Glover | O clássico do N64 está de volta

Glover | O clássico do N64 está de volta

13/03/2025 0 Por Geovane Sancini

Eu sinto falta de quando os jogos tentavam ser experimentais. Era uma coisa que acontecia com frequência até a geração Playstation 2, onde jogos tentavam coisas para se destacar. Nem sempre conseguiam, mas era legal ver eles tentar. Sem Operation WinBack (Do Omega Force), não teríamos Gears of War, já que o “cover no murinho” foi introduzido lá. Sem o escudo-iô-iô de Rygar do PS2, não teríamos as Blades of Chaos de God of War, sem o Reino Unido, não teríamos jogos que colocam um monte de minigames como jogabilidade e é medíocre em todos. Eu tinha outra analogia em mente quando comecei a planejar esse texto, mas eu esqueci.

Enfim, a partir da geração PS3, com os orçamentos subindo cada vez mais, experimentar ficou cada vez mais arriscado. Então, você só tinha duas opções, ou se apegava a IPs legado, ou copiava fórmulas de sucesso, as vezes as duas coisas no mesmo jogo, como Castlevania: Lords of Shadow que juntou o Hack’n Slash de God of War com a temática de Castlevania. Se foi um sucesso, é questionável, mas a desenvolvedora Mercury Steam ao menos sobreviveu o suficiente para fazer dois Metroids. O fato é que fora da esfera índie, experimentação se tornou algo mais raro na indústria dos jogos.

Agora… Você já parou pra perceber que a emulação de Nintendo 64, mesmo quase 20 anos após o console… Ainda é relativamente uma merda, se o jogo não é Super Mario 64? Existe uma boa razão para muitas leaderboards de speedruns de N64 serem altamente restritas com emuladores. Não é pelos caras serem cuzões (na maioria das vezes), mas sim pelo fato de mesmo hoje em dia, emuladores de Nintendo 64 ainda terem muita imprecisão em certos jogos.

O que isso tudo tem a ver com o jogo de hoje? Bem, acontece que um dos jogos experimentais do Nintendo 64 foi relançado recentemente para os consoles modernos, após um relançamento no PC alguns anos atrás. O clássico cult Glover está de volta, graças a parceria entre a QUByte e a Piko Interactive. Será que esse novo porte faz juz ao legado dos Gêmeos Oliver? Confira nossa análise.

Salve o mundo com uma mão só

O mundo pacífico do Reino foi destruído! O mago, enquanto misturava poções com suas luvas mágicas, causou uma enorme explosão, transformando-o instantaneamente em pedra e desalojando os sete cristais que dão energia ao Reino. Sem os cristais, o castelo e seu mundo desmoronarão e o mago estará perdido!

Cabe a Glover, uma das luvas mágicas, encontrar os cristais, agora disfarçados de bolas de borracha, e devolvê-los em segurança ao castelo. Guie Glover e as bolas por sete mundos mágicos cheios de quebra-cabeças e surpresas escondidas. Cuidado! A luva maligna está à espreita nas sombras, e ele não vai parar por nada para frustrar as tentativas de Glover de restaurar a paz.

É, a história de Glover não é das mais criativas, com exceção de você jogar com uma luva sentiente. Como fun fact, a história de Glover foi ligeiramente retrabalhada no porte de PS1 que o jogo recebeu em 1999, para ligar o jogo original a continuação que foi cancelada… Por burrice da Hasbro. SIM, BURRICE. Um ex-programador do estúdio original contou que um empregado da Hasbro dobrou a quantidade de cartuchos produzidos de Glover, deixando a publisher com um estoque de cerca de meio milhão de dólares que não teria como ser vendido, assim forçando o cancelamento de Glover 2 (que estava com cerca de 80 a 85% do jogo pronto), assim como o porte de Nintendo 64 de Frogger 2: Swampy’s Revenge, o que prova que não é de hoje que a Hasbro faz merda a torto e a direito.

Um platformer de sua era, para o bem e para o mal

Você sabe muito bem como no meio pro fim dos anos 90, as empresas estavam arriscando pra encontrar uma fórmula que funcionasse para Platformers 3D, ainda que muitos tenham dito que a Nintendo aperfeiçoou o gênero com Super Mario 64, eu nunca gostei desse jogo. Mas enfim, cada um fez seu take diferente, e não é diferente com Glover. Antes de começar a falar sobre o jogo em si, uma coisa engraçada/triste, por alguma razão, o gameplay de demonstração do jogo nesse porte moderno do jogo é cagado.

Enfim, Glover tem dois tipos de jogabilidade, um com e outro sem a bola. Sem a bola, Glover tem um arsenal de movimentos bem decente, que daria pra fazer um bom platformer 3D na época e mesmo hoje em dia. E com a bola (que possui quatro formas, mais uma super forma disponível com um cheat code), as coisas mudam, a física entra em jogo e vai levar tempo pra se acostumar com os controles.

Cada uma das bolas disponíveis funciona de maneira diferente. A forma de borracha dá a maior quantidade de habilidades para a bola. Ela pode ser facilmente quicada, batida, lançada e até mesmo flutuar na água. A forma de bola de boliche permite que a bola não quebre facilmente, afunde em águas profundas e mate inimigos batendo nela. A forma de bola de rolamento dá controle preciso sobre a bola, pode ser usada para lançar e bater na bola com mais cuidado e também é magnética. A forma de cristal flutua na água e é frágil, mas dá pontos em dobro para cada Garib (Garibs são os coletáveis do jogo) obtido. A bola de poder (a do Cheat Code) pode quicar mais alto e ser batida e lançada mais longe do que outras formas.

Há algumas melhorias modernas, como a câmera no segundo analógico, mas ela ainda se move como uma câmera de um jogo 3D dos anos 90.

Erros foram cometidos

Uma das coisas que podemos elogiar com relação a esse lançamento de Glover é que mantiveram a taxa de frames da versão de Nintendo 64. Sim, é esquisito elogiar algo rodando a 20 FPS, mas deixa eu explicar. Glover é um platformer com foco na física das bolas e a física é atrelada a taxa de quadros do jogo, tanto que na versão de PC da PIKO, se aumentarmos a taxa de quadros do jogo (naquele lançamento há opções de 20, 30 e 60 FPS), a física do jogo fica mais louca que um esquerdista do Bluesky. E a outra melhoria que se pode citar em relação a Glover, é que o jogo roda em Widescreen.

Graficamente, o jogo é inferior ao lançamento original, algo parece ter sido perdido quando a Piko realizou o porte de PC de 2022 (que é a base dessa versão). Se comparar lado a lado com o original, vai ver que muito do charme do original foi perdido. Além de alguns bugs e glitches visuais, como partes de inimigos permanecendo na tela quando os matamos. O que é uma pena num geral, porque Glover é um retrato do charme dos platformers 3D, quando nem ainda tudo era padrão no gênero, todos ainda estavam experimentando, acertando e errando.

Os cenários de Glover são criativos pra época e tem um charme próprio, juntando com a jogabilidade não convencional, deixa Glover quase como um filho de uma outra criação dos Gêmeos Oliver quando estes eram parte da Codemasters, a franquia Dizzy.

A trilha de Glover é um dos destaques do jogo, mesmo se a jogabilidade fosse ruim (coisa que não é), a trilha é decente. Ainda que não esteja no nível de composição do Grant Kirkhope por exemplo, possui músicas excelentes. Pena que novamente, aqui temos alguns erros no relançamento, como a música demorando pro loop recomeçar, e efeitos sonoros errados tocando. Nisso, eu posso criticar a QUByte que podia ao menos ter trabalhado pra corrigir as cagadas da versão de PC da Piko.


Não sei se vale a pena

A experiência de Glover nos consoles modernos é um pacote misto, por um lado, é bacana o jogo estar disponível em plataformas modernas, mas sendo um porte da versão inferior de PC lançada pela Piko em 2022 (que é diferente da versão de PC da Hasbro de 98), fica aquele gosto agridoce na boca. É legal ter o jogo em wide-screen, mas os visuais não são tão bons quanto o jogo original. Funciona, mas tem problemas. Me pergunto se não seria melhor refazer o jogo do zero num remake/reboot, como Kao the Kangaroo fez, mas não sei se a Piko ou a QUByte tem recursos para tal. No fim, vale a preservação, mas se você tem como jogar o original, fique com ele.

Nota Final: 6,5/10

Glover está disponível para Playstation 4, Playstation 5, Xbox One, Xbox Series e Nintendo Switch (além das versões da Steam, Evercade, PC. PS1 e Nintendo 64). Essa análise foi feita com uma chave de PS4, fornecida pela QUByte.