Bloodstained: Curse of the Moon 2 | A Melhor mentira da Inti Creates
01/08/2020Vamos começar o texto de hoje deixando duas coisas bem claras:
1º: Eu adoro a franquia Castlevania.
2º: Eu sou ruim pra carai nela.
3º Spoilers de Curse of the Moon e Curse of the Moon 2 estarão presentes.
Dito isso, Bloodstained: Curse of the Moon foi uma das mais agradáveis surpresas de 2018, uma versão refinada da fórmula dos classicvanias, feita pelos criadores de Azure Strike Gunvolt, e supervisionada por Koji Igarashi, o jogo era só um aperitivo e bônus do Kickstarter de Bloodstained: Ritual of the Night, mas ainda assim entregou um excelente produto, com jogabilidade precisa e variada, um conteúdo o suficiente para incentivar o fator replay e gráficos 8-bit sensacionais. Ignoremos aqui o fato de que eu só fui terminar o Modo Nightmare (A segunda campanha do jogo) no dia em que começo a escrever essa análise.
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Avancemos para junho de 2020, momento em que do nada a Inti Creates anuncia: “Bloodstained: Curse of the Night 2”. E que o jogo estaria disponível em menos de um mês (dia 10 de julho). E aqui estamos, mas será que o jogo vale a pena o seu suado dinheirinho? Ou ele é só mais um produto automático que se apoia numa ip conhecida, feito aqueles jogos de tiro lá grandes?
VEM COMIGO PRA SABER.
Acabe com os demônios novamente…
Primeiro de tudo, Bloodstained: Curse of the Moon 2 segue mais ou menos os eventos do primeiro jogo. Zangetsu, nosso herói, conhece Miriam, Gebel e Alfred e certamente lutou ao lado deles, mas em um final alternativo, onde o quarteto derrotara o boss final do jogo e Zangetsu não se sacrificara.
Zangetsu parte em mais uma jornada para eliminar os demônios e novamente, ele não estará sozinho. Dessa vez, novos companheiros estarão ao seu lado. Dominique, membro da igreja e portadora de uma poderosa lança.
Zangetsu sabe que não pode confiar nela, mas dada a situação, ele aceita a ajuda de quem for. Quem jogou Ritual of the Night, sabe exatamente o porque da desconfiança. Richard, careca que desconfia de todo mundo, até da própria sombra e antigo companheiro de combate de Zangetsu, ele porta uma shotgun e Hachi, um cachorrinho fofinho que pilota uma armadura.
Ele foi salvo por Zangetsu no passado e possui um senso de lealdade imenso. A estrutura narrativa é a mesma do jogo anterior, logo, quem conhece o primeiro Curse of the Moon saberá que o jogo não vai terminar na primeira campanha.
Maior, melhor e mais brutal
Uma das coisas ditas no anuncio de Curse of the Moon 2, é que o jogo teria o mesmo tamanho do original. Mentira deslavada, mas vamos aos poucos, estou me adiantando. Cada um dos quatro personagens possui suas características específicas.
Zangetsu é o típico personagem equilibrado com sua espada. Ele possui habilidades uteis dependendo do power-up equipado. Dominique possui um alcance maior que o de Zangetsu, porém sua lança é um pouco mais lenta.
Ela possui pulos altos, pode usar a lança como pogo nos inimigos e nos candelabros (só apertar o direcional para baixo, como o Tio Patinhas) e entre as habilidades que possui, pode invocar uma planta com um item de cura.
Robert possui o menor HP dentre os personagens iniciais, mas ele pode deslizar pelas paredes (a la Mega Man X) e saltar de uma parede para a outra (se o espaço permitir) com um wall-kick. Sua Shotgun é boa para atacar inimigos distantes e ele pode se arrastar pelo chão para passar por entradas pequenas.
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Robert também pode ampliar seu poder de fogo para usar outros tipos de arma, que podem auxiliar em umas batalhas contra chefes.
Hachi é o tanque do grupo, pode andar por espinhos sem problemas e sua armadura pode planar por alguns segundos, o que é excelente para pegar atalhos ou mesmo em certas lutas contra chefes.
Ele não possui nenhuma sub arma/habilidade, mas pode ativar uma invencibilidade temporária (dura enquanto durar a quantidade de sub armas) que aliado a sua grande barra de HP, pode ajudar a tankar diversas batalhas contra chefes. Assim como no primeiro jogo, existem duas dificuldades, a “Veteran”, onde existem menos checkpoints e o knockback, velho inimigo dos jogadores de Castlevania está lá para te jogar em abismos bem posicionados, além de quantidade limitada de vidas, e a “Casual”, onde há mais checkpoints, não tem knockback e as vidas são infinitas.
Mais dificil que o seu antecessor?
A questão é… O jogo está mais difícil que seu antecessor…
De fato, Bloodstained: Curse of the Moon 2 faz o primeiro jogo parecer um passeio no parque. Não entenda mal, a curva de dificuldade do jogo é justa, ela vai aumentando progressivamente de uma maneira orgânica, mas ainda assim, mesmo no Casual, o jogo vai te punir por seus erros. Spoilers do jogo adiante.
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Agora, quanto a mentira. A Inti havia dito no anuncio, que o jogo teria o mesmo tamanho do Curse of the Moon original, o que não é muito bem verdade. Assim como no primeiro, você encara logo de início, oito fases com seus chefes e no fim das três primeiras fases, recruta os três membros do grupo.
Chegando no fim da oitava fase e uma longa batalha, para salvar o grupo de um último ataque do boss, Dominique segura o ataque, para o grupo escapar e acaba sendo possuída pela entidade maligna ali presente.
Aí temos início ao Episódio 2, onde Zangetsu, Robert e Hachi partem rumo ao resgate de Dominique.
Tendo os três logo de cara (em especial o Hachi), abre novas rotas nas primeiras fases, algo essencial para coletar três itens, que levados a uma sala na quarta fase que irá apresentar uma cena e dará uma espada ao Zangetsu, necessária para o Good Ending do Episódio 2.
Só que não é tão simples, já que os chefes estarão mais agressivos do que no Episódio 1, com padrões mais erráticos e vai exigir um pouco mais de atenção para derrotá-los.
O Episódio 2!!
Após resgatarem Dominique, nossos heróis descobrem por ela que a situação é pior do que pensavam, já que o exército lunar (hein?), dominado pelos demônios, está prestes a invadir a Terra e que se quiserem salvar o dia, eles terão que ir até a Lua para resolver a parada (hein?).
Quase sem esperanças, Zangetsu é saudado por uma familiar voz: Alfred, que traz junto com ele, seus amigos de jornada, Miriam e Gebel, dando início ao Episódio Final.
No Episódio Final, você pode partir direto para a Lua, ou pegar os itens necessários para construir uma nave fortalecida que vai aguentar a jornada.
Nisso, você tem a chance de refazer mais uma vez as sete primeiras fases do jogo, recrutando novamente os membros da equipe. E finalmente aí, Miriam, Gebel e Alfred se tornam jogáveis, e eles funcionam exatamente como no Curse of the Moon original, com Miriam usando chicote, tendo pulo alto e a rasteira, o Gebel podendo se transformar em Morcego pra acessar locais antes inacessíveis e o Alfred. Sendo o Alfred e a única utilidade que você encontra pra ele é a Magia de Gelo.
As fases no Capítulo Final são desafiantes. Ou a menos a princípio, porque você estará apenas com um companheiro ao lado. E as fases onde os companheiros estarão vem de forma aleatória (com exceção da quarta fase, onde não tem ninguém), então pense bem por onde começar.
Porque sim, no Episódio Final, você pode escolher a fase que irá jogar, recrutando o membro que estiver nela. E é importante revisitar as fases para pegar os power-up’s que aumentam a energia e as sub-armas.
Após completar as fases, você partirá para a lua em uma nave.
Em um segmento de shoot’em up, numa homenagem clara a Gradius (ou a Salamander/Life Force, visto que é um segmento vertical), clássico da Konami.
Por fim, a última fase, na Lua, é um estágio final melhor que o estágio final do Curse of the Moon original, e faz uso das habilidades dos personagens para estabelecer rotas únicas, culminando no confronto final que decidirá o destino da humanidade. Ou algo assim.
E como prêmio por terminar o jogo, você desbloqueia o modo Boss Rush e duas novas formas de se jogar com o Zangetsu, a Ultimate, na qual Zangetsu ganha um Dash, combos com a espada e um pulo duplo e a Static, na qual Zangetsu não recebe nenhum upgrade, sendo um desafio para quem já domina isso. Existem ainda duas rotas extras, caso queira ir atrás de outros troféus para platinar o jogo.
Por fim, a Jogabilidade foi refinada em relação ao primeiro jogo, a primeira vista parecem idênticos, mas nas pequenas minucias percebe-se o que foi melhorado, como por exemplo, o fato dos power-up’s serem compartilhados com o grupo (o aumento de HP é pro grupo e não pro indivíduo que pegou o power-up, por exemplo.).
Outra adição, foi a de um modo cooperativo local para dois jogadores, que no PS4 pode ser usado o acesso remoto (um jogador joga no Vita, o outro no PS4), no Switch, cada jogador usa metade do joycon e no PC por exemplo, pode ser usado o modo de tela compartilhada do Steam.
Retrocompetência audiovisual
O jogo usa o estilo gráfico dos jogos de NES, com as vantagens das máquinas de hoje.
Só que ao contrário dos Blaster Master Zero 1 e 2, que não se limitavam a paleta do NES na hora de mostrar suas cores, Curse of the Moon 2 ainda coloca algumas limitações nos sprites dos personagens. Inclusive essas limitações causaram a mudança de visual da Dominique (que em Ritual of the Night usa preto, aqui ela usa roupas predominantemente brancas).
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No geral, os gráficos do jogo são bastante agradáveis, com cenários variados e inimigos que em sua maioria se encaixam nos momentos específicos que estão. E se você procurar, ainda tem referências claras a maior inspiração, Castlevania.
Os Bosses, novamente, são grandes e vistosos, apesar de eu achar que em alguns padrões de ataque, a Inti exagerou um pouco (sim, lacraia de fogo, falo de você!). Um pequeno detalhe: O local onde se enfrenta o final boss do Episódio 2 é a sala de Save do Ritual of the Night.
Entre as fases, pequenos detalhes, como os personagens ao redor da fogueira, dão um charme único ao jogo, mostrando coisas como os heróis se aquecendo no frio, ou Hachi comendo uma taça de sorvete no calor.
A trilha sonora não tem Michiru Yamane como no primeiro, mas a dupla residente da Inti Creates, Ippo Yamada e Hiroyuki Sano dá conta, com melodias empolgantes e que casam com o clima gótico 8-bits pedido pelo jogo.
Pequenos detalhes foram reaproveitados do primeiro jogo, mas nada muito grande nem que faça a diferença. No geral, é uma trilha que dá pra curtir enquanto se joga (isso é, se você ainda não xingou cada desenvolvedor do jogo durante a jogatina).
Um Classicvania novinho, só pra você
Finalizando, vou começar com um desabafo aqui. Teve um tempo, onde eu estava completamente SATURADO de Metroidvanias, por onde você andava, um Metroidvania indie no PC. Ninguém queria copiar classicvanias, ninguém queria copiar o Ninja Gaiden clássico, só Metroidvanias.
As coisas mudaram um pouco, com The Messenger, Cyber Shadow, Oniken, Odallus e Panzer Paladin, que pegam inspiração em outros clássicos do passado, e a indústria indie agora tá focada em vomitar a maior quantidade de rogue-likes/rogue-lites possível. Enfim, Bloodstained: Curse of the Moon 2 é um excelente jogo e uma adição recomendada a biblioteca de qualquer tipo de jogador, seja retrogamer ou cara que curte jogos desafiantes. Se puder, compre.
Bloodstained: Curse of the Moon 2 está disponível para PC, Nintendo Switch, Playstation 4 e Xbox One.
A análise foi feita com base na versão de PS4, comprada por esse que vos fala.