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QRD Spark N5: Uma decepção com Hall Effect
04/02/2025Pode não parecer, mas já fazem mais de 18 anos (considerando o momento em que esse texto está sendo produzido) que o Playstation 3 foi lançado, ou seja, ele já está na idade de poder legalmente comprar cerveja no bar aqui no Brasil.
Como era de se esperar, encontrar periféricos novos para o console é uma tarefa quase impossível. Se o periférico em questão for um Dual Shock 3 original novo, ai o lance já é impossível mesmo.
Há alguns meses um de meus Dual Shock 3 originais ganhou data de falecimento (acredita que a placa do infeliz “morreu”?!). Dois meses depois, o outro começou a apresentar falhas. Eis que em um movimento impulsivo, considerei que obviamente precisava de um novo controle para jogar meu PS3 e comecei as minhas pesquisas sobre o que comprar.
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No fim das contas o Dual Shock 3 remanescente não tinha nenhum problema, o que estava acontecendo é que o módulo de Bluethooth do videogame estava “indo para o saco”, mas entre essa descoberta e o momento em que eu pensei que tinha de arrumar um novo controle, eu comprei um novo controle e é sobre essa enorme decepção que venho vos alertar.
Sim, é alertar mesmo. Todo vídeo que eu vi sobre esse controle o trata como a maior maravilha da história da humanidade e o que eu recebi não só não foi isso tudo, não foi só decepcionante, foi ruim mesmo. Mas vamos por partes.
Os produtos usados e mencionados a partir deste ponto do texto foram gentilmente cedidos para teste pelo meu bolso.
A isca para comprar o QRD Spark N5
Lendo rapidamente os supostos atributos do Spark N5 ele aparenta ser a solução definitiva enquanto controle para consoles da família Playstation. Ele promete conexão nativa com PS3 e PS4 (além de Android, IOS e PC), além de funcionar em modo legado no PS5, com ou sem cabo. Possui um design muito interessante e funcional, já vem com um adaptador para facilitar a jogatina no celular, possui analógicos com tecnologia Hall Effect, botões R2 e L2 com Hall Effect, entre outras virtudes.
Caso se interesse em conhecer as principais “características marqueteiras” desse controle, basta clicar AQUI para se dirigir até o site oficial da QRD do Spark N5.
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QRD Spark N5
Honestamente, só de o controle possuir conexão nativa com o PS3 e possuir analógicos com Hall Effect já seriam pontos suficientes que me fariam considerar a compra, mas ollhando o pacote todo, coloquei-o no topo na minha lista de opções.
Nas minhas pesquisas sobre o controle, tudo o que eu encontrei foram bons feedbacks. Naquele momento não haviam muitos textos, opiniões ou vídeos sobre ele, pois o dito cujo era relativamente novo ainda (e isso deveria ter feito o meu “desconfiometro” apitar, mas não aconteceu).
Enfim, o importei diretamente da loja oficial da QRD no Ali Express, antes de o ato de importar se tornar uma ofensa nacional.
A conturbada primeira impressão
Assim que o Spark N5 chegou (e que o PS3 voltou da assistência técnica, já com o novo módulo de Bluetooth instalado e funcionando), fui testar o meu verdadeiro interesse para com o controle: jogar nativamente Playstation 3.
Spark N5 pareado com o console via cabo com sucesso e simbora pra jogatina e testes de gameplay com o danadão, só que não. Enquanto o controle estava conectado ao console via cabo, tudo estava funcionando sem problemas, mas no momento em que eu desconectava o cabo, o controle perdia a pareamento.
Inicialmente pensei que o controle estava com problemas de funcionamento, já que o Dual Shock 3 estava pareando com o PS3 sem problemas. Para tirar a “prova real” do controle, tentei fazer o pareamento dele com o PS4 e eis que tudo funcionou como o esperado.
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Caixa QRD Spark N5
Fui conferir a possibilidade de eu ter adquirido uma versão errada do controle, mas na caixa está escrito claramente “Wireless Controller for PS4/PS3/PC/IOS/Android”, fora que não há versões diferentes do Spark N5. “O que diabos está acontecendo?”, pensei eu.
