O que o sucesso do filme de Minecraft nos ensina? (Pro mal e pro bem)

O que o sucesso do filme de Minecraft nos ensina? (Pro mal e pro bem)

19/04/2025 0 Por Geovane Sancini

Eu não sei se o Diogo levou o pimpolho dele pra assistir “Um Filme Minecraft”, mas é inegável que o filme pode ser considerado um sucesso e hit (faturou no momento desse texto, quase 600 milhões de dólares), apesar da qualidade bastante questionável. E não, a desculpa de que “É pra criança” não cola pra um produto abaixo do ideal. E as pessoas que eram crianças quando Minecraft explodiu também merecem um produto melhor.

Porém, esse sucesso todo, aliado a muitos fracassos tanto na indústria dos jogos quanto na cinematográfica me fez pensar numa coisa, e veio a ideia de fazer esse texto. O que esse sucesso do filme de Minecraft (e vou colocar no balaio aqui, o sucesso do filme de Five Nights at Freddy’s, que faturou 300 milhões num orçamento de 20 milhões) representa pra industria e público num geral, tanto pro bem, quanto pro mal? Não sei o quão grande esse texto vai ser, então vamos começar.

Reprodução: Sony

O lado ruim: A mediocridade é recompensada no peso da ip

Isso é algo que é extremamente comum na indústria de jogos, só olhar as listas de jogos mais vendidos do ano, você vai ter lá, apesar das críticas, das abusivas microtransações que fazem um gacha parecer bonzinho, Madden, NBA 2K, o EA FC e Call of Duty no topo. As surpresas foram Helldivers 2 e Elden Ring (impulsionado pelo DLC), mas a maioria é parte de franquias anuais. E o fato é que o peso da ip de Minecraft foi o suficiente pra fazer com que o filme faturasse muito.

Ainda que essa tendência esteja mudando com muitos jogos AAA ocidentais com performance abaixo do esperado (A Ubisoft foi de jogo de performance ruim a jogo de performance ruim por todo 2024, e a controvérsia de Assassin’s Creed Shadows levou o jogo a ser adiado pra 2025), em 2024 mesmo com ip’s de peso, como Star Wars e Dragon Age, não foi o suficiente para se converter em vendas, a falta de qualidade em Minecraft não foi o suficiente para deter o sucesso do filme, mas ao menos deteu uma projeção de que o filme faturaria mais que o filme de Mario (com o resultado do primeiro fim de semana, alguns especularam que Minecrafr bateria Mario, mas agora a projeção de Minecraft é pra pouco menos de um bilhão de dólares de faturamento).

Mas, o sucesso do filme é o triunfo da mediocridade. Deixando de fim a negatividade, vamos aos positivos do sucesso de Minecraft.

Reprodução: Double Eleven, Mohjang Studios

Não saíram ofendendo os fãs ao sinal de críticas

Lembram do primeiro teaser trailer do filme? A internet inteira se uniu em um ódio coletivo a esse trailer, porque foi uma as coisas mais “boomer velho sem contato com a realidade fazendo filme para o jovem” que eu já vi. Todo mundo zoou o trailer a torto e a direito. Curiosamente, uma coisa que não ouvi após esse trailer, foi a produção do filme ou alguém do elenco saindo pra xingar os fãs de racistas, fascistas, homofóbicos ou qualquer outra variante, coisa hoje que é comum em especial na indústria de jogos, mas vem acontecendo nos filmes desde o Caça Fantasmas de 2016.

A produção aguentou as críticas de pé, e os trailers posteriores não sofreram essa torrente de críticas, e os fãs mais fervorosos de Minecraft recuperaram o otimismo em relação a produção. Se esse otimismo é justificado, agora olhando pro filme finalizado, são outros 500, porque assim como o filme de Super Mario Bros., a aventura do filme de Minecraft é menos genérica. (Fica aqui a minha tangente de que a Anya-Taylor Joy não ficou muito boa de Peach, e o Chris Pratt se saiu melhor do que o esperado, mas divago).

Imagine se durante a produção de filmes como o Caça-Fantasmas de 2016, As Panteras de 2019, os remakes da Pequena Sereia e Branca de Neve, os produtores e elenco não saíssem atacando todos os críticos, e os classificando como machistas, misóginos racistas? Porra, no caso da Branca de Neve, o produtor teve que viajar pra dar um esporro na Rachel Zeigler pra ela parar de falar merda! Ainda que não fossem faturar tanto, as pessoas iriam ver esses filmes com a cabeça mais aberta se a produção não passasse tanto tempo espantando o possível público alvo. E o remake da Pequena Sereia teria de fato se pagado nos cinemas, porque dos filmes que mencionei, foi o mais bem sucedido.

Reprodução: Silver Cow Studio

Foi uma produção (quase) livre de polêmicas

Dungeons & Dragons: Honra entre rebeldes foi um baita filme baseado em Dungeons & Dragons, porém… O filme fracassou nos cinemas. O motivo? Durante a produção, alguém disse que o filme seria uma obra de empoderamento feminista e blá blá blá. Isso, devido ao clima atual, coloca as pessoas com um pé atrás. Todo mundo está mais do que cansado da trope da girlboss. Só que o filme não é essa obra que falaram, é um filme competente e bastante divertido, mas devido a essa declaração, ninguém foi ver. E mais recentemente, a Marvel matou a animação de MUITA GENTE para o novo filme do Quarteto Fantástico.

Eu tinha minhas reservas pessoais de ver a Vanessa Kirby como Sue Storm (pessoalmente, a Sue deveria ser um cadinho mais jovem, a Kirby tem a minha idade) e o Arroz de Festa Pedro Pascal interpretando Pedro Pascal, digo, Reed Richards, mas o primeiro teaser trailer me deixou esperançoso, era o tipo de filme que a Marvel precisa, que elenco a parte, poderíamos ter algo bom. Porém, estava bom demais pra ser verdade, porque a Vanessa Kirby e Joseph Quinn deram declarações que brocharam não só a mim, mas muita gente que estava ligeiramente otimista com o filme. Kirby comentou que o filme será uma obra de empoderamento feminista, enquanto que Quinn disse que seu Johnny não será um cara flertador “machista”. Sim, o mesmo Quinn que fazia muita gente que conheço molhar as calcinhas depois de Stranger Things. (A pessoa de quem falo sabe quem é, VOCÊ NÃO ME ENGANA). Ou o filme vai ser uma desgraça, ou essa é uma sabotagem e tanta, tal qual foi em D&D. Pra esse tipo de coisa, você fica calado, no clima atual, as pessoas estão sensíveis e qualquer coisa mínima é motivo pra briga em rede social.

Minecraft por outro lado, passou sua produção praticamente livre de qualquer tipo de polêmica barata. Digo praticamente, porque uma das pessoas que faria um cameo no filme, a streamer Rachell Marie “Valkyrae” Hofstetter deu uma declaração de que Jason Momoa teria destratado uma pessoa no set e tal. Só que a polêmica morreu rapidamente, e o cameo de Valkyrae foi removido. Duvido que tenha sido algo muito grave, creio que tenha sido mais uma coisa do estresse do ritmo de gravações, porque nenhum outro problema foi reportado.

Reprodução: Telltale Games

O público alvo FOI ASSISTIR

Isso também vale pro filme de Five Nights at Freddy’s. Uma das coisas que vemos na indústria dos jogos, são produções que tem um público alvo, a chamada audiência moderna… Que parece não existir. Ou é pequena demais pra fazer um jogo ser bem sucedido. A tal audiência moderna parece mais focada em falar no twitter, no Blue Sky e outros locais, que você PRECISA jogar o “Flopperson Xtreme Bidennus”, caso contrário você é um preconceituoso, rachista, macista, misógino, transfóbico e eleitor do Trump/eleitor do Bolsonaro (mesmo que você não more nos EUA/mesmo que você tenha votado no Lula). Só que elas mesmas não compram tais jogos. Se o jogo foi feito pra você, porque você não comprou? Falar é fácil, se você quer que o jogo seja bem sucedido, compre… Ou você, tal criatura da audiência moderna, vai esperar o streamer modinha jogar o jogo pra formar sua opinião?

O público de Minecraft, assim como o de FNAF, vestiu a camisa e foi aos cinemas, ainda que parte do púbico (de Minecraft) tenha estado mais preocupado em fazer bagunça e arruinar o dia de quem limpa as salas de cinema. O fato é, esse público de Minecraft e FNAF, VOTOU COM A CARTEIRA. Porque não adianta nada você fazer uma defesa de um Dustborn ou Concord da vida, se você sequer vai jogá-lo. Sim, eu entendo que os jogos estão caríssimos, e são entretenimento de luxo. Mas se você, que está interessado no jogo, pode se dar a opção de não comprar o jogo que quer porque está caro… Porquê eu, que não estou interessado no jogo, não tenho essa opção? Tremenda hipocrisia.

Reprodução: Mohjang

Finalizando…

A conclusão que chegamos com o sucesso do filme de Minecraft, é que apesar da mediocridade, o peso da ip PODE ajudar no sucesso, se a produção não passa seu tempo atacando o público alvo e espantando o público alvo. Ter uma produção livre de polêmicas e declarações polêmicas também vai ajudar, mas principalmente… O público alvo PRECISA TAMBÉM colaborar para que o produto seja um sucesso. Isso vale pra filmes, mas pode ser muito bem aplicado a jogos, com sucessos como Black Myth Wukong, Hogwarts Legacy, Space Marine 2, Split Fiction e Stellar Blade. A mensagem principal desse texto pras produtoras é: não desrespeite seu público. E para os jogadores, independente de sua crença: Vote com sua carteira e não seja um hipócrita.