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Dead of Darkness | Como fazer um Resident Evil em 2D
03/02/2025Adaptações 2D de jogos 3D sempre foram algo complexo, porque muitas coisas tem que ser mudadas, a jogabilidade alterada e levado em conta os controles da plataforma em questão, ao menos no passado. Me refiro em específico a era dos portáteis entre 97 e 2002, em especial, Game Boy, Game Boy Color e Game Boy Advance, Neo Geo Pocket e Wonderswan/Color (DS e PSP já tinham potência pra fazer 3D sem engasgar e peidar). Nessa era, recebemos adaptações de franquias e jogos 3D, desde jogos originais (Resident Evil Gaiden, Metal Gear: Ghost Babel) a adaptações de jogos (Alone in the Dark: The New Nightmare, Max Payne). Claro que muitos projetos ficaram pelo caminho, como um porte de Resident Evil, e pelo menos dois projetos envolvendo Dino Crisis.
Claro, que nem sempre os resultados eram satisfatórios, enquanto que o Metal Gear de Game Boy Color e o Max Payne de GBA eram bons jogos, Resident Evil Gaiden tinha uma execução pavorosa, apesar da boa ideia (O combate do jogo é o principal ponto ruim, seguido da arte horrível) e Alone in the Darkness: TNN é ruim, ainda que ele tente emular a versão de consoles.
A história de hoje começa com um jogo singelo de horror chamado Dreamland R, feito no RPG Maker 2000 (ê, saudades) e lançado em 2005, e que em 2010 ganhou uma versão atualizada e revisada, intitulada Dreamland R Final Mix (O título obviamente foi inspirado nas versões Final Mix de Kingdom Hearts), e que ganhou uma tradução pro inglês em 2012 (O jogo foi lançado originalmente em alemão). Haviam planos para uma continuação, que seria chamada de Dreamland R², que nunca foi lançada… (Isso tem mais em comum comigo do que eu imaginava. Versão revisada do próprio jogo, planos de uma continuação nunca lançada?). Eis que em 2022, o criador do jogo, Judeau, anunciou que ele estava trabalhando em um novo jogo que iria utilizar ideias de Dreamland R² e estava em fase de planejamento há pelo menos dois anos.
Com o título de Dead of Darkness, o jogo originalmente iria utilizar o RPG Maker MV como engine, mas devido a limitações técnicas, o criador decidiu trocar de engine e utilizar o GameMaker Studio 2. E depois de dois anos e pouco em produção, agora sob a label Retrofiction Games, Dead of Darkness chegou ao PC na segunda metade de Janeiro, com lançamento também previsto futuramente para os consoles. Será que esse tempo todo valeu a pena? Ou o jogo falha feito minhas tentativas de fazer uma continuação para Força da Amizade? Confira conosco
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Procurando pela verdade
Em 1985, na Inglaterra, o investigador privado Miles Windham segue uma pista sobre a misteriosa morte da sua filha que o leva até à Ilha Velvet. Mas assim que chega à ilha, ele rapidamente percebe que os residentes estão a comportar-se de forma estranha. Na verdade, há uma crescente hostilidade em relação ao investigador que parece tornar-se mais forte a cada minuto. Não demora muito até que a situação se intensifique e Miles se encontre numa luta pela sua própria sobrevivência.
Um detalhe que o resumo do jogo no Steam não detalha da história, é que o jogo é visto do ponto de vista de dois personagens, o próprio Miles, que está investigando o que aconteceu com sua esposa e filha, e Olivia Greene, uma enfermeira que fora contratada para trabalhar na clínica da Ilha Velvet. O jogo nos apresenta inúmeros personagens com suas histórias e motivações próprias, que envolvem os segredos tenebrossos da ilha.
Apesar da influência de Resident Evil, o jogo também bebe da fonte de H.P. Lovecraft, com pitadas de horror cósmico e insanidade introduzidos no jogo, o que dá um contraste interessante a narrativa… O que é verdade e o que foi produto da sua cabeça? E sem querer spoilar o final do jogo, mas… O jogo deixa aberto que haverá uma continuação.