Obviamente não iriam enviar um controle novo, lacrado, que tem como principal característica a total compatibilidade nativa com o PS3, sem uma atualização mínima de software que garanta o pareamento justamente para com o PS3. Ironicamente foi exatamente isso o que aconteceu.
Pesquisando em alguns fóruns “gringos”, vi que esse problema era geral. Todo mundo que recebeu o controle, pelo menos naquele momento de lançamento do mesmo, tinha de obrigatoriamente ir até o site da QRD e realizar uma atualização de software do controle para garantir o pareamento sem fio do controle para com o PS3.
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Detalhe que o link disponibilizado no site da QRD para isso estava (e ainda está) quebrado. É necessário fazer uma pesquisa no Google para conseguir o link adequado.
Imagine uma pessoa que não está acostumada com esses pormenores do mundo da tecnologia. Uma pessoa que quer comprar, parear no sistema de sua escolha e jogar. Daí ela compra um produto que NA CAIXA está escrito que possui compatibilidade com um sistema, mas que na prática, não tem.
Não importa se era um produto em lançamento, o mínimo que se espera é que ele funcione conforme o prometido. Se updates futuros vão melhorar performance, corrigir bugs específicos e afins, é outra história. O Spark N5 saído da caixa não funciona com o PS3 em pareamento wireless e isso é um absurdo.
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QRD Spark N5
Spark N5: Características Gerais
O design do controle é um ponto extremamente positivo. Grosso modo, ele une a estrutura física de um controle de Xbox One com o posicionamento de analógicos, características visuais dos botões de controles e um pad sensível ao toque da linha PlayStation.
Pessoalmente, como tenho mãos grandes, o desenho do controle do Xbox sempre me foi mais confortável, mas nunca gostei do posicionamento “Cerveró” dos analógicos. Com o Spark N5 eu pude experimentar as melhores qualidades dos controles de Xbox One e Playstation, unidas.
Os materiais usados nos elementos do controle parecem ser bons (mais sobre isso posteriormente), passando aquela impressão de “controle premium”. Li por ai reclamações sobre os botões de macro, que ficam atrás do controle, parecerem muito frágeis, mas honestamente eu não tive essa impressão.
Eu sempre uso esses botões trazeiros para mapear, única e exclusivamente, o R3 e L3, porque eu acho uma abominação ter de “clicar um analógico”. Desta feita, uso com regularidade esses botões trazeiros do Spark N5 e eles me parecem bem firmes e confiáveis.
Para quem curte um hardware todo iluminado e colorido, fica aqui uma boa notícia: O controle também possui leds até na “puta que pariu”. É possível escolher entre 9 cores distintas, escolher conjuntos de leds que serão ativados durante a jogatina, intensidade dos leds, entre outras opções. Bem completinho para quem gosta de jogar e tentar causar um ataque epilético no adversário (ou em si próprio).
Os botões trigger, R2 e L2, possuem Hall Effect, ou seja, se espera deles precisão e eles entregam isso. Sâo muito precisos e firmes na medida para que o jogador possa usar os pontos de pressão desejados durante a jogatina. Infelizmente tive problemas para com esses danados (mais sobre isso ao longo do texto).
Os analógicos possuem Hall Effect, então deles se espera precisão e longevidade (nada de Drift aqui). No primeiro momento, se você não tem o azar infinito que eu tive, eles aparentemente entregam o que se espera, mas foi com eles que eu tive meus maiores problemas para com o controle.
Os botões frontais funcionam muito bem, mas o d-pad não. Parece piada, mas é verdade. Aliás, a quantidade de controle de marcas boas que erram no d-pad é assustadora.
Lendo o texto até aqui, fica parecendo que o controle é confortável, mas que tem problemas demais. É basicamente isso mesmo. Desta feita, vamos logo tratar dos problemas que tive com o Spark N5. Já adianto que eles foram suficientes para não considerar comprar mais nada da QRD.
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QRD Spark N5
De que adianta ter Hall Effect?!
O primeiro problema com o controle é que ele não é compatível universalmente com os jogos, pelo menos considerando os consoles PS3 e PS4. E nesse sentido eu dei um azar danado (ou sorte, depende do ponto de vista).
O primeiro jogo que eu quis testar no PS3 foi Ninja Gaiden Sigma 2 e o motivo é claro e técnico: sou tarado pela franquia. No instante em que eu comecei a jogar ficou claro que havia algo errado.
A primeira fase do jogo já te coloca em uma arena em com 5 inimigos e um deles lhe ataca imediatamente (quem não conhece o jogo já toma um pipoco de começo). Ciente disso, eu já começo com o dedo no botão de defesa e se ele me atacar fisicamente, faço um counter, caso venha um ataque de throw, coloco o manche pro lado. Quando se movimenta para um lado com a defesa pressionada em Ninja Gaiden, o personagem dá um pequeno dash, se deslocando rapidamente e esquivando de um eventual ataque.
Eis que fiz isso, porque o ataque que veio foi um throw, e o meu personagem não se mexeu. Ao longo desse pequeno combate inicial do jogo isso aconteceu mais vezes.
O problema não me pareceu ser delay do controle, pois todas as outras ações estavam sendo executadas no timing certo. Imaginei que o problema não teria sido incompetência minha jogando, pois estou acostumado (até demais) com o jogo. O problema era o controle.
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QRD Spark N5
Por algum motivo que eu não sei explicar (tenho teorias somente), nesse jogo, quando com o botão de defesa pressionado, o input de movimento do jogo não é registrado adequadamente e isso faz com que o personagem não execute o dash. Na verdade é como se o registro de movimentação do analógico nesse momento fosse extremamente lento e isso não faz com que o personagem execute o dash, mas somente gire o corpo lentamente.
Usando o Dual Shock 3 posteriormente, consegui emular esse comportamento, movimentando o analógico bem devagar com a defesa pressionada.
A partir daí invoquei de fazer alguns testes com os outros dois jogos da franquia e em todos o comportamento foi o mesmo. Fiz o pareamento do controle com o PS4 e startei os mesmos jogos usando as suas versões da Master Collection e tive os mesmos resultados.
Já estava com o PS4 ligado mesmo, então iniciei outro jogo: Dragons Dogma (não me recordo se foi o 1 ou o 2) e eis que eu também tive problemas com os analógicos. O personagem não corria, somente “trotava”. É como se eu não tivesse empurrado o analógico até o fim da direção desejada.
Inconformado, baixei alguns softwares no notebook para fazer uma calibração dos analógicos (algo genérico, pois a QRD não possui, até então, um software próprio para tal). Os testes foram perfeitos. Nada de anormal. Emulei inclusive a situação específica do Ninja Gaiden e nada de anormal ocorreu.
Já estava com o controle plugado no PC mesmo, então resolvi checar se havia mais alguma atualização de software para o controle. Não havia. Inclusive, até o momento em que escrevo esse texto, não há.
Por fim, testei os mesmos jogos novamente e tive os mesmos problemas, como imaginei.
Joguei vários outros jogos no PS3 e no PS4 usando o Spark N5 e só tive problemas similares em um deles (God of War 3). Infelizmente, por usar o controle em outros jogos, me deparei com outros três problemas, um deles também envolvendo os malditos analógicos.
Ainda no tópico analógicos, ao tentar jogar jogos do gênero FPS e simulador de corrida, descobri que a zona morta desse controle é enorme e isso atrapalha em específico nesses dois gêneros. Tem jogos que possibilitam diminuir um pouco esse problema em suas configurações, mas nem todos o permitem.
De que me adianta um analógico com Hall Effect, que promete precisão e drift zero, se o maldito não me entrega precisão?
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QRD Spark N5
Problemas de durabilidade e construção
Durante minhas jogatinas com o Spark N5 joguei bastante Destiny (o primeiro no PS3 e o segundo no PS4). Eu gosto muito de Destiny e nesse jogo, graças a assistência de mira que o jogo permite ser usada, jogá-lo com esse controle foi possível e prazeroso. Nesse jogo, Para mirar se pressiona o L2 e para atirar, o R2.
Eis que em um belo dia, estava eu jogando e senti que a pressão que o botão L2 estava fazendo ao ser pressionado estava sensivelmente menor. Tirei o fone para checar e ouvi um chiado toda vez que eu apertava o dito cujo botão. Isso mesmo, o botão estava “afrouxando”.
E já deixo claro aqui que eu sou “uma lady” jogando videogame. Nunca um controle de videogame sofreu desse tipo de coisa nas minhas mãos, o que incluem controles safados da Knup e da TGT. Navegando por alguns fóruns, encontrei mais pessoas com problemas similares em pelo menos um dos botões de trigger desse controle. Isso me diz que o controle de qualidade disso aqui não é muito bom não.
Outro problema que tive com o controle e que encontrei mais gente em fóruns reclamando foi do d-pad. Ele não possui problemas de diagonais não serem registradas e, até o momento, não teve nenhum problema de controle de qualidade, mas a construção dele faz com que o direcional para esquerda seja um pouco mais alto no controle que os demais direcionais.
Isso por si só não seria nenhum problema, mas o direcional para esquerda do d-pad exige uma pressão muito maior do dedo do jogador para que o input seja registrado, o que acaba com a experiência de jogo. Como já dito acima, “sou uma lady” jogando, então em 50% das vezes em que eu não estava focado em apertar para a esquerda mais forte o controle não registrava input nenhum. Uma maravilha!
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QRD Spark N5
Contato com a QRD
Ciente de que haveria uma chance de 99% de que um email meu para a QRD seria sumariamente ignorado e que eu jamais teria um retorno, o enviei. Conforme imaginei, meu email foi “um peido ao vento” e não obtive nenhuma resposta.
Há algum tempo encontrei um problema muito específico em um M30 de lote mais recente da 8bitDo e também enviei um email para eles. Eles responderam. Não deu em nada e obtive respostas genéricas, mas pelo menos responderam.
Shame on me…
Mesmo eu sendo “velho de guerra” para com controles de videogame (tenho um montão), caí no golpe do vigário. A pressa em não ficar sem um controle para jogar um bom e velho PS3 me deixou bem suscetível a entrar na onda do pessoal que faz review de produto recebido por empresas e comprei um “gato por lebre”.
No caso do QRD Spark N5 o tombo que levei foi dolorido. Ele foi o controle mais caro que eu comprei naquele ano e foi sem sombras de dúvidas não somente o mais decepcionante, foi o pior.
Com o valor que eu paguei nele, poderia ter comprado um controle original usado de PS3 (que atualmente são um absurdo), trocar a manta dele se necessário, dar uma assistencia básica nele, e ainda ter comido um lanchinho, facilmente. Atualmente jogo PS3 no meu Dual Shock 3, meu PS4 no meu Dual Shock 4 e para PCs, Nintendo Switch e PS2 (com adaptador) tenho opções melhores.
Foi um controle caro, que prometeu muita coisa, não entregou algumas das mais básicas promessas e que aparentemente teve um suporte da QRD pífeo. QRD essa, aliás, não somente deixou de ganhar um cliente, mas ganhou um propagantista contra ela ferrenho, porque eu faço questão, sempre, de deixar bem claro o quanto esse controle é ruim e o quanto eu não confio em produtos da empresa.
Tà sem controle bom para PS3? Precisa de um? Tà com o dinheiro apertado? Cara, na boa, compra um TGT cabeado mesmo, ou então DS3 de “primeira linha” bom, e vá ser feliz. Ambas as opções possivelmente não possuirão sensor de movimentos, é bom destacar. Tá com um dinheirinho a mais? Pega um Dual Shock 3 usado em boas condições.
O controle até tem outras virtudes (entrada para fone de ouvido, saída de som integrada, etc…), mas o básico ele não faz, então chega de falar dele.