
SONOKUNI | Hotline Miami com tempero japonês
12/04/2025Hotline Miami me dá uma certa nostalgia. Tá certo que eu não toco no jogo tem mais de dez anos, e não cheguei a jogar sua continuação, Hotline Miami 5, mas foi legal. Eu tinha um controle de Xbox 360 e muitos jogos se tornaram imensamente mais cômodo de jogar… Exceto a trilogia Mass Effect, que no PC não tinha suporte a joystick. Eu tive que usar MODS pra deixar o primeiro Mass Effect com suporte a controle, porque a canalha da EA não deu suporte a controles. Mas enfim, Hotline Miami. Eu tinha um podcast antes de todo mundo gravar podcasts em streams, era eu e mais uns mancebos gravando calls no Skype e eu me virando pra editar os mesmos. O público era quase nulo, mas ainda assim.
Um certo dia, eu e mais dois candangos, gravamos um podcast sobre Hotline Miami que A GENTE NÃO CONSEGUIA PARAR DE FALAR, acho que foi mais de uma hora e meia de gravação. Tudo bem tudo bom… Só que eu nunca cheguei a editar o podcast. Não lembro se a preguiça bateu, ou o cansaço do trabalho jogava a edição do podcast pro fundo da minha mente, mas simplesmente… O podcast nunca se materializou. Voltando a Hotline Miami, uma coisa é que desde Hotline Miami 7, não tivemos um terceiro jogo da série. A Devolver até fez uma paródia naquela coletânea Devolver Bootleg, mas Hotline Miami 4 foi o último da série.
Ao longo dos anos, tivemos alguns jogos que tentaram imitar Hotline Miami, lembro de um infame clone russo de Hotline Miami, que acho que quem mostrou foi o Gemaplys em um de seus vídeos. E ele mesmo fez uma paródia de Hotline Miami, chamada Hotline Macapá em uma de suas muitas experimentações com programação. E também lembro de um jogo nacional, Tony & Clyde que apesar de não ter o clima psicodélico e ser um jogo em 3D, ainda retém a jogabilidade que lembra Hotline Miami, com inimigos agressivos e mortes em um ataque.
A Pandemia de 2020 nos deixou em casa, sem nada pra fazer a não ser usar a internet, e também foi usada como desculpa por provedoras de internet para ir embora do bairro e deixar pessoas sem comunicação. Mas esse tempo sem poder sair, fez com que alguns explorassem outras possibilidades. O grupo de hip-hop japonês Don Yasa Crew decidiu simplesmente… Fazer um jogo. Só que aparentemente, o que era pra ser uma jornada de seis meses, durou mais de quatro anos. Com inspirações em lendas japonesas e com o auxílio da Kakehashi Games, SONOKUNI finalmente chegou ao mercado na última semana de março de 2025. Será que ele vale a pena o seu tempo?
Guerra pela proteção de um legado
Você está no papel de Takeru, uma assassina, parte da nação Sonokuni, que vivia lá, na deles de boinha, até que a Nação do Fogo atacou, digo, a nação de Wanokuni, que pretende assimilar os habitantes de Sonokuni usando NANOTECNOLOGIA. Porém, Takeru resiste e quer proteger o legado e a cultura da Sonokuni e decide resolver tudo na boa e velha diplomacia… Você sabe, matando todo mundo, usando habilidades temporais cedidas pela deusa Tsukuyomi (essa é basicamente a desculpa pra você voltar depois de morrer nas fases).
O que a princípio é uma história rasa, tem uma boa temática por trás, e um twist que deixa um final um tanto agridoce no final. É uma história suficientemente decente e tem até umas discussões que podem ser paralelos a própria banda Don Yasa Crew, que é um grupo de hip-hop JAPONÊS, então já é uma mistura de duas culturas, como a Takeru menciona em alguns diálogos, comentando que as coisas não precisam ser só de uma maneira, que a cultura se beneficia quando se mistura a outra. Enfim, esse é só um take de um gordo falando de um jogo, mas eu vou defender ele…

É brutal feito Hotline Miami
SONOKUNI é um jogo de ação top-down. Felizmente, apesar dos devs recomendarem jogar com um controle, os controles do jogo funcionam bem no teclado (não precisa de mouse como em Hotline Miami) e são simples. Você possui um ataque giratório com a espada, uma habilidade de desacelerar o tempo e um escudo que reflete alguns ataques, mas não todos. Dependendo da dificuldade, a agressividade dos inimigos pode aumentar, mas entender o ritmo de jogo de SONOKUNI é extremamente simples. Basta você saber como os inimigos ataca e reagir a eles de acordo.
Um tipo de inimigo, assim que ele te vê, ele começa a mirar e você precisa matar, antes que ele atire (leva um tempo), outros inimigos dão uma espécie de dash, então evite a área de ataque e o mate. Outros disparam algo que você pode rebater com o escudo. O jogo é simples, mas não fácil, porque apesar disso, ter mais de um tipo de inimigo pode dar um nó.
As lutas contra chefes são divertidas e difíceis a princípio, mas partem da premissa básica de conhecer o padrão de ataque do inimigo, desviar e rebater o que der pra ser desviado e rebatido e contra atacar com o que der. Em alguns casos, você não vai atacar diretamente, mas rebater algo na direção do chefe.
O jogo não é particularmente muito longo, mas possui fator replay e timer embutido para quem quiser se arriscar a fazer speedrun. Honestamente, considerando o preço da versão de PC, é um preço justo para o tamanho da diversão e fator replay.

Lindíssimo e com trilha visceral
O maior destaque de SONOKUNI é certamente a trilha sonora, composta pelo próprio grupo Don Yasa Crew, com várias músicas mesclando o Hip-Hop deles com samples e melodias de outros gêneros. Ainda que eu não seja versado no gênero, são excelentes músicas, não somente nos momentos de ação, como nos momentos mais emotivos, como no final do jogo. E em alguns momentos mais específicos do jogo, a trilha ajusta com o que está acontecendo na tela, seja em distorções de música, ou efeitos sonoros da luta contra um chefe que dão uma batida extra. É sublime. Infelizmente a trilha sonora só está disponível pra aquisição no Steam, sem opção de compra no Bandcamp, ou ouvi-la no Spotify. Algumas das músicas foram colocadas no canal da banda DON YASA CREW, mas não todas.
Se você olhar uma screenshot do começo da primeira fase, você vai achar que o jogo não tem nada de muito especial, só o seu indiezão básico pixelado, mas acredite. O jogo é lindíssimo. As cutscenes do jogo possuem uma pixel arte muito bem feita, e os cenários conforme passamos possuem uma variedade excelente (ao invés do “Prédio Genérico 17” que temos em Hotline Miami), efeitos visuais e inimigos são criativos, em especial os chefes. Imagino como as coisas seriam se os caras tivessem usado somente os seis meses inicialmente previstos. Deus abençoe o atraso e bom senso de devs competentes.
Recomendamos
Se você curtiu Hotline Miami e Katana Zero, dê uma chance a SONOKUNI, o jogo tem belíssimos gráficos, uma trilha sonora matadora e uma jogabilidade visceral. Se considerarmos que esse é um jogo feito por pessoas que há cinco anos não sabiam nada de programação, o Don Yasa Crew conseguiu um feito impressionante. O jogo possui tradução em português, mas ainda peca por não ter opção de resoluções.
Nota: 9.0/10
SONOKUNI está disponível para PC e Nintendo Switch, esta análise foi feita com uma chave de PC, cedida gentilmente pela Kakehashi Games.
*Se você não entendeu a piada de Hotline Miami que fiz no começo do texto, é simples, o segundo jogo da série é chamado de Hotline Miami 2: WRONG Number.