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Resident Evil clássico na veia
Vamos a uma crítica que eu fiz em vários outros jogos aqui no site em termos de gameplay… O jogo não é tão otimizado para o uso do teclado. O que quero dizer com isso? O dev recomenda que joguemos com controle. Mas vamos lá, o jogo bebe da fonte de Resident Evil total, em específico, os primeiros Resident Evils, com o jogador não podendo se mover enquanto atira, a faca para uso quando lhe falta (ou se quer poupar) munição e a exploração da mansão e da ilha.
Até mesmo a função de mudar a cor da sala no mapa quando se acha 100% dos itens, introduzida em jogos posteriores, como o RE Remake foi trazida para Dead of Darkness. Os controles funcionam muito bem, obrigado, mesmo eles tendo sido otimizados para controles e não teclados. Na parte de exploração, obviamente se encontram itens necessários para a jornada, pistas e segredos da lore do jogo e o que está de fato acontecendo na maldita ilha.
O jogo cobre áreas básicas do Resident Evil que aprendemos na terceira série, como inventário e munição limitados, saber quando fugir de uma luta. E como o jogo não pausa, muitas vezes, uma escapadinha para recarregar a arma é o que diferencia a vida e a morte no jogo. Como disse duas frases atrás, fugir as vezes é a melhor opção, porque tem inimigos que podem te matar num ataque só, e as mortes aqui são gráficas e criativas.
Lembra que mencionei da pitada de horror cósmico? Pois é, o jogo tem um sistema de sanidade, e conforme você é atacado por inimigos, mais ablublé das ideias seu personagem vai ficando, até o ponto em que Game Over, Man… Game Over. Sim. Isso dá um toque a mais de cuidado que você precisa ter. Por outro lado, o jogo oferece vários níveis de dificuldade, então mesmo se você for um palerma ou cagão em jogos de Terror (estou olhando para você, Diogo), Dead of Darkness dá pra ser jogado de boa. Outra coisa positiva, é que o jogo sabe utilizar jumpscares, não é como nos jogos de horror modernos (aqueles que Youtubers jogam e gritam feito sopranos de maneira artificial) onde há um jumpscare a cada treze segundos.
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Pixel art boa, dublagem de destaque
A dublagem de Dead of Darkness é muito bem feita, os atores apresentam performances decentes, em especial os dubladores de Miles (Bradley Gareth, August, o assassino em série de Crimson Spires) e Olivia (Abigail Turner, Maddy em Crimson Spires… Fun fact, foi a Maddy que foi minha rota quando joguei Crimson Spires no PS4), já que os dois personagens são os que mais você irá ouvir na jogatina.
Graficamente, possui muita inspiração em seu antecessor, Dreamland R, com os sprites de longe lembrando sprites do RPG Maker 2000, obviamente com muito mais detalhes do que seria possível no RPG Maker original. Os cenários são inspirados em Resident Evil, impossível não navegar na mansão da ilha e não lembrar da Mansão Spencer com uma certa nostalgia. E todo esse cenário conectado é muito bem feito.
Isso sem contar os monstros, oh boy, eles são grotescamente bem feitos, em especial os bosses. esses são, em particular os enormes, o destaque da parte gráfica do jogo. E temos como finalização, os retratos dos personagens, e apesar da diferença ser gritante dos retratos pros sprites, os retratos são igualmente bem desenhados.
Considerações Finais
Dead of Darkness conseguiu ser um Resident Evil bidimensional MUITO MELHOR que o próprio Resident Evil 2D oficial… O que convenhamos, não era difícil. O que quero dizer é, Dead of Darkness consegue se destacar por si só, sem precisar do conhecimento necessário de Dreamland R, ou Resident Evil. É um bom survivor horror com uma jogabilidade boa, gráficos bacanas que vale a pena, e o preço de R$ 39,99 é um bom custo-benefício. Se você curte RE clássico, dê uma chance ao jogo.
Nota final: 9,5/10
Dead of Darkness está disponível para PC, e a Eastasia Soft irá cuidar das versões de PS4, PS5, Nintendo Switch, Xbox One e Xbox Series que serão lançadas posteriormente. Essa análise foi feita com uma cópia de PC, fornecida pela Retrofiction Games