
Macross: Shooting Insight | Comemoração de 40 anos de Macross…
07/03/2025Ah, Macross… Uma das séries quintessenciais de anime de todos os tempos, a mistura entre novela e mechas encantou o Japão no começo dos anos 80, gerou uma franquia e lançou a carreira da Mari Iijima, a eterna voz de Lynn Minmay. Se você é um pouco mais velho e nerd, pode ter assistido a série como Guerra das Galáxias na CNT/Gazeta em 1994 ou no distante ano de 87 nas TV’s Nacional e Guaíba.
Só que a Harmony Gold, que queria exibir Macross dublado nos EUA, se encontrou em uma sinuca de bico, Macross tinha 34 episódios, e as emissoras locais americanas só aceitavam produções com no mínimo de 65 episódios, por conta da exibição diária (ao invés do semanal usado nos populares cartoons das manhãs de sábado lá, ou os animes no Japão). Então, o que a Harmony Gold fez, além dos direitos de Macross, a empresa adquiriu os direitos de outros dois animes, Southern Cross e Mospeada, reescreveu e adaptou um bocado de coisa, e transformou os três animes em um produto só, Robotech. Por mais alienígena que isso possa parecer, não é algo incomum nos EUA, afinal, uma das franquias mais lendárias da cultura pop, Transformers, veio da junção de duas linhas de brinquedos diferentes no Japão. E nos anos 90, pra aproveitar a onda de Power Rangers, a Saban adaptou três Metal Heroes (Metalder, Spielvan e Shaider) em V.R. Troopers. Assim como Macross no Japão, Robotech fez um tremendo sucesso nos EUA, em especial, o primeiro arco, intitulado Macross Saga e foi dublado duas vezes. Uma para VHS, em São Paulo (foram dublados oito episódios) e uma para TV, no Rio de Janeiro. Inclusive essa dublagem possui um elenco parecido com a de Macross.
Enfim, tudo seria apenas algo normal, se não fosse o fato de que a Harmony GOLD durante ANOS bloqueou a chegada de qualquer produto de Macross ao ocidente, raras eram as coisas que chegavam aqui, como o OVA de Macross Plus. O caso da Harmony Gold atrasou a vida de jogos de tabuleiro como Battletech (que havia licenciado o visual de alguns mechas com os produtores de Macross) e MechWarrior. Lembre-se da Harmony Gold porque será importante no review de hoje.
Macross teve diversos jogos ao longo dos anos, quando eu tinha meu blog pessoal quinze anos atrás, eu cheguei a fazer análises, ainda que superficiais, dos jogos de NES (baseado na primeira série), Super NES (baseado no filme), Arcade (Baseado em Macross Plus) e Game Boy Color, baseado em Macross 7. E como adendo, eu também cheguei a analisar o jogo de GBA de Robotech, baseado na saga Macross. E isso é só um micron dos jogos que foram lançados.
Assim como em 2012 a Bandai anunciara um jogo comemorativo pros 30 anos da série (Macross 30: Voices Across the Galaxy do PS3), em 2023, para o aniversário de 40 anos, a Bushiroad anunciou um jogo comemorativo de Macross, que seria desenvolvido pela Kaminari Games (Caladrius, KOF Sky Stage, Raiden III, IV e V) e o lançamento e originalmente seria lançado ainda naquele ano para PC, Playstation e Nintendo Switch. Mas, como atrasos são normais, o jogo foi adiado duas vezes no Japão, primeiro para Janeiro de 2024, depois para Março, com uma diferença de duas semanas entre as versões de console e PC.
A RED Art Games anunciara que traria o jogo, e a versão ocidental também teve um pequeno atraso, originalmente prevista para dezembro de 2024 (O site da Bushiroad Games ainda lista como data de lançamento o dia 8 de dezembro pra versão ocidental), o jogo chegou aos consoles ocidentais em Fevereiro de 2024. Será que ele vale o tempo e dinheiro gasto?
Uma saga multidimensional e multifacetada
Aqui é hora de novamente lembrar o seu ódio pela Harmony GOLD. Na versão japonesa física de PS4 e PS5 do jogo, o conteúdo relativo ao filme “Macross: Do You Remember Love?” estava presente, sendo esse um DLC para as versões digitais dos consoles e do Steam, porém, esse conteúdo extra foi excluído das versões ocidentais do jogo, porque a empresa impede qualquer coisa relacionada ao Macross original no ocidente (Por exemplo, a série original de Macross e o filme só estão disponíveis em streaming na Star+ japonesa) por conta de Robotech, sendo que a última coisa que a Harmony Gold produziu de Robotech foi Robotech: Love Live Alive de 2013, uma adaptação do OVA de Mospeada de 1985.
Voltando ao jogo em si, Pilotos, cantoras e personagens de cinco séries MACROSS (MACROSS Plus, MACROSS 7, MACROSS Zero, MACROSS Frontier e MACROSS Delta) são os protagonistas de uma história original e inédita. Quando múltiplas dobras dimensionais acontecem subitamente no espaço-tempo, pilotos e cantoras são transportados misteriosamente para a Batalha 7. A partir daí cinco histórias se desenrolam, tendo o destino da galáxia em jogo.
Sim, o roteiro de Macross: Shooting Insight é genérico pra caramba, é literalmente, DESCULPAS pra usar os personagens juntos, o que prova que não houve muito planejamento para esse jogo em termos de roteiro. Digo isso porque Macross 30 era um jogo superior e canônico nesse aspecto. Por outro lado, mesmo que através de uma desculpa esfarrapada, é legal ver personagens de diferentes eras de Macross interagindo juntos. Novamente, pena que devido a porra da Harmony Gold, não vemos interações com parte do elenco do Macross original, a exceção é Maximillian Jenius, que faz parte do elenco de Macross 7, e Roy Focker, eu disse Focker, que faz parte de Macross Zero.
Multiplos shooters em um só
A Bushiroad Games no anúncio se referia a Macross ~Shooting Insight~ como um shooter multidirecional. Bem, a verdade é que… O jogo são três (ou quatro) shooters em um só. O modo principal é o história, onde você joga por 11 fases, a escolba de cinco personagens diferentes, e essas escolhas interferem em como a história é contada, isso é, o ponto de vista do personagem em si. Cada um dos personagens tem características diferentes, ainda que todos funcionem mais ou menos da mesma maneira, então a escolha do piloto vai da afinidade do jogador com a série escolhida. Isso também vale para os cantores que auxiliam o jogador durante a partida.
A jogabilidade é dividida em quatro tipos de shooter, um de rolagem horizontal, um de rolagem vertical, um onde o jogo se transforma em um twin-stick shooter, e um em terceira pessoa onde se vê a nave por trás em um estilo mais on-rail shooter (A la Space Harrier/Galaxy Force II). Como todo bom shooter, não é difícil entender como joga, mas ao menos para não ser só um shooter genérico, Macross ~Shooting Insight~ coloca um pouco de Macross dentro do jogo, com o recolhimento de itens durante as fases, é possível ativar auxílio dos cantores para buffs para o jogador e debuffs.
A dificuldade do jogo é balanceada, mas caso você seja o pereba das navinhas dá pra jogar em dificuldades mais baixas. Por outro lado, fãs de longa data de Macross vão se deliciar com os desbloqueáveis para o modo Galeria (visível após terminar o modo história, que desbloqueia o resto dos modos) e a oportunidade de encenar batalhas épicas no modo de batalha contra rivais. Novamente trago aqui um motivo para odiar a Harmony GOLD por conta da omissão forçada do conteúdo do Macross original. Porque por mais que o jogo seja bom, você tem a sensação de que falta algo.
Em termos de performance, o jogo funciona bem, mesmo em Hardwares mais fracos como o Switch (pra isso eu tive que consultar um review da versão de Switch), mas por alguma razão inexplicável, a versão de PC do jogo (publicada pela própria Bushiroad, e disponível em inglês desde dezembro) pede 16 GB no MÍNIMO pra rodar. Vai entender.
Faltou Voice Acting
Se você é fã de Macross, o jogo contém em sua trilha sonora, músicas marcantes da série, mas é claro que graças a Harmony GOLD, não há conteúdo de Macross, então nada das marcantes canções de Mari Iijima. Mas, tenha você assistido alguma das outras séries, então certamente ouvirá Planet Dance de Macross 7, ou alguma música de Frontier, Delta, Zero ou Plus que você goste. Infelizmente eu não assisti nada de Macross com exceção do 7 e conheço algumas músicas da série original.
Infelizmente o cuidado que a produtora teve ao escolher as músicas não se estendeu ao fato do jogo não ter uma dublagem completa do modo história. Digo, os personagens tem algumas falas durante as fases (uma coisa que achei curiosa, é que mesmo com a Tomo Sakurai, a voz da Mylene Jenius, tendo saído da aposentadoria em 2019 [Ela havia se aposentado em 2016 por problemas na garganta], a Mylene foi substituída pela Aya Hirano no jogo.), mas é só isso. Então apesar dos dubladores retornarem para dar uma palhinha aos seus papéis, eles não foram muito utilizados, o que diminui um pouco o valor das coisas, e mesmo essas pequenas falas ficam repetitivas ao longo do jogo.
Graficamente, ele é decente. Não chama tanto a atenção, mas é um jogo relativamente bonito. Ainda que muitas das batalhas sejam “No Espaço”. As cenas do modo história são contadas num estilo Visual Novel, mas como conteí no parágrafo anterior, a falta de uma dublagem machuca o jogo.

Um bom jogo, mas…
Como comemoração dos 40 anos de Macross, Macross ~Shooting Insight~ chega quase lá. Como um shooter, é muito bom. Mas é aquilo, ele carrega o nome Macross, e graças a PORRA DA HARMONY GOLD, não tem conteúdo do primeiro Macross no jogo. A jogabilidade funciona bem, os gráficos são competentes, faltou dublagem, as músicas são boas. Só que Macross 30 era um jogo MUITO MAIS COMPLETO como jogo de aniversário. Se ele não fosse um jogo de aniversário, eu daria pelo menos mais meio ponto na nota final. Claro, que uma coisa a se deixar claro, 90% do que critiquei, foram coisas fora da alçada da distribuidora ocidental, a Red Art Games (talvez o adiamento de dezembro pra fevereiro). E o preço no Playstation (R$ 199,50) é praticamente o dobro do PC(R$ 107,99) e 1/3 mais caro do que no Switch (149,50), isso tem que realçar. Sério, a taxa Playstation precisa acabar.
Nota final: 8/10
Macross -Shooting Insight- está disponível para Playstation 4, Playstation 5, Nintendo Switch e PC, e esta análise foi feita com uma cópia de PS4 fornecida pela Red Art Games.