Welcome Back | Reencarnando e fritando a cabeça
01/10/2021 0 Por Geovane SanciniVou ser honesto, como desenvolvedor (ainda que por hobby) de jogos, eu adoro game jams.
De certa maneira, elas estimulam nossa criatividade e nos preparam pra coisas que são comuns na indústria de jogos: Prazos apertados, temas específicos e poucos recursos. Claro, a primeira JAM que participei não era tão apertada assim nem tinha tão pouco tempo pra desenvolver, mas a parte de pouco recurso era bem real.
Enfim, lá no começo de 2017 eu participei de uma JAM (Finally Finish Something) e nesse período, desenvolvi a primeira versão de Wrestling & Romance. Apesar do jogo em si não ser nada demais (uma visual novel simplória), foi daí que eu comecei a escrever mais seriamente a ponto de publicar 3 livros na Amazon.
LEIAM – Máscara Ômega | Uma jornada de Sangue, suor e noites indo dormir 5 da manhã
Mas, não estamos aqui pra falar de mim, até porque eu sou péssimo nisso. O fato é que o jogo dessa análise, também se originou numa Game Jam, no caso em específico, um jogo surgido da Game Jaaj, que é uma Game Jam produzida pelo Youtuber Amdré Young, não só veio da Game Jam, como ele ganhou a quarta edição. Porém, no período entre a Game Jaaj 4 e o lançamento do jogo final, o Yugo Anzai lançou um outro jogo que falamos aqui tempos atrás, no caso o puzzle 112th Seed, que foi publicado pela EastAsiaSoft para consoles.
Welcome Back chegou agora em outubro ao Steam e será que ele vale a pena?
Você morreu. Hora de reencarnar
Você é um aspirante a programador que está trabalhando em algo numa Game Jam, a pessoa que você gosta lhe diz, preocupada, que você precisa de um descanso. Você não descansa, até que do nada, você tem um ataque cardíaco e morreu. Fim. Não, sério, você morreu. De verdade, pode ir embora, o texto acabou.
…
Ainda não foi?
…
Tá bom, mas de fato, você morreu. E você deve estar se perguntando agora. “Por quê esse gordo tá se referindo ao personagem jogável como ‘você’?”. A resposta é clara, jovem mancebo. Você escolhe o nome do seu personagem, e o nome da pessoa que você gosta. Namorada, esposa, aquela menina que você tava a fim no ensino médio, mas nunca falou nada por conta de sua timidez e ansiedade exageradas, não importa. Você morreu.
Porém, Deus, ou melhor, DEUS (sim, em Caps) em toda sua malemolência, diz que você tem uma chance de reencarnar. Só que para reencarnar, sua alma precisa reencarnar em cinco animais diferentes e passar por provações que o façam ser digno de ser humano novamente.
LEIA TAMBÉM: 112th Seed | A Semente da Salvação
Então, entre tiradas de sarro com DEUS e piadas ruins, é hora de encarar a tarefa da reencarnação, nem que para isso você tenha que utilizar seu cérebro.
Seus inimigos são suas armas… Literalmente
O jogo foi desenvolvido pra Game Jaaj 4 cujo tema era, seus inimigos são suas armas, e é essa a raiz da jogabilidade de Welcome Back, só que não é só aprender como o jogo funciona, porque como disse, são cinco etapas para a reencarnação e cada etapa possui uma jogabilidade completamente diferente da outra, sem sair da temática de usar os inimigos como armas.
Em uma etapa, você pode absorver alguns inimigos (meio a la Kirby) e jogá-los contra espinhos (ou outros inimigos), em uma, você tem que mover dois personagens ao mesmo tempo (com WASD e teclas direcionais), em outra você se utiliza de teias para passar os obstáculos e fazer com que as aranhas colidam entre si, em uma, você rebate os inimigos contra os espinhos em um autoscrollers e na quinta etapa, você pode congelar os inimigos e utilizá-los como plataforma (e matar outros inimigos, se o inimigo congelado cair em cima deles depois de você utilizá-los como plataforma).
VÃO ASSISTIR – Cyberpunk 2077 – Parte 11: Ajudando os amigos
Cada etapa possui uma quantidade de fases com dificuldade crescente (mas nada tão difícil), e em algumas fases, existem uns cristais verdes, que de acordo com DEUS, você deve ignorar, não precisa pegar (que em termos de videogame significa que você DEVE PEGÁ-LOS).
Assim como 112th Seed, você não vai demorar pra pegar a manha de como funciona o jogo e chegar até o fim da quinta área. E é aí que outra coisa do jogo surge, os finais múltiplos. Você pode escolher seguir as ordens de DEUS e não utilizar os cristais verdes, ou você pode fazer, tal qual o Hitoshura fez em Shin Megami Tensei III: Nocturne, não obedecer DEUS, usar os cristais verdes para…
Entrar em uma nova etapa, na qual devemos enfrentar DEUS, que possui o auxílio de naves espaciais. Aqui, é onde entram os verdadeiros elementos de puzzle do jogo, mas ainda na temática “inimigos como armas”. DEUS possui naves saídas de algum shooter, e você deve posicionar os cristais para rebater o tiro das naves para que eles acertem DEUS.
Os cristais podem vir tanto como um quadrado como um losango e isso interfere no ângulo em que as balas serão rebatidas, então vai ser muito na base da tentativa e erro (to fazendo parecer dramático, eu sei, mas é porque eu sou burro mesmo), digo, com calma e cálculo, isso.
Visual simples, limpinho
A pixel art de Welcome Back é simples e o jogo pode até usar azul demais pro meu gosto (ei, preciso de espaço pra jogar minhas piadas), mas isso não quer dizer necessariamente algo ruim.
Cada etapa da reencarnação, traz não somente mecânicas únicas, mas elementos únicos, você não vai ver inimigos se repetindo de uma etapa pra outra, mesmo na que controlamos um cardume de peixes (que possui só 2 fases), os inimigos são únicos em relação aos outros.
A parte sonora do jogo serve apenas como complemento pra mecânica do jogo, não sendo necessariamente ruim, mas não sendo o tipo de música que vai ficar na sua cabeça. Sei que quando falo de música, eu sou direto e falo pouco, mas é que usualmente eu não fico impressionado com facilidade NESSE departamento.
Veredito final
Considerando que é um jogo curto, feito (originalmente) em quinze dias pra uma Game Jam, Welcome Back entrega uma experiência de jogo sólida e criativa, valendo cada minuto jogado (exceto pela parte em que eu pensei que no estágio 4 da primeira reencarnação eu precisava matar todos os inimigos e não só os que tinham brilho de estrelinha em volta, aquela parte do meu playthrough foi burra demais até pros meus padrões). Então, se a oportunidade surgir (e a grana permitir), recomendo a compra do jogo sem pensar duas vezes.
Welcome Back está disponível para PC.
—
Essa análise foi feita com uma cópia digital de PlayStation 4 gentilmente cedida pela Slider Games
Sobre o Autor
Geovane, mais conhecido como Sancini (ou Kyo, se você for velho o suficiente pra lembrar do nick antigo dele) é um escritor e speedrunner que joga videogames desde que se entende por gente.