Slipstream | O OutRun brasileiro

Slipstream | O OutRun brasileiro

15/04/2022 1 Por Tony Santos

Quem me conhece do twitter sabe o quanto eu sou fã de jogos de corrida, sendo que meu game favorito do gênero é OutRun 2, lançado originalmente para Xbox em 2003.

O game era uma continuação do arcade clássico de 1986 lançado pela SEGA, onde o jogador não necessariamente corria contra adversários para chegar em primeiro, mas sim “passeava” por diversas pistas, podendo pegar caminhos diferentes até chegar no final do jogo.

Em Slipstream, jogo brasileiro lançado para consoles em 2022, temos um grande jogo moderno com inspirações óbvias nesse jogo da SEGA, mas que vai um pouco mais além de simplesmente copiar um jogo famoso.

Reprodução/ BlitWorks

História de desenvolvimento

Sandro Luiz (ou Ansdor) é o programador brasileiro que praticamente sozinho criou Slipstream. Lembro do jogo começar a ser divulgado em uma demo bem inicial em 2015 (!), no saudoso podcast do GamesFoda, além de aparecer no especial da E3 2015 deles, que você pode conferir abaixo:

De lá pra cá o jogo evoluiu muito, e a versão de consoles portada pela Blitworks só consolida o espaço que este game merece no panteão de jogos modernos com inspirações retrô.

Estética retrowave

Falando em retrô, tudo que Slipstream entrega tem inspiração na estética retrowave, que pra quem não sabe, é um estilo visual e sonoro que ficou popular nos anos 2020 mas que remete à nostalgia em relação aos anos 1980.

Isso se reflete nos visuais, onde o foco é sempre o uso de muito neon e visuais similares à computadores antigos.

Musicalmente, o estilo é voltado principalmente à música eletrônica da época, também conhecido como “synthwave“.

Esse estilo é espalhado por todos os lados, como carros, pistas e músicas dignas de algo que caberia em um game de corrida feito para o computador Amiga (1985).

Além disso, muitas referências à outras coisas são encontradas, como praticamente TODAS as pistas sendo baseadas em jogos do Sonic e até uma pista que me lembra Cavaleiros do Zodíaco. Mas isso são detalhes que não tiram a originalidade do game.

Reprodução/ BlitWorks

Trilha Sonora

A trilha é composta por effoharkay e pode ser ouvida em sua totalidade no Bandcamp do compositor. São 16 faixas e todas elas tem essa pegada retrô, usando instrumentos digitalizados e samples que combinam muito com a estética do jogo.

Se posso fazer uma crítica, seria que não existem músicas mais “upbeat” (ou ~felizes~) como no jogo Out Run, com todas as faixas evocando um sentimento de nostalgia quase que melancólico que, apesar de combinarem com 90% do game, destoam um pouco em alguns cenários, como na fase da praia.

Reprodução/ BlitWorks

Jogabilidade

O “slipstream” do título nada mais é que o “vácuo” que seu carro pega quando fica um tempo atrás de um outro carro. Aqui, isso funciona como o turbo/nitro de outros games, e pode ser feito com adversários, rivais e até com carros do tráfego comum, mesmo em curvas. Pegar esses vácuos é essencial para vencer algumas corridas mais difíceis ou  — caso você se importe — melhorar seu tempo.

Como já falado na introdução, Slipstream é bastante inspirado em OutRun, principalmente no sistema de drifting do segundo jogo.

Assim como no jogo da SEGA, o jogador precisa soltar o acelerador, dar um toque no freio e voltar a acelerar para derrapar nas curvas. Isso claro, no modo manual de derrapagem.

Infelizmente, esse modo de derrapagem é muito “duro”, dando pouco controle do jogador durante as curvas, sempre jogando o carro pra fora delas e causando na maioria das vezes, uma batida nas placas laterais.

Reprodução/ BlitWorks

Para dominar o drifting, além de ter que assistir Velozes Furiosos: Desafio em Tóquio (2006), o jogador deve primeiro visualizar para que lado é a próxima curva, lá no final do horizonte.

Depois disso, é necessário entrar na curva BEM ANTES dela começar e torcer para que nenhum obstáculo entre no caminho pra atrapalhar.

Isso funciona bem nas pistas mais fáceis, mas assim que começam a aparecer caminhos mais estreitos ou curvas em sequência, facilmente o jogador vai perder o controle — e a paciência.

Reprodução/ BlitWorks

Dificuldade? Aqui não

A fim de mitigar essa dor, o Andsor colocou um sistema de REBOBINAR, já popular nos jogos de corridas modernos desde Forza Horizon 2 (se não me engano), onde é possível voltar uns 5 segundos no tempo e consertar os erros.

Isso ajuda em alguns casos, mas várias vezes só serve para que você repita o erro novamente e se sinta duas vezes burro.

Eu já estava me sentindo traído pelo game quando fui me render ao modo de derrapagem automática.

Aqui, poucas vezes é necessário frear, já que o carro entra em drifting automaticamente, mas isso melhora TANTO a diversão que não tive coragem de voltar ao modo manual, ainda que naquele modo o jogo parecesse mais com OutRun 2.

Isso COM CERTEZA deixa o jogo mais fácil, não vou mentir; porém, eu senti que o equilíbrio ideal entre diversão e dificuldade é: Derrapagem Automática + Dificuldade Difícil. E isso vale para todos os modos de jogo. E falando neles…

Reprodução/ BlitWorks

Modos de jogo

Apesar de ser um jogo basicamente de dirigir até o final do percurso, foram implementados diversos modos diferentes para criar variedade.

Existe um modo idêntico ao OutRun, o Grand Tour, onde o jogador percorre 5 estágios diferentes, desafiando um rival em cada um deles e tentando bater o limite de tempo para conseguir durar até o fim das cinco fases.

Esse modo apresenta 90% das fases que aparecem nos outros modos, então tirando a mecânica de dirigir por diversos caminhos, os outros modos apresentam poucas mudanças visuais.

O modo Grand Prix possui 4 copas, sendo um modo de corrida mais tradicional. As três primeiras possuem os estágios do modo anterior, e a última copa possui apenas pistas originais, que são muito bacanas.

Também há um modo Cannonball, que é nada mais que um modo totalmente customizável, podendo ser escolhidos pistas, adversários e duração das corridas.

Fora isso temos os já comuns Time Trial, Single Race e o Battle Royale, que consiste na eliminação do último colocado a cada volta.

Não bastasse isso, o jogo possui modo multiplayer LOCAL de até quatro jogadores, que rende bastante diversão, pois pude testar aqui em casa e é bem legal pra tirar um contra casual com a família e amigos.

Reprodução/ BlitWorks

Conclusão

Feito basicamente por um cara só (tirando as músicas), Slipstream é mais uma prova que desenvolvedores nacionais possuem o tato perfeito para criar jogos com estética retrô.

Demorou, mas o esforço do Andsor valeu muito a pena e todo sucesso que ele venha a alcançar na carreira de Dev vai ser muito merecido.

__________________
Slipstream está disponível para PC (Steam), Switch, Playstation, Xbox e esta análise foi feita com uma cópia do game para PlayStation 4, gentilmente cedida pela distribuidora.