online de RotD NEO possui rollback, então se você quiser se divertir com seus amigos, vai fundo.

O que a QUByte fez com o jogo, olha, é semelhante ao trabalho da Breakers Collection. O jogo possui adições para aqueles que querem melhorar no jogo, com um modo de treino ultra completo, com visualização de hitboxes e tudo que o jogo precisa para te ajudar. Na hora de iniciar a jogatina no modo arcade, você pode ajustar coisas como a dificuldade, tempo do round, o quanto do seu HP restaura ao derrotar um inimigo e coisas assim. Abubo e Johann foram adicionados como jogáveis, o Abubo logo de cara e o Johann precisa de um “truquezinho” que o jogo ensina logo na primeira vez que o jogo é iniciado.

Uma adição da QUByte para Rage of the Dragons NEO, é o modo dos Desafios do Dragão, que quando foi anunciado, achei que seriam trials, mas é, a grosso modo, um modo de sobrevivência. Basicamente, enfrente X adversários + o Abobo e para cada um dos degraus do desafio, a quantidade de oponentes aumenta. É básico, mas é uma adição interessante. Eu preferiria um sistema de trials, mas… Enfim, para o modo versus, é possível jogar com equipes de até 5 personagens, o que é… Interessante.

Crocância pixelada, boa trilha e arte especial.

A trilha sonora de Rage of the Dragons foi composta por Toshikazu Tanaka, que tem em seu currículo, trilhas como a do Fatal Fury original e de sua continuação, além de Sengoku 3 e os Metal Slugs do 4 ao 7, além da série Power Instinct. As composições tem passam a identidade única de cada dupla do jogo. Por exemplo, a dupla Pepe (JÁ TIREI A VELA) e Pupa, tem em seu tema (Cheer Up!) uma pegada animada, misturando a personalidade playboy de Pepe e o espirito capoeirista de Pupa. Já Exorcism, tem o clima “sagrado” de Elias (que é um padre) e um toque profano do espírito maligno que habita Alice. Isso vale para todas as duplas, se puder, separe um tempo pra ouvir a trilha sonora do jogo. Ela é gostosinha… Aliás, dá pra ouvir ela no jogo, no modo Jukebox, e escolher que música irá tocar nos menus do jogo… Uma pena que a dupla especial de Billy e Jimmy (que tem um final próprio) não tem um tema próprio. Num mundo ideal, eles teriam um remix do tema de Double Dragon.

Rage of the Dragons já era um jogo bonito em 2002, especialmente considerando o hardware, e ele envelheceu como um bom vinho, sprites lindos e pixel art dos retratos muito bacana. Apesar de que a foto do Johann quando ele está em Standby ficar saindo pra fora do retrato. A animação do jogo é de primeira, típica dos jogos da SNK da época. Os cenários são bonitos e expansivos, porque eles tem elementos que são interagíveis e quebráveis, revelando mais cenário ainda.

Como todo relançamento moderno de jogos retro, ele tem os já esperados filtros e modos de visualização do jogo, com bordas… E pelo amor de Cristo, NÃO ESTIQUE A TELA. Sim, existe essa opção, mas só criminosos a utilizam. Por fim, temos uma nova arte do jogo, que inclusive é usada nas bordas do jogo, feita por ninguém menos que o brasileiro Fabiano “Zehb” Santos, que se não reconheceu o nome, mas a arte, ele fez a arte de outro jogo que analisamos aqui, Blazing Strike. Pois é, e a arte é de primeira, mais estúdios de lutinha deviam chamar o cara.

Jogue Rage of the Dragons NEO

É um relançamento altamente recomendado. A jogabilidade é primorosa, com bons gráficos, jogabilidade e um preço super em conta. Nos consoles é um pouquinho mais caro, mas vale a pena pelo que oferece. É competente como a coletânea de Breakers. Não há muito o que reclamar.

Nota: 9/10

Rage of the Dragons NEO está disponível para PC, PS4, PS5, Nintendo Switch, Xbox One e Xbox Series X|S. Esta análise foi feita com uma chave de PS4, cedida pela QUByte